Delegados de Pernambuco citam falta de diálogo e ameaçam entregar plantões
Em meio ao aumento das mortes violentas no Estado, categoria fará assembleia extraordinária na próxima semana para definir ações
A crise na segurança pública de Pernambuco pode se agravar na próxima semana. Em meio ao aumento das mortes violentas, os delegados afirmam que falta diálogo com o governo do Estado e ameaçam parar de participar dos plantões. A Associação dos Delegados e Delegadas de Polícia de Pernambuco (Adeppe) marcou para o dia 24 uma assembleia extraordinária.
A categoria, que pleiteia aumento salarial e melhorias nas condições profissionais, vai definir as ações de mobilização como forma de pressionar a retomada das mesas de negociação com o governo estadual.
De acordo com o presidente da Adeppe, Diogo Victor, em julho desse ano ficou acertado, na Secretaria Estadual de Administração, que as mesas de negociação específicas seriam retomadas no início de setembro, após a conclusão da mesa geral dos servidores, ocorrida em agosto. Entretanto, até o momento, não houve continuidade do que foi estabelecido, segundo ele.
ENTREGA DE PLANTÕES
Assim como ocorreu em 2016, resultado em transtornos por causa da interrupção de serviços no Estado, os delegados irão avaliar na assembleia extraordinária se entregam os cargos de chefia e os plantões voluntários (Programa de Jornada Extra de Segurança), que são necessários - principalmente à noite e nos fins de semana - por causa do déficit de profissionais.
Na pauta, os delegados também vão decidir, por exemplo, se não participarão do novo plantão da Delegacia da Mulher do Cabo de Santo Agostinho, anunciado pela governadora Raquel Lyra no mês passado. Se isso ocorrer, a unidade policial continuará só funcionando de segunda à sexta-feira, no horário comercial.
"Não há norma que obrigue um delegado a fazer plantão extraordinário, nem mesmo uma deflagração de uma Operação de Repressão Qualificada. Os delegados fazem por terem compromisso com a sociedade e com a cidade em que trabalham", declarou o presidente da Adeppe.
A coluna Segurança encaminhou pedido de posicionamento à Secretaria Estadual de Administração. Quando a resposta for enviada, esse texto será atualizado.
CONCURSO NÃO VAI ENCERRAR DÉFICIT HISTÓRICO
Outra questão já denunciada pela Adeppe é o déficit de profissionais da segurança pública. Levantamento recente da Adeppe apontou que ao menos 56 delegacias, todas no interior de Pernambuco, estão sem delegados titulares. Outras 13 delegacias ainda não foram instaladas por ausência de efetivo.
O governo estadual prevê concurso público para contratação de apenas 45 delegados. A primeira etapa de provas deve ocorrer em fevereiro de 2024.
MORTES EM PERNAMBUCO CRESCERAM PELO TERCEIRO MÊS CONSECUTIVO
A possibilidade de os delegados entregarem os plantões é ainda mais preocupante porque a violência cresceu nos últimos meses em Pernambuco. Além disso, o governo estadual ainda não apresentou o novo plano de ações que vai compor a política do Juntos pela Segurança - em substituição ao Pacto pela Vida. O anúncio deveria ter sido feito no final de setembro, conforme promessa da governadora Raquel Lyra.
Segundo as estatísticas da Secretaria de Defesa Social (SDS), 319 pessoas foram mortas em setembro de 2023. No mesmo período do ano anterior, foram somados 222 ocorrências. O aumento foi de 43,68%.
Em julho e agosto deste ano, estatísticas também indicaram crescimento dos crimes contra a vida.
No acumulado deste ano, 2.720 mortes já foram contabilizadas pela polícia. No mesmo período de 2022, foram 2.544. O crescimento é de 6,9%.
Quando se fala em mortes violentas, como elas atualmente são classificadas pela SDS, estão sendo englobados os crimes de homicídios, latrocínios, feminicídios, lesões corporais seguidas de morte e óbitos decorrentes de intervenções policiais.