Após um mês, incêndio em depósito de armas da Polícia Civil de Pernambuco não foi esclarecido
Investigação precisa esclarecer se incêndio foi criminoso e quem foi o responsável. Prédio já foi alvo de furto de milhares de armas e munições
Mais de um mês após o incêndio em um prédio da Coordenadoria de Operações e Recursos Especiais (Core) da Polícia Civil de Pernambuco, no bairro da Joana Bezerra, área central do Recife, as investigações ainda não foram concluídas. É preciso esclarecer se a ação foi criminosa e quem teria sido o responsável.
O fogo começou em uma sala que funcionava como depósito de armas e munições, na manhã do dia 11 de setembro. Vários materiais foram arremessados com a explosão, inclusive balas. De acordo com a Polícia Civil, no local havia apenas armas e munições decorrentes de apreensões, como espoletas usadas em espingardas artesanais (soca-soca). O material seria destruído junto ao Exército.
O material que pegou fogo foi apreendido pela polícia na cidade de Caruaru, no Agreste do Estado, durante uma operação que fechou uma fábrica clandestina de munições e armas em dezembro do ano passado.
O arsenal da própria polícia atualmente fica guardado em um complexo policial localizado no bairro de Ouro Preto, em Olinda.
SILÊNCIO SOBRE INVESTIGAÇÕES DE INCÊNDIO
Sobre as investigações do incêndio, a Polícia Civil só se pronunciou por meio de nota oficial. No texto, declarou que o caso "segue em investigação pelo Departamento de Repressão aos Crimes Patrimoniais (Depatri), tendo sido designado especialmente o seu gestor, delegado especial Paulo Berenguer. Mais informações não podem ser fornecidas".
Berenguer também foi procurado pela reportagem, mas afirmou que não tinha autorização para falar sobre a investigação em andamento e não confirmou se o laudo da perícia que vai indicar se o incêndio foi criminoso estava finalizado. Disse apenas que testemunhas estão sendo ouvidas.
PRÉDIO TEM HISTÓRICO DE INCÊNDIOS E FURTO DE ARMAS E MUNIÇÕES
A preocupação das autoridades em relação à suspeita de um possível incêndio criminoso tem relação com o histórico do prédio da Core. Em 2021, a polícia descobriu um forte esquema de furto de armas de fogo (incluindo até submetralhadoras) e munições que ficavam guardadas em um depósito da unidade.
A investigação apontou que policiais civis da Core eram os responsáveis pelo desvio e venda esses materiais para integrantes de facções criminosas que agem em Pernambuco. Ao todo, 20 pessoas foram indiciadas pela acusação de envolvimento na atividade criminosa.
No inquérito, também foi descoberto uma tentativa de incêndio na mesma sala que funcionava como depósito. A polícia acredita que foi uma forma encontrada pelos acusados para tentar impedir que os investigadores descobrissem os desvios de armas.
Além disso, há histórico de dois outros incêndios na Core. O primeiro ocorreu em 15 de setembro de 2010. Além do depósito de armas, as chamas atingiram um prédio de dois andares, onde funcionavam delegacias (uma delas era a Antipirataria, que depois mudou de endereço).
Na ocasião, a Secretaria de Defesa Social (SDS) confirmou que o fogo havia começado no depósito e que rapidamente se alastrou, mas alegou que as armas foram tiradas a tempo e que outras estavam guardadas dentro de um cofre, que ficou intacto.
O segundo incêndio no mesmo depósito ocorreu em janeiro de 2012. O fogo destruiu o espaço, que, segundo a polícia, contava com cerca de uma tonelada de munições para espingarda.
Em ambos os casos, as investigações não teriam apontado que os incêndios foram intencionais.