VIOLÊNCIA

Disputa de terras é uma linha de investigação de assassinato de juiz em Jaboatão dos Guararapes

Semana começa com depoimentos de testemunhas e coleta de provas para esclarecer quem são os autores da execução do juiz Paulo Torres Pereira da Silva

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Raphael Guerra

Publicado em 22/10/2023 às 15:13 | Atualizado em 22/10/2023 às 17:33
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Apesar de a Polícia Civil afirmar que nenhuma linha de investigação está descartada, os indícios levam a crer que o juiz Paulo Torres Pereira da Silva, de 69 anos, do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE), foi vítima de uma execução. Hipóteses como tentativa de assalto ou crime praticado por engano estão quase fora do radar. Uma linha mais forte é a suspeita de que o assassinato tenha relação com o trabalho exercido pelo magistrado na 21ª Vara Cível da Capital, que julga processos de disputa de terras. 

A hipótese ganhou força entre os investigadores após relatos informais de parentes do juiz. Eles reforçaram que Paulo Torres era uma pessoa calma, aparentemente sem desafetos, e que fazia aquele mesmo percurso diariamente. No dia do crime, na noite da quinta-feira (19), ele teria ido caminhar na Praia do Paiva, no Cabo de Santo Agostinho. O assassinato aconteceu no retorno, a 300 metros de casa, na Rua Maria Digna Gameiro, no bairro de Candeias, em Jaboatão dos Guararapes. 

O tiro foi na cabeça, segundo a polícia. A vítima, após ser baleada, bateu com o carro em um muro. Os criminosos desceram do veículo onde estavam e seguiram armados até perto do juiz, possivelmente para verificar o óbito. Eles usavam máscaras cirúrgicas. 

Em entrevista ao jornal O Globo, na sexta-feira, o irmão do juiz, Eurico Torres Pereira da Silva, declarou acreditar que o crime tem relação com o trabalho desempenhado por ele. "Tenho certeza que meu irmão não se venderia. E apesar de trabalhar na área cível, ele atuava em casos de disputa de terras, que envolvem pessoas de poder."

A semana começa com depoimentos de testemunhas - entre familiares e colegas de trabalho do magistrado. A polícia quer entender melhor qual era a rotina do magistrado, quais processos ele apresentou sentenças recentemente e quais estão em fase de audiências de conciliação. 

O TJPE reforçou que a chefia da Assistência Policial Militar e Civil do tribunal nunca recebeu informações sobre algum tipo de ameaça ao magistrado. 

Imagens de câmeras de segurança que mostram parte do percurso feito pelo juiz até o momento em que foi morto também estão sob análise de um grupo restrito de profissionais da segurança para evitar vazamentos. Os investigadores também querem identificar o ponto exato em que o carro do magistrado passou ser seguido pelo veículo dos criminosos. 

Nenhum pertence do juiz foi levado no crime. Ele estava sem documentos, mas a família justificou que ele tinha a carteira de habilitação digital no celular. O aparelho está passando por perícia desde a última sexta-feira. 

Oficialmente, a Polícia Civil afirmou que nenhum suspeito do crime foi detido até agora. O delegado Roberto Ferreira, titular da 12ª Delegacia de Homicídios, está no comando do inquérito. 

JUIZ DO CNJ ACOMPANHARÁ O CASO

Por determinação do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), ministro Luís Roberto Barroso, as investigações sobre o assassinato do juiz Paulo Torres serão acompanhadas em Brasília. 

O juiz auxiliar da presidência do CNJ Daniel Avelar foi o escolhido para a missão. Durante 15 anos, o magistrado foi titular da 2ª Vara do Tribunal do Júri de Curitiba. Após Barroso assumir a presidência do STF, houve o convite para que o juiz integrasse a equipe composta por mais 26 auxiliares do ministro. 

Além do CNJ, uma força-tarefa formada por promotores de Justiça de Jaboatão dos Guararapes e do com o Grupo de Atuação Especializada de Combate ao Crime Organizado do Ministério Público de Pernambuco, também foi criada para acompanhar as investigações. 

VÍDEO: PRESIDENTE DO TJPE LAMENTA MORTE 

QUEM ERA O JUIZ MORTO?

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O juiz Paulo Torres da Silva Pereira, de 69 anos, foi assassinado a tiros - REPRODUÇÃO

Paulo Torres Pereira da Silva estava na magistratura há mais de três décadas. 

"Conhecido como Paulão, o magistrado era muito querido por todos que fazem o Judiciário pernambucano. Tinha 69 anos e era juiz há quase 34 anos. Em várias oportunidades, atuou como desembargador substituto", disse o TJPE. 

Paulo Torres tomou posse na magistratura pernambucana no dia 25 de abril de 1989. Através do Ato 130/1989, publicado no dia 19 de abril do referido ano, no Diário Oficial da Justiça, ele foi nomeado magistrado, em virtude de aprovação em concurso público de provas e títulos para exercer o cargo de juiz de direito, na Comarca de Verdejante, iniciando o exercício de sua função no dia 26 de abril de 1989.

Em 1991, Paulo Torres assumiu a 2ª Vara da Comarca de Salgueiro. A partir do referido ano, ele também atuou como juiz das Comarcas de Serrita, São José do Belmonte, Parnamirim, Belém de São Francisco e Escada. Em 1993, o magistrado atuou na Comarca de Jaboatão dos Guararapes. Em seguida, atuou na Comarca do Cabo de Santo Agostinho.

A chegada à Comarca da Capital aconteceu em 1994. No Recife, foi juiz na 8ª Vara Cível, na 1ª Vara da Fazenda Municipal e no I Juizado Especial de Pequenas Causas do bairro do Rosarinho. Atuou também nas 1ª, 2ª, 3ª, 4ª, 5ª, 6ª, 10ª, 13ª, 16ª, 17ª e 18ª Varas Cíveis da Capital.

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