Entidades das polícias de Pernambuco veem mudanças na SDS com 'preocupação'
Delegada federal Carla Patrícia Cunha anunciou saída nessa quarta-feira (30). Associações cobram manutenção de diálogo com futuro gestor
Entidades ligadas às forças de segurança de Pernambuco demonstraram preocupação com o anúncio da saída da delegada federal Carla Patrícia Cunha da titularidade da Secretaria de Defesa Social (SDS). Nesta quinta-feira (31), a exoneração foi publicada no Diário Oficial do Estado, bem como a designação do também delegado federal Alexandre Alves, secretário-executivo, para comandar a pasta interinamente.
Por meio de nota pública, o Sindicato dos Policiais Civis de Pernambuco (Sinpol-PE) afirmou que recebeu a saída da secretária estadual "com muita surpresa e preocupação, já que ela era um dos poucos quadros do atual governo que investia no diálogo como forma de solucionar problemas e entraves históricos na segurança pública".
Nesse mês de agosto, entidades como o Sinpol-PE e a Associação de Cabos e Soldados comemoraram a criação de comissões permanentes de trabalho com a SDS para estabelecer um canal contínuo de diálogo e valorização das polícias Civil e Militar e do Corpo de Bombeiros. Com a saída de Carla, responsável pela criação das comissões, as associações esperam que não sejam criados obstáculos nesse diálogo pioneiro.
Em nota, o Sinpol-PE também destacou a demora para a implementação efetiva de ações do Juntos pela Segurança para combater os crimes no Estado.
"Estamos chegando no mês de setembro e não há absolutamente nenhum programa, discussão, implementação de uma reformulação efetiva na segurança pública que venha trazer resultados na prática. O tal programa Juntos Pela Segurança, que gerou uma série de expectativas na população e nas forças policiais do estado, na verdade não passou de um ato 'para inglês ver', apresentando-se como uma consulta pública que poderia ser feita digitalmente com a população e ouvindo os profissionais que estão na ponta, arriscando a vida sem estrutura ou valorização profissional, através de suas entidades de representação de classe", disse a entidade.
"Agora, a sensação é de 'começar do zero'. O novo secretário ou secretária levará tempo para adaptar-se, para tomar pé da situação e começar a implementar uma política de Estado que leve em consideração todo o cenário atual. Mas, não é só isso. Corremos o risco de retroceder e muito, a depender do nome que seja escolhido para substituir a delegada Carla Patrícia", afirmou o texto.
ASSOCIAÇÃO DE POLÍCIA CIENTÍFICA DIZ QUE NÃO FOI OUVIDA PELA GESTÃO DE CARLA PATRÍCIA
A presidente da Associação de Polícia Científica de Pernambuco (Apoc-PE), Camila Reis Baleeiro, declarou que vem acompanhando as movimentações no governo estadual e que a entidade não foi ouvida durante a gestão de Carla Patrícia Cunha, iniciada em janeiro deste ano, a convite da governadora Raquel Lyra.
"A gente aproveita esse momento para pedir à governadora que escolha como o seu próximo secretário uma pessoa que seja capaz de integrar as potencialidades de cada uma das operativas de segurança pública, incluindo a Polícia Científica dentro desse planejamento dos estudos e das estratégias para a redução da criminalidade", pontuou.
"A Polícia Científica tem um potencial muito grande de contribuir com a redução dos crimes e também com o aumento da efetividade da punição de criminosos. A gente espera que nessa próxima gestão nós possamos ser contemplados não só nas questões de concurso, mas também na valorização do nosso corpo técnico e na participação ativa dos nossos servidores nas estratégias do governo", completou Camila.
SAÍDA DE CARLA PATRÍCIA CUNHA DA SDS
Em comunicado apresentado à governadora e a pessoas mais próximas com quem trabalhou nos oito meses à frente da SDS, Carla Patrícia afirmou que entregou o cargo por "questões pessoais".
Carla Patrícia foi a primeira mulher a assumir a pasta da segurança pública no Estado. Com a saída dela, após oito meses à frente da gestão, sobe para cinco o número de secretários estaduais que deixaram o governo de Pernambuco.
"Tomar decisões difíceis faz parte da dinâmica de quem busca atuar em prol da coletividade. Há alguns meses, decidi fazer parte da equipe de secretários de Pernambuco para ajudar o Estado a percorrer a importante, porém árdua, tarefa de cuidar da segurança", disse trecho de comunicado.
"À frente da Secretaria de Defesa (Social), posso dizer que contei, diariamente, com a competência e a dedicação das forças de segurança pública de Pernambuco. É especialmente a esse time que agradeço depois de conviver oito meses buscando o mesmo objetivo: trazer mais segurança para a sociedade como um todo, tendo a preocupação de olhar também para melhores condições de trabalho", afirmou outra parte da mensagem.
"Hoje - exclusivamente por questões pessoais - tomo mais uma decisão difícil que é deixar a Secretaria. Agradeço à governadora Raquel Lyra por me confiar tão importante missão e sigo torcendo para que a equipe continue se dedicando ao povo pernambucano", completou a mensagem.
A governadora Raquel Lyra se pronunciou sobre a saída de Carla Patrícia apenas por meio da rede social X (antigo Twitter), na noite da quarta-feira.
"Agradeço à Carla Patrícia por ter se dedicado à missão de comandar até hoje a Secretaria de Defesa Social. O combate à criminalidade e à violência são prioridade do nosso governo. O trabalho segue adiante. Vamos construir um Pernambuco mais seguro para todos."
Nenhum comunicado oficial, via e-mail, como foi feito com os outros secretários substituídos, foi enviado à imprensa pelo governo estadual.
COMBATE À VIOLÊNCIA EM PERNAMBUCO
A saída de Carla acontece quase um mês após o governo estadual anunciar as principais diretrizes do Juntos pela Segurança, em substituição ao Pacto pela Vida. A nova política segue na fase de construção, com oficinas e consulta pública da sociedade.
A promessa de Raquel Lyra é apresentar, até o final de setembro, a nova política de segurança para reduzir os números violência que seguem altos em Pernambuco.
Em julho, 309 pessoas foram vítimas de mortes violentas - um aumento de 26,6% em relação ao mesmo período do ano anterior, quando 244 ocorrências foram registrados.
Na Região Metropolitana do Recife, o aumento de crimes contra a vida foi bem acima da média do Estado. Ao todo, em julho, 143 pessoas foram mortas. Já no mesmo período do ano passado, foram 98. O crescimento chegou a 45,9%.
No acumulado dos sete primeiros meses do ano, Pernambuco somou 2.101 mortes. Três a menos do que no mesmo período de 2022.