Homem destrói jardim de terreiro de candomblé no Recife; VEJA VÍDEO

Polícia está investigando o suspeito de 43 anos pelos crimes de depredação e difamação. Caso foi registrado no bairro da Várzea, na quarta-feira (3)

Publicado em 04/07/2024 às 10:10 | Atualizado em 04/07/2024 às 15:40

Um caso de intolerância religiosa está repercutindo após a divulgação de um vídeo em que um homem de 43 anos aparece depredando a área de convivência e o jardim de um terreiro de candomblé no bairro da Várzea, na Zona Oeste do Recife. A Polícia Civil está investigando o ato de violência.  

Nas imagens, o suspeito identificado como Thiago Campelo de Melo aparece com uma marreta quebrando vasos de plantas e um banco de concreto no Terreiro Ilê Axé Oyá Igbalé Funan, na manhã da quarta-feira (3).

Segundo a ialorixá Elaine Torres, responsável pelo terreiro, o espaço depredado faz parte da área do terreiro e funciona como ponto de interação entre jovens da comunidade, com o intuito de aproximá-los e aumentar o interesse deles pela leitura.

A inauguração do ambiente iria ocorrer justamente no momento em que houve a depredação. De acordo com a religiosa, o suspeito já havia começado a depredar o local no dia anterior.

"Ontem (terça) eu comprei os jarros e montamos a estrutura, e ele chegou tirando, com força, sem autorização. Quando foi hoje de manhã chegou quebrando com a marreta", relatou, em entrevista à TV Jornal.

A ialorixá afirmou que o suspeito também havia proferido palavras de baixo calão contra o terreiro, e que a mulher dele — que aparece nas imagens observando a ação do marido — teria agredido uma filha de santo com palavras racistas.

"Desde que ele começou a construir a casa dele, ele profana palavras de baixo calão para o terreiro, que seria um 'lugar de marginais, de gente que não presta'", contou a mãe de santo.

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INVESTIGAÇÃO

Após o ato de violência no terreiro, a ialorixá foi até a Central de Plantões da Capital, no bairro de Campo Grande, onde registrou queixa contra o suspeito. 

Elaine lamentou que o crime não tenha sido registrado como racismo ou intolerância religiosa.

"Esse rapaz não ser punido é autorizar a todos aqueles que não concordam com a sua fé de quebrar, de destruir. Nunca tivemos caso de violência ali. Por que agora, que ele chegou, vai ter?", desabafou.

Em nota à imprensa, a Polícia Civil de Pernambuco informou apenas que estão sendo apurados os crimes de dano/depredação e difamação. "As investigações foram iniciadas e seguem em andamento até a completa elucidação dos fatos", disse. 

O suspeito, que também compareceu à Central de Plantões, se recusou a dar entrevista sobre o caso. 

VEREADORA CRITICOU INTOLERÂNCIA RELIGIOSA

Nas redes sociais, a vereadora do Recife Cida Pedrosa (PCdoB) publicou o vídeo e reforçou que iria oficializar as autoridades competentes para apuração do caso.

"Que absurdo, minha gente! Toda minha solidariedade a Mãe Laine e todos e todas do Terreiro Ilê Axé Oyá Igbalé Funan. Vamos acompanhar de perto esse caso", afirmou. 

CAMPANHA CONTRA RACISMO RELIGIOSO

A Secretaria Estadual de Justiça, Direitos Humanos e Prevenção à Violência informou que está desenvolvendo uma campanha pelo fim do racismo, incluindo a questão da intolerância religiosa. Servidores estão passando por cursos de formação para ampliar o debate sobre o tema.

Uma reunião será realizada com as polícias Civil e Militar para tratar do combate ao desrespeito às religiões de matrizes africanas. Uma audiência pública, promovida pelo Ministério Público, também está prevista para discutir ações mais rígidas contra o racismo religioso. 

A Secretaria de Defesa Social disse que, de janeiro a maio de 2024, registrou a ocorrência de nove crimes contra o sentimento religioso e desrespeito aos mortos em Pernambuco.

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