VIOLÊNCIA

Caso de jovem sequestrado no Grande Recife expõe ausência de investigação policial nos fins de semana

Vítima de 26 anos foi levada por criminosos na tarde da sexta-feira (12), mas buscas só começaram três dias depois. Adeppe denuncia baixo número de delegacias 24h

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Raphael Guerra

Publicado em 17/04/2024 às 16:19 | Atualizado em 21/04/2024 às 8:57

O caso do auxiliar de carga e descarga Alisson da Rocha Alves, de 26 anos, que foi roubado e sequestrado na Vila Claudete, no Cabo de Santo Agostinho, no Grande Recife, expõe a ausência de investigações e de delegacias abertas 24h em Pernambuco. O problema é antigo, mas se intensificou nos últimos anos - principalmente pela falta de efetivo policial. 

Alisson seguia de moto, por uma área de mata, quando foi abordado pelos bandidos, na última sexta-feira (12). O pai dele, também no veículo, foi liberado. Mas o jovem foi levado. Na tarde do mesmo dia, familiares estiveram na Delegacia do Cabo de Santo Agostinho para registrar a queixa. Em entrevista à imprensa, eles contaram ter passado cerca de três horas esperando atendimento. Logo depois, a unidade policial encerrou o expediente, só reiniciado na manhã dessa segunda-feira (15) - quando as buscas passaram a ser realizadas. 

A Polícia Civil de Pernambuco foi questionada sobre a demora de três dias para o início das investigações, mas a assessoria não comentou o assunto. Confirmou apenas que estava em apuração a ocorrência de sequestro/cárcere privado.

Alisson segue desaparecido. Informações podem ser repassadas à Ouvidoria da Secretaria de Defesa Social (SDS), que funciona de segunda a sexta, das 7h às 19h, nos números: 0800-0815001 e (81) 9.9488-3455.

ACERVO PESSOAL
Alisson da Rocha Alves, de 26 anos, foi levado por criminosos durante uma abordagem - ACERVO PESSOAL

"SITUAÇÃO PREOCUPANTE", AVALIA ADEPPE

Em queda de braço com o governo do Estado desde novembro do ano passado por cobrança de reajuste salarial, a Associação de Delegados e Delegadas de Polícia de Pernambuco (Adeppe) vem denunciando com frequência os problemas enfrentados na segurança pública. 

Em comunicado à coluna Segurança, a entidade afirmou que a falta de delegacias abertas 24h atinge todo o Estado, sobretudo no interior. Na capital, por exemplo, há apenas duas unidades funcionando ininterruptamente: a Delegacia de Boa Viagem e a Central de Plantões da Capital. 

"Com quase um milhão e meio de pessoas vivendo no Recife, temos apenas duas delegacias que trabalham em regime de 24 horas, como se a bandidagem trabalhasse em regime comercial. É imprescindível que a gente volte ao ano de 2012, quando existiam as delegacias de plantão em cada AIS (Área Integrada de Segurança). Recife compõe 5 Áreas Integradas de Segurança e o ideal é que todas as 5 AIS tenham sua delegacia de plantão", disse o presidente da Adeppe, delegado Diogo Melo Victor.

Em 2012, quatro delegacias localizadas na capital funcionavam 24h: Boa Viagem, Várzea, Casa Amarela e Santo Amaro.

MAIOR PARTE DOS CRIMES OCORRE À NOITE

"A concentração de delegacias de plantão é ruim para Polícia Militar, que tem que se deslocar para outro território, deixando sua base e perímetro ostensivo. É péssimo também para a vítima, em virtude do deslocamento para uma unidade distante do local do fato. É terrível para Polícia Civil, que perde informações precisas para investigação e elucidação do caso, até porque vai ser apurada por outra equipe que não tem conhecimento dos fatos da localidade e das investigações em andamento", pontuou a entidade, no comunicado. 

"É preciso que tenhamos mais delegacias abertas e bem equipadas, com quantidade de pessoas suficiente para atender com presteza a população. Inadmissível a maioria das delegacias fecharem às 18h, logo no período de maior incidência criminal" reforçou Diogo Melo Victor. 

De acordo com a Secretaria de Defesa Social (SDS), 40% das mortes violentas intencionais registradas em 2023 aconteceram no horário noturno. 

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