VÍTIMAS BOATE KISS: conheça sobreviventes do incêndio da Boate Kiss em Santa Maria
Tragédia da Boate Kiss aconteceu no dia 27 de janeiro de 2013 e matou mais de 200 pessoas em incêndio
*Conteúdo Sensível: Esta matéria pode ser sensível para algumas pessoas.
Nesta sexta-feira (27), o incêndio da Boate Kiss completa 10 anos e ainda assombra a cidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul.
Em 27 de janeiro de 2013, ocorria a festa Agromerados na casa noturna, organizada por universitários da Universidade Federal de Santa Maria. Um membro da banda Gurizada Fandangueira acendeu um objeto pirotécnico durante o show e uma das faíscas atingiu o teto.
A espuma de isolamento acústico do local começou a queimar e uma fumaça tóxica passou a ser liberada. Com a superlotação e sinalização de emergência precária, as pessoas tiveram dificuldade em sair da Kiss.
O incêndio resultou na morte de 242 vítimas e mais de 600 feridas.
Conheça alguns sobreviventes da Boate Kiss
*Com informações da Agência Brasil
Gabriel Rovadoschi
Gabriel Rovadoschi tinha 18 anos e estava na companhia dos amigos quando ocorreu o incêndio.
“Eu coloquei a camiseta na frente da boca e do nariz. Tentei não respirar. Foi como se eu tivesse mergulhando", detalhou ao falar que precisou pisar em alguém caído no chão para fugir do local.
Gabriel não tem marcas e cicatrizes físicas da tragédia, porém precisou passar por sessões de terapia para lidar com o trauma e culpa de sair, enquanto outros não conseguiram.
Atualmente, ele é psicólogo e presidente da Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM).
Kelen Ferreira
Na época, Kelen Ferreira era estudante de Terapia Ocupacional e estava na Kiss com duas amigas.
Durante o incêndio, ela foi arrastada, mas a sandália ficou presa e estrangulou o tornozelo.
Kelen foi a primeira pessoa a ser socorrida, porém acabou tendo uma necrose e precisou amputar a perna direita. Além disso, a jovem teve 18% do corpo queimado, o que resultou em marcas nos seus braços.
Após 78 dias internada, Kelen falou que vê a “a vida de forma diferente. Dou mais valor para minha família, meus amigos. Estou recomeçando a cada dia. A gente tem que continuar a viver”.
Emanuel de Almeida
Emanuel de Almeida Pastl tinha 18 anos no dia 27 de janeiro de 2013 e comemorava o aniversário com o irmão gêmeo e amigos na boate Kiss.
Quando o incêndio começou, ele falou que não soou alarme ou luzes indicativas para a rota de saída de emergência. “Um estado insuportável. As pessoas entraram em pânico”, contou.
O sobrevivente disse que o local estava tão cheio que alguns amigos foram embora da festa antes do incêndio reclamando da quantidade de pessoas.
Do lugar que estavam, não visualizavam o palco e só começaram a correr quando viram a fumaça subir. Na correria, ele e o irmão se perderam, porém os dois conseguiram deixar a boate. Emanuel teve como sequela bronquiolite.
Delvani Brondani
No fim de semana da tragédia, Delvani Brondani estava com o seu irmão, Jovani, visitando os amigos na cidade. Ele é natural do município de Manoel Viana.
Em seu depoimento, o jovem, que tinha 21 anos na época, falou que quando o incêndio começou, eles deram os braços para andarem juntos. Porém o empurra-empurra os fez se separar e tentar sair do local cada um por si.
Delvani, entretanto, foi perdendo as forças enquanto tentava se salvar. “Enquanto fui caindo, fui me despedindo da minha família, dos meus amigos, pedindo desculpas por alguma coisa que eu tivesse feito. Senti meu corpo queimar, fui caindo e desmaiei”, lembrou.
O sobrevivente foi salvo pelo irmão, que conseguiu também tirar outras pessoas da boate. Delvani e Jovani, porém, acabaram perdendo três amigos, Henrique, Cássio e Jacob.
O jovem passou 2 meses internado, emagrecendo 20 kg e precisando reaprender a fazer coisas básicas, como caminhar e se alimentar. Atualmente, ele ainda possui marcas nos braços e nas costas.
Jéssica Montardo
Jéssica Montardo Rosado estava com o irmão, Vinícius, e amigos na Kiss para assistir ao show da Gurizada Fandangueira.
Em seu depoimento, ela disse não lembrar do percurso para sair da boate durante o incêndio, porém recordava de estar apavorada com tanta gente em sua volta e chegou a ligar à família, preocupada com o irmão.
Vinícius, infelizmente, não sobreviveu ao incêndio. Ele tinha 26 anos na época e ajudou a salvar outras vítimas, porém faleceu no hospital.
“Meu irmão era um gigante solidário. Ele jamais seria o mesmo se tivesse voltado para a casa e não tivesse ajudado ninguém, vendo a magnitude que foi”. falou Jéssica, afirmando que os bombeiros pediram que ele não entrasse na boate.
Kátia Pacheco
Kátia Pacheco Siqueira trabalhava na cozinha da Kiss na época da tragédia. Ela contou que, em dado momento da noite, faltou luz e algumas pessoas falaram que se tratava de briga. Já era, no entanto, o incêndio.
A trabalhadora tentou sair, porém havia muitas pessoas e a situação fez com que ela desmaiasse e só conseguisse se salvar depois de acordar. "Tentaram me puxar e não conseguiram. Agarrei nas pernas de uma das pessoas. Foi quando fizeram força para me puxar", disse.
Kátia foi encaminhada para o hospital, onde acabou tendo falta de ar e desmaiou novamente. Ela acordou 21 dias depois em um hospital em Porto Alegre. Em razão do incêndio, teve 40% do corpo queimado e precisou passar por 5 cirurgias de enxerto de pele e diversas cirurgias reparativas.
"Quando me perguntavam o que eram as queimaduras no braço, eu dizia que foi só um acidente. Só queria esquecer o que aconteceu", comentou sobre os traumas da tragédia, que foram tratados em sessões psicológicas e psiquiátricas.
MINISSÉRIE da NETFLIX vai contar sobre o INCÊNDIO na BOATE KISS