VIOLÊNCIA POLICIAL

'Cadê a justiça?' Mãe de garoto morto há 3 anos cobra punição de policial militar

Adolescente morreu durante uma abordagem em Jaboatão dos Guararapes. PM responde em liberdade pelo crime de homicídio

Raphael Guerra
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Raphael Guerra
Publicado em 07/08/2023 às 11:44 | Atualizado em 07/08/2023 às 15:13
ACERVO PESSOAL
Jhonny Lucindo Ferreira, 17 anos, foi morto com tiro efetuado por um PM em agosto de 2020 - FOTO: ACERVO PESSOAL

O sentimento de impunidade marca os três anos da morte do adolescente Jhonny Lucindo Ferreira, atingido por um tiro durante uma abordagem policial, no bairro de Prazeres, Jaboatão dos Guararapes, no Grande Recife. O policial acusado de homicídio segue em liberdade e ainda não foi julgado. 

Familiares e representantes de movimentos e organizações sociais farão um ato público, nesta terça-feira (8), para cobrar a conclusão do processo administrativo que segue a passos lentos na Corregedoria Geral da Secretaria de Defesa Social (SDS). 

"Cadê justiça? Nesse tempo todo, não tivemos nenhuma resposta. Meu filho era trabalhador, não cometeu crime. A gente precisa continuar cobrando para que a justiça seja feita", disse Maria Solange Pereira, mãe do adolescente que tinha 17 anos quando foi morto. 

De acordo com as investigações, Jhonny trabalhava como soldador numa oficina mecânica e estava indo de carona na moto de um amigo buscar uma ferramenta na casa da avó para consertar a máquina de lavar de uma tia na comunidade de Rio das Velhas, no dia 5 de agosto de 2020. 

No caminho, o garoto levou um tiro na nuca, sem qualquer chance de defesa, durante abordagem de policiais militares do 6° Batalhão. A cena foi presenciada por comerciantes e pessoas que circulavam pela rua. 

A versão do policial que disparou, acusando Jhonny de estar portando um simulacro de arma de fogo e ter colocado a vida dos agentes de segurança em risco, foi derrubada pelas investigações conduzidas pela 11ª Delegacia de Homicídios.

O PM, identificado como Adelmo José da Silva, responde por homicídio. O processo está em tramitação na Primeira Vara do Tribunal do Júri da Comarca de Jaboatão dos Guararapes, ainda na fase de ouvida de testemunhas. A próxima audiência de instrução e julgamento está marcada para o dia 7 de novembro. Só após isso, o juiz responsável vai decidir se o militar irá a júri popular. 

PM TAMBÉM RESPONDE A PROCESSO ADMINISTRATIVO 

O policial militar também responde a processo administrativo. Ao final, caso entenda que há provas suficientes da autoria no crime, a Corregedoria da SDS pode opinar pela expulsão dele da corporação. Só que três anos já se passaram e a decisão ainda não foi tomada. A decisão final caberá à secretária de Defesa Social, Carla Patrícia Cunha. 

O ato público, a partir das 10h desta terça-feira, será em frente à sede da Corregedoria, que fica no bairro da Boa Vista, área central do Recife. 

WELINGTON LIMA/JC IMAGEM
Familiares e amigos da vítima farão novo ato público, em frente à Corregedoria da SDS nesta terça-feira - WELINGTON LIMA/JC IMAGEM

Os processos criminal e administrativo estão sendo acompanhados pelo Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares (Gajop). Após o ato, os advogados da entidade de direitos humanos também farão uma reunião com representantes da Corregedoria para obter respostas administrativas sobre o caso.

"O encontro também servirá para cobrar a responsabilização do policial militar que proferiu os disparos. Apesar do longo tempo de espera, ainda não houve resolução processual no âmbito administrativo, nem no jurídico", reforçou o Gajop, em nota divulgada à imprensa. 

MÃE DO ADOLESCENTE PASSA POR DIFICULDADES

Em entrevista à coluna Segurança, um dia antes do ato público, a mãe de Jhonny fez um desabafo sobre as dificuldades que enfrenta desde a morte dele.

"Meu filho sustentava a casa, ajudava a pagar o aluguel. Hoje eu vivo apenas com os R$ 440 que ganho do Bolsa Família. Só Deus sabe o que estou passando", contou Maria Solange Pereira, que atualmente mora com mais dois filhos. 

Ela disse ainda que, ao longo dos últimos três anos, não recebeu ajuda do governo estadual e que uma ação está sendo movida na Justiça para pedir uma indenização. "Ninguém nunca me procurou para ajudar. Quem me ajuda são os vizinhos. Às vezes me dão ossos para fazer sopa, às vezes pagam o gás (de cozinha)", afirmou.  

O QUE DIZ A SECRETARIA DE DEFESA SOCIAL?

Na manhã desta segunda-feira (7), a coluna entrou em contato com a assessoria da SDS pedindo uma atualização sobre o andamento do processo administrativo contra o policial militar acusado pelo homicídio. 

Até a publicação, a assessoria ainda não havia se pronunciado. Caso a resposta seja enviada, o texto será atualizado. 

MORTES EM AÇÕES DA POLÍCIA CRESCEM EM PERNAMBUCO

As mortes em ações da polícia estão crescendo em Pernambuco. No primeiro semestre de 2023, segundo dados divulgados pela SDS, 69 pessoas vieram a óbito. O maior número de casos foi na capital (11). Em segundo, apareceu Jaboatão dos Guararapes (9).

No mesmo período do ano anterior, 51 mortes em intervenções policiais foram registradas no Estado. Isso significa que houve um aumento de 35,29% nos casos registrados.

Se o resultado do primeiro semestre deste ano for comparado com o mesmo período de 2021 (quando 43 óbitos foram somados), observa-se um crescimento de 60,4%. 

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