VIOLÊNCIA

Servidores da Funase são afastados após adolescente ser morto com requintes de crueldade

Ministério Público afirmou que também está apurando as circunstâncias do óbito ocorrido em uma unidade com apenas 36 adolescentes

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Raphael Guerra

Publicado em 22/08/2023 às 15:25 | Atualizado em 22/08/2023 às 15:29
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Dois agentes socioeducativos e um coordenador da unidade da Fundação de Atendimento Socioeducativo (Funase) onde um adolescente foi assassinado com requintes de crueldade, no dia 10 de agosto, foram afastados das atividades. A informação foi divulgada pelo Ministério Público de Pernambuco (MPPE), que também apura as circunstâncias do óbito. 

O adolescente de 14 anos foi amarrado com lençóis e sofreu vários golpes no pescoço, possivelmente com o uso de uma faca, na Casa de Acolhimento Socioeducativo (Case) de Jaboatão dos Guararapes, no Grande Recife. 

No mesmo dia, seis adolescentes (um de 13, três de 15 e dois de 16) que cumpriam medida socioeducativa na unidade foram identificados como os autores da morte. Eles foram encaminhados ao Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), no Recife. Lá, foram autuados em flagrante por ato infracional equivalente ao crime de homicídio e foram encaminhados para o MPPE. 

A unidade, que tem capacidade para 72 vagas, contava com apenas 36 adolescentes do sexo masculino no dia da morte, o que chama ainda mais a atenção para a falta de controle dos profissionais para evitar atos de violência. 

Número mais atualizado da Funase, publicado nessa segunda-feira, apontou que havia 29 adolescentes na unidade. 

INVESTIGAÇÃO 

Por meio de nota, a 39ª Promotoria de Justiça de Defesa da Cidadania da Capital do MPPE declarou que instaurou uma notícia de fato com o objetivo de apurar as circunstâncias do óbito do socioeducando e a eventual responsabilidade de funcionários pelo ocorrido.

"Caso seja apurado que os agentes tiveram responsabilidade no ocorrido, a Promotoria irá encaminhar o caso à Central de Inquéritos", informou o MPPE. 

FUNASE GANHOU NOVA PRESIDENTE NO MÊS PASSADO

A morte do adolescente aconteceu menos de um mês após a Funase mudar de comando. No dia 20 de julho, a advogada e professora universitária Raíssa Braga tomou posse, em substituição a Nadja Alencar.

A nova diretora-presidente assumiu a missão de reestruturar as unidades socioeducativas, que, apesar de não estarem mais superlotadas, estão em condições precárias, com constantes casos de fugas em massa e sob denúncias de torturas envolvendo os agentes.

Vistorias que comprovaram o descaso, os maus-tratos e até ratos dormindo entre adolescentes que cumpriam medidas socioeducativas no Recife levaram o Ministério Público a pedir à Justiça, em 2021, o afastamento da então presidente da Funase Nadja Alencar. Mesmo assim, ela permaneceu no posto.

Com um total de 1.161 vagas nas unidades da Funase, o Estado tem hoje uma média de 576 socioeducandos. Ou seja, a taxa de ocupação não chega nem a 50%, bem diferente da realidade no começo da década passada.

De acordo com nota divulgada pela assessoria da Funase, Raíssa tem experiência prática voltada a várias frentes do sistema de Justiça desde 2010, destacando-se a atuação como escrivã da Polícia Civil de Pernambuco, na advocacia criminal e no sistema socioeducativo.

FUGAS EM MASSA NA FUNASE EM 2023

Os primeiros meses de 2023 foram marcados por fugas em massa nas unidades da Funase.

Em 4 de julho, oito adolescentes da unidade de Garanhuns, no Agreste, conseguiram fugir por uma das entradas. Um vídeo que circulou nas redes sociais mostrou o momento da fuga em massa. A PM conseguiu recuperar seis no mesmo dia.

Outras duas fugas - uma delas em massa - foram registradas pela Funase no Cabo de Santo Agostinho, no Grande Recife, entre o final de maio e começo de junho.

Na primeira, seis adolescentes do sexo masculino conseguiram fugir da unidade, que é historicamente marcada por rebeliões, mortes violentas e fugas.

Os socioeducandos saíram do centro pulando um muro de cerca de quatro metros.

Dos seis fugitivos, dois deles foram recapturados pela Polícia Militar.

Quatro dias depois, houve mais uma fuga. O adolescente que cumpre medida socioeducativa teria pulado o muro e saído da unidade com facilidade.

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