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PCC MORO: Veja detalhes do plano para libertar Marcola e atacar Sergio Moro

Os atentados contra autoridades como o ex-juiz Moro era chamado de Plano B do PCC

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Amanda Azevedo

Publicado em 23/03/2023 às 19:43 | Atualizado em 23/03/2023 às 19:53
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Da Estadão Conteúdo 

Era janeiro quando o promotor Lincoln Gakiya e o procurador-geral de Justiça de São Paulo, Mário Luiz Sarrubbo, desembarcaram em Brasília. Levavam as informações bombásticas de uma testemunha protegida localizada pelo Grupo de Atuação Especial e Repressão ao Crime Organizado (Gaeco): o senador Sergio Moro (União Brasil-PR) e sua família estavam sendo seguidos pelo PCC.

Havia seis meses que os bandidos comandados por Janeferson Aparecido Mariano, conhecido como Nefo ou NF, receberam a ordem para monitorar o alvo. A ação era do Sintonia Restrita, o setor de operações especiais do PCC.

O PLANO DO PCC PARA ATACAR MORO

Alugaram chácaras na região de Curitiba - em uma delas foi construída uma parede falsa em um dos cômodos para esconder armas e dinheiro. Nefo também alugou uma casa perto da residência dos Moro e uma sala comercial ao lado do escritório político do senador, em Curitiba.

Os bandidos fotografaram o cotidiano de Moro, sua mulher, a deputada federal Rosângela Moro (União Brasil-SP), e os dois filhos do casal. Escola, academia, compras e reuniões: tudo foi acompanhado pelos bandidos.

O grupo contava ainda com Reginaldo Oliveira de Sousa, o Rê, integrante da Sintonia Final dos 14, o grupo responsável pelas ordens aos faccionados em liberdade. Eles teriam providenciado carros blindados para a ação.

PF PRENDE INTEGRANTES DO PCC QUE PLANEJAVAM MATAR AUTORIDADES

Investigadores do caso desconfiam que toda a vigilância sobre a família Moro tinha como mais provável objetivo o sequestro do senador, da deputada e dos filhos, que seriam mantidos reféns em uma das chácaras, para obrigar o Estado a negociar a libertação de Marcola ou sua retirada do sistema penal federal.

"O resgate de Marcola é questão de honra para o PCC. Dinheiro tem de sobra", afirmou o promotor Gakiya ao Estadão.

Gakiya era outro dos alvos do plano do PCC, ao lado de agentes penitenciários e policiais de Mato Grosso do Sul e de Rondônia.

 

José Antonio Teixeira/Alesp
Mario Sarrubo e Lincoln Gakiya - José Antonio Teixeira/Alesp

O ataque às autoridades era o chamado Plano B da facção. Ele estava pronto para ser executado quando o promotor e Sarrubbo chegaram a Brasília. Além de informar a cúpula da PF sobre o caso, os dois também avisaram a Polícia Legislativa. Foi quando Moro e sua mulher souberam que eram o alvo dos bandidos e passaram a ser escoltados.

"Nós acreditamos que ele (o plano) só não foi posto em prática porque faltou a ordem do Marcola", afirmou o promotor.

Após o alerta dado pelo promotor, a PF passou a monitorar números de telefones e obteve quebras de sigilo para identificar os envolvidos na operação e localizá-los. Antes disso, há dois meses, um dos principais implicados na ação foi detido em São Paulo pelos homens das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) Era Valter Lima Nascimento, o Guinho, outra liderança da Sintonia Restrita.

É Gakiya quem explica o que é a tal sintonia: "Eles são responsáveis apenas por assassinatos e resgates. Não se envolvem em outras atividades, exceto o tráfico de drogas."

Nefo e Ré foram presos nesta quarta-feira, 22, durante a Operação Sequaz, da PF. O primeiro estava na região de Campinas, no interior, e o segundo, na Baixada Santista, um das mais importantes rotas do Tomate, como é chamado o tráfico internacional de drogas da facção.

Em nome de laranjas e familiares, Nefo teria um patrimônio que inclui lancha, carros importados e imóveis. "Coisa de milhões", contou o promotor.

Os atentados contra autoridades como o ex-juiz Moro e o promotor era chamado de Plano B na facção porque o Plano A - o objetivo principal dos bandidos - era o resgate de Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, líder da facção.

Há mais de um ano, a inteligência do Departamento Penitenciário Federal (Depen) e a PF acompanhavam as movimentações e diálogos mantidos por Marcola e outros presos da facção na penitenciária federal de Brasília.

ABr/Arquivo
Marcola é apontado como o chefe do Primeiro Comando da Capital, o PCC - ABr/Arquivo

O plano envolvia o treinamento de mercenários na Bolívia e arregimentação de integrantes do chamado Novo Cangaço para a invasão do presídio e resgate de Marcola.

Em razão da descoberta do plano, o Depen transferiu Marcola em março de 2022 para o presídio federal de Rondônia, onde a organização criminosa traçou um novo planejamento para a fuga de seu líder. Ao mesmo tempo, resolveu cobrar seus integrantes pelo fracasso da operação.

Marcos Roberto de Almeida, o Tuta, que tinha recebido a missão de libertar o chefe foi sequestrado na Bolívia, em maio de 2022, e levado a um tribunal do crime. Desde então, está desaparecido.

A responsabilidade para soltar Marcola passara, então, para Guinho e, depois, para Nefo. Marcola permaneceu em Rondônia até janeiro deste ano, quando foi trazido de volta à Brasília, após a conclusão da construção de uma muralha no presídio federal. Foi só então que a cúpula da facção teria começado a discutir a execução do plano B. Mas era tarde.

A ideia de apanhar Moro já havia chegado aos ouvidos do Ministério Público. Os investigadores do caso calcularam que a facção gastou cerca de R$ 5 milhões nos planos de resgate de Marcola - os Plano A e B.

ENTENDA A OPERAÇÃO SEQUAZ

A Operação Sequaz foi deflagrada pela Polícia Federal para desmantelar um plano que mirava o ex-juiz e agora senador Sergio Moro (União Brasil-PR).

A ofensiva ocorreu cerca de 45 dias após o início das investigações.

Investigações

A PF foi acionada pelo Ministério Público de São Paulo, que identificou risco à segurança de Moro e também do promotor de Justiça Lincoln Gakiya.

Mais de cem agentes foram às ruas cumprir 11 mandados de prisão em Mato Grosso do Sul, Rondônia, São Paulo e Paraná. O efetivo vasculhou 24 endereços.

Histórico

Então ministro da Justiça e Segurança Pública, Moro coordenou a transferência e o isolamento de lideranças do PCC para presídios federais, entre eles Marcola. Já Lincoln Gakiya integra o Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) e é responsável por investigações sobre a facção.

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