Grande Recife tem maior número de mortes por bala perdida desde 2019, aponta Fogo Cruzado
Levantamento identificou que 41 pessoas foram atingidas pelos tiros, somente no primeiro semestre deste ano. Desse total, oito morreram
A insegurança nas ruas da Região Metropolitana do Recife (RMR) pode ser traduzida em números, a partir de um levantamento do Instituto Fogo Cruzado. Somente no primeiro semestre deste ano, 41 pessoas foram vítimas de balas perdidas. Desse total, oito morreram. O número é o maior desde 2019, quando os dados da violência armada começaram a ser somados diariamente pelo instituto.
As estatísticas, de fato, assustam. No primeiro semestre do ano passado, 26 pessoas foram atingidas por balas perdidas. Duas faleceram. Isso significa que houve aumento de 300% na quantidade de mortes.
O vigilante aposentado Antônio Lima do Nascimento, de 76 anos, foi uma das vítimas recentes da violência armada. Na noite de 22 de abril, ele foi atingido por uma bala perdida pouco tempo após sair de um culto evangélico no bairro de Jardim Jordão, em Jaboatão dos Guararapes.
Uma câmera de segurança filmou o momento do crime. Antônio andava pela Rua Nossa Senhora do Desterro, quando dois homens passaram correndo perto dele. O rapaz de camisa escura atirou contra o outro que está sem camisa, mas a bala atingiu o idoso, que caiu no chão e morreu na hora. O aposentado deixou cinco filhos e nove netos.
Dois dias após o crime, a Polícia Civil prendeu um suspeito por tráfico de entorpecentes. Mas não informou nome e idade.
VARIAÇÃO DOS NÚMEROS DE VÍTIMAS DE BALA PERDIDA NA RMR
O estudo do Instituto Fogo Cruzado indicou que o número de mortes por bala perdida, no primeiro semestre de 2024, foi bem superior ao registrado no mesmo período dos anos anteriores.
Em 2023, duas pessoas morreram e 24 ficaram feridas;
Em 2022, três morreram e 30 ficaram feridas;
Em 20221, uma morreu e 16 ficaram feridas;
Em 2020, duas morreram e 24 ficaram feridas;
Em 2019, três morreram e 10 ficaram feridas.
"O aumento no número de vítimas de bala perdida no primeiro semestre de 2024 reflete a alta dos indicadores gerais que o Fogo Cruzado monitora e sobretudo nos mostra o descontrole da violência armada. Diferente de outros estados onde atuamos, aqui em Pernambuco os tiros geralmente são direcionados a alvos específicos, mas numa situação de tiroteio todas as pessoas ao redor ficam em risco e podem ser atingidas. Infelizmente, na Região Metropolitana do Recife, isso tem sido cada vez mais frequente", afirmou Ana Maria Franca, coordenadora regional do Instituto Fogo Cruzado em Pernambuco.
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ATLETA DO SPORT TAMBÉM PERDEU A VIDA
O adolescente Darik Sampaio da Silva, de 13 anos, que era atleta da equipe de futsal sub-14 do Sport Club do Recife, também entrou para as estatísticas de mortes por balas perdidas no Grande Recife.
Na noite de 16 de março, Darik estava conversando com duas amigas, na calçada da casa de uma delas, quando houve uma perseguição policial na Rua Professora Arcelina Câmara, bairro do Jordão, Zona Sul do Recife.
Câmeras de segurança registraram o momento em que dois carros passaram pela rua, sendo seguidos por duas viaturas da Polícia Militar. Em poucos segundos, um dos veículos parou e um suspeito saiu dele. Não ficou claro, nas imagens, se o homem estava armado. Os policiais também saíram das viaturas e atiraram na direção do homem, que correu e voltou para o veículo. A perseguição continuou.
Darik acabou atingido por duas balas perdidas, sendo uma na perna e outra no quadril.
Uma testemunha, ouvida pela Polícia Civil, afirmou que o carro usado pelos suspeitos estava com os vidros fechados no momento em que o adolescente foi atingido - o que reforça a tese de que os tiros teriam sido disparados pela PM.
O caso ainda está sob investigação, sem o esclarecimento de quem foi o autor dos tiros que tiraram a vida do atleta do Sport.
RECÉM-NASCIDA FOI BALEADA EM HOSPITAL
A insegurança, porém, não está só nas ruas. Uma recém-nascida foi atingida por bala perdida no Hospital Barão de Lucena, no bairro da Iputinga, na Zona Oeste do Recife, na noite de 26 de maio. Felizmente, sobreviveu.
O tiro, ainda não esclarecido pela Polícia Civil, teria partido de fora para dentro do hospital público. Quatro horas após o nascimento, a bebê foi atingida de raspão na cabeça. Os pais ouviram um choro muito forte e, ao se aproximarem, viram o ferimento. O projétil estava ao lado da cabeça dela.
A investigação ainda segue em andamento na Delegacia do Cordeiro. Nenhuma informação foi repassada sobre o caso.