CHACINA EM SÃO JOÃO

Sem transparência, Polícia Civil não comenta fim da investigação da chacina em São João

Cinco pessoas foram assassinadas e outras cinco ficaram feridas no dia 26 de janeiro

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Raphael Guerra

Publicado em 13/02/2023 às 12:54 | Atualizado em 13/02/2023 às 18:07
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A gestão mudou, mas a falta de transparência na Polícia Civil de Pernambuco ainda permanece. Uma semana após o inquérito da chacina de São João, no Agreste de Pernambuco, ser enviado ao Ministério Público, nenhuma informação foi repassada à imprensa sobre o caso. 

Na chacina, ocorrida no dia 26 de janeiro, cinco pessoas foram mortas e outras cinco ficaram feridas. Entre as vítimas, havia uma bebê de 2 anos. 

Desde a semana passada, a Coluna Segurança solicita à assessoria da Polícia Civil:

O número de suspeitos indiciados;

O número de suspeitos presos;

O número de suspeitos foragidos;

Os crimes pelos quais esses suspeitos vão responder.

Nenhum dos e-mails encaminhados foi respondido pela assessoria da Polícia Civil, apesar de se tratarem de perguntas básicas sobre um inquérito já finalizado. 

VEJA O QUE JÁ SE SABE SOBRE A CHACINA EM SÃO JOÃO

Investigações apontaram que um homem que cumpre pena em um presídio de Pernambuco deu a ordem que resultou na chacina. O preso, cujo nome está sendo mantido sob sigilo pela polícia, determinou o assassinato de Lucas Pereira Andrade, de 23 anos - uma das vítimas da chacina.

Isso porque, no dia 20 de janeiro, Lucas teria cometido um homicídio contra um homem que fazia parte do grupo desse detento. 

Conforme explicado pela chefe da Polícia Civil, Simone Aguiar, em coletiva realizada um dia após a chacina, existe uma disputa entre grupos rivais pelo domínio do tráfico de drogas na região. 

"O alvo era o Lucas, conhecido como Lú, que é traficante de drogas. Infelizmente, ele estava naquele local e os inocentes foram atingidos", disse Simone.

VEJA VÍDEO DA CHACINA:

Imagens de câmeras de segurança mostraram o momento em que sete homens armados se aproximaram das pessoas que estavam em um ponto de venda de espetinho, na Avenida Coronel João Fernandes, no centro de São João. O grupo já chegou atirando. Além das cinco pessoas mortas, outras cinco ficaram feridas.

Além do Lucas, morreram: Vinícius Ravelly Ferreira Cavalcante, 27 anos; Valderlan Vinícius Bezerra Alves, 27; Durval Roberto Pereira Neto, 21; e Maria Sophia Gonçalves da Silva, 2.

REPRODUÇÃO
Imagens de câmeras de segurança mostram a fuga de criminosos após os tiros - REPRODUÇÃO

TRÊS SUSPEITOS TIVERAM PRISÕES DECRETADAS

Dos cinco detidos logo após a chacina, três foram autuados em flagrante e tiveram as prisões decretadas, em audiência de custódia, pela Justiça. Dois foram ouvidos e liberados pela polícia, mas seguiam sendo investigados. Três armas de fogo apreendidas passaram por perícias. 

Os nomes e idades dos suspeitos não foram divulgados pela polícia. O inquérito foi sendo conduzido pela 22ª Delegacia de Polícia de Homicídios – Garanhuns.

Denúncia do Ministério Público

Na tarde desta segunda-feira (13), o Ministério Público informou que remeteu à Justiça denúncia contra o mandante e cinco executores da chacina. 

Todos foram denunciados pela prática de cinco homicídios qualificados consumados (dos quais, quatro por motivo torpe e utilizando de meio que impossibilita a defesa à vítima; e um por motivo torpe, uso de meio que impossibilita a defesa à vítima e contra menor de 14 anos) e mais cinco homicídios qualificados tentados.

Agora, a Justiça vai decidir se aceita a denúncia e os acusados se tornam réus no processo. 

 

A descoberta de que o crime foi praticado por ordem de um detento reforça o que todos já sabem: o sistema prisional pernambucano continua sem controle do Estado. Mesmo atrás das grades, presos continuam se comunicando e dando ordens livremente a outros criminosos. 

SÓ 2 PMS FAZIAM SEGURANÇA NA CIDADE NO MOMENTO DA CHACINA 

Só havia dois policiais militares fazendo a segurança do município de São João enquanto ocorria a chacina. 

A Coluna Segurança teve acesso à escala de plantão da PM. Nela, constam os nomes de um sargento e de um soldado. 

O documento é uma prova do que há muito vem sendo denunciado pela população, principalmente quem vive nas cidades do interior: falta policiamento nas ruas para garantir a segurança. 

Segundo a Polícia Militar de Pernambuco, faltam 10.950 profissionais na corporação. Deveriam ter 27.672 PMs na ativa, mas só há 16.722. Os dados foram atualizados em julho de 2022.

GUERRA DO TRÁFICO DE DROGAS NO AGRESTE

A chacina no município de São João é uma tragédia anunciada. O crescimento dos assassinatos na região vem sendo observado pela polícia desde o final de 2021. E a guerra entre grupos rivais pelo domínio do tráfico de drogas é a principal motivação para tantos crimes. 

São João tem cerca de 23 mil habitantes, segundo estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Só no ano passado, oito assassinatos foram somados pela polícia. Desse total, quatro foram no último mês de dezembro - o que já chama a atenção para a tendência de avanço da criminalidade e necessidade de mais reforço de policiamento.

O município de Garanhuns, vizinho a São João, também apresentou crescimento de homicídios. Foram 65 assassinatos em 2022. Ao longo de todo o ano de 2021, foram 46 mortes. Lá, como a polícia já confirmou, o problema está na disputa por território para venda de drogas. 

Na região do Agreste de Pernambuco, 841 homicídios foram registrados no ano passado. Já em 2021, foram 771. Operações de repressão qualificada foram realizadas pela polícia ao longo de 2022, mas não foram suficientes para diminuir a violência e evitar a chacina. 

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