CASO VICTOR KAWAN

"A dor que a gente sente não passa", diz pai de garoto morto por policiais no Recife

Dois policiais militares foram denunciados por homicídio duplamente qualificado. O MPPE também pediu à Justiça a prisão preventiva deles

Raphael Guerra
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Raphael Guerra
Publicado em 11/10/2022 às 18:42 | Atualizado em 11/10/2022 às 18:45
ALEX OLIVEIRA/JC IMAGEM
PERSEGUIÇÃO Victor Kawan foi morto em Sítio dos Pintos, no Recife - FOTO: ALEX OLIVEIRA/JC IMAGEM
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A família do adolescente Victor Kawan Souza da Silva, de 17 anos, que foi morto no bairro de Sítio dos Pintos, Zona Norte do Recife, em dezembro de 2021, falou pela primeira vez sobre a conclusão das investigações.

Durante uma coletiva de imprensa, na manhã desta terça-feira (11), os pais do garoto negro disseram ter ficado satisfeitos com a decisão do Ministério Público de Pernambuco (MPPE) de denunciar dois policiais militares por homicídio doloso duplamente qualificado (motivo torpe e sem chance de defesa da vítima), conforme a coluna Ronda JC revelou, em primeira mão, na semana passada. 

"Eu queria que nada disso tivesse acontecido. A dor é grande. O choro, a lágrima corre nos meus olhos. Ele (Victor) era um cidadão, mas a vida dele foi tirada de forma bruta, covarde. Era um menino de 17 anos, que trabalhava à noite. A gente agora está esperando a conclusão de tudo. É uma esperança, é mais um passo. Mas a dor que a gente sente não passa", disse o pai do adolescente, Luiz Amâncio.

Segundo testemunhas, Victor Kawan e um amigo andavam de moto quando passaram a ser seguidos pela viatura policial.Houve uma perseguição e, pouco depois, Victor, que estava na garupa, foi baleado no peito. Ele morreu na UPA da Caxangá. O amigo não foi atingido.

A Polícia Militar alegou que o tiro foi disparado porque, durante a tentativa de abordagem, os garotos teriam reagido. Mas a família negou a versão. Familiares do adolescente contaram, na época, que ele estava indo fazer um serviço de capinação em um terreno junto com o amigo.

O amigo de Victor acabou detido e a Polícia Militar afirmou, na época, que havia um revólver calibre 38 com seis munições. A investigação no entanto, também apontou que a vítima e o amigo não estariam com arma de fogo.

Os policiais militares denunciados foram identificados, segundo o MPPE, como José Monteiro Maciel de Lima e Clezya Patrícia de Souza Silva. Ambos do 11º Batalhão da Polícia Militar.

Na denúncia do MPPE encaminhada à Justiça, o promotor Eduardo Tavares de Souza destaca que os PMs realizaram uma abordagem "de forma extramente violenta, submetendo-os (Victor e o amigo) a intensos disparos efetuados com armas de fogo de grosso calibre e enorme potencial lesivo".

O promotor também solicitou à Justiça a decretação da prisão preventiva dos policiais. O pedido ainda está sendo analisado pela 2ª Vara do Tribunal do Júri Capital.

O promotor citou que, após a morte de Victor Kawan, os policiais tentaram "encobrir o que realmente aconteceu e dificultar a elucidação do caso, ambos fizeram manobras com o fim de fraudar eventual processo penal e induzir a erro o juiz da causa, inovando artificiosamente o estado de coisa e de pessoa".

"A justiça está sendo feita. A gente não vai desistir nunca", afirmou a mãe de Victor Kawan, Janaína Souza. Advogados do Gabinete Assessoria Jurídica Organizações Populares (Gajop) estão dando apoio jurídico e psicossocial à família. 

TV JORNAL/REPRODUÇÃO
Família de Victor Kawan, adolescente morto pela PM, fala pela primeira vez após denúncia do MPPE - TV JORNAL/REPRODUÇÃO

CORREGEDORIA

Além do processo criminal, os policiais militares também respondem a um procedimento administrativo disciplinar, que está sendo conduzido pela Corregedoria da Secretaria de Defesa Social (SDS). Não há prazo para conclusão.

A defesa dos dois policiais não foi encontrada para comentar o caso. 

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