Chacina em Camaragibe: 4 policiais vão prestar depoimento nesta segunda-feira (23)
Mulher grávida que teria sido feita de escudo humano morreu nesse sábado. Número de vítimas subiu para 9, e caso segue sob investigação da polícia
Após mais de um mês, a Polícia Civil de Pernambuco ainda não esclareceu quem foram os responsáveis pela sequência de assassinatos após as mortes de dois policiais militares que entraram em confronto com um suspeito no bairro de Tabatinga, em Camaragibe, no Grande Recife. Nesta segunda-feira (23), quatro PMs vão prestar depoimento na sede do Grupo de Operações Especiais (GOE), responsável pelo inquérito.
O caso volta aos holofotes após a confirmação da morte da mulher grávida que foi feita de escudo humano e acabou atingida com um tiro na cabeça na noite do dia 14 de setembro. Ana Letícia Carias da Silva, de 19 anos, faleceu nesse sábado (21), no Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip), na área central do Recife, onde deu à luz o bebê. O corpo dela será enterrado no Cemitério de Camaragibe, na tarde deste domingo (22).
Para os investigadores, nos bastidores, não há dúvidas de que há policiais militares envolvidos na sequência de seis assassinatos após as mortes de dois policiais em Tabatinga. Os depoimentos colhidos até agora, além dos resultados de algumas perícias, estão sendo fundamentais nessa identificação.
Em relação à motivação, a suspeita mais forte é de que a chacina ocorreu por vingança pelas mortes dos colegas de farda.
Em entrevista ao JC, na última semana, o secretário de Defesa Social, Alessandro Carvalho, foi questionado sobre a possível participação de policiais na chacina em Camaragibe e se há profissionais afastados das atividades após o caso. Mas ele alegou não ter conhecimento, ainda, do envolvimento de PMs.
"É prioridade do governo esclarecer e responsabilizar os envolvidos. O delegado Ivaldo Pereira é o encarregado e, tão logo conclua as investigações, nós daremos o retorno necessário à sociedade", afirmou.
O Ministério Público de Pernambuco (MPPE) também está acompanhando o caso.
ENTENDA A CHACINA EM CAMARAGIBE
A informação inicial repassada pela polícia, na época dos fatos, foi de que o soldado Eduardo Roque Barbosa de Santana, 33 anos, e o cabo Rodolfo José da Silva, 38, foram até Tabatinga verificar uma denúncia de que um homem estaria em cima de uma laje realizando disparos de arma de fogo.
Quando os policiais chegaram ao local, houve troca de tiros com o vigilante Alex da Silva Barbosa, que teria feito Ana Letícia de escudo humano.
Os dois PMs morreram, e Alex conseguiu fugir. Além de Ana, o primo dela (um adolescente de 14 anos) foi baleado, mas sobreviveu. Em depoimento, ele contou que foi agredido pelas costas e atingido com um tiro na nuca disparado pelos policiais.
Após a morte dos militares, começou uma sequência de assassinatos de parentes de Alex na madrugada do dia 15 de setembro.
Três irmãos de Alex identificados como Ágata Ayanne da Silva, 30, Amerson Juliano da Silva e Apuynã Lucas da Silva, ambos de 25, foram baleados por volta das 2h.
Ágata transmitiu ao vivo, por meio do Instagram, o crime. Ela e Amerson morreram na hora. Apuynã faleceu após ser socorrido e encaminhado para o Hospital da Restauração, no Recife.
Por volta das 9h do mesmo dia, os corpos da mãe de Alex, Maria José Pereira da Silva, e da esposa dele, Maria Nathalia Campelo do Nascimento, 27, foram achados num canavial na cidade de Paudalho, Mata Norte do Estado.
Duas horas depois, Alex foi morto em Tabatinga. A PM alegou que houve uma abordagem e que ele teria reagido, resultando na troca de tiros.
ALEX TINHA REGISTRO DA ARMA DE FOGO
Investigações apontaram que Alex não tinha antecedentes criminais. Ele tinha direito ao uso de arma de fogo porque estava registrado como vigilante no Sistema Nacional de Armas e tinha Certificado de Registro de Arma de Fogo (Craf), indicando ser proprietário de uma pistola.