PMs e traficantes usavam viaturas policiais para cometer crimes no Recife, diz investigação
Operação prendeu militares e outros suspeitos de integrar grupo especializado em tráfico de drogas, com forte atuação na área central da capital
Policiais militares são suspeitos de ceder fardas e praticar crimes junto com traficantes usando viaturas oficiais no Recife. A investigação, conduzida pelo Grupo de Operações Especiais (GOE) da Polícia Civil, resultou na Operação Blindados II, com 11 alvos, nessa quinta-feira (28).
O envolvimento de policiais militares com o crime foi descoberto a partir da análise dos telefones celulares de criminosos presos na primeira fase da operação, que ocorreu em janeiro deste ano, para desarticular o grupo liderado por Bruno Teixeira de Oliveira e Thiago Teixeira de Oliveira, conhecidos como "Gêmeos de Santo Amaro", com forte atuação sobretudo na área central da capital pernambucana.
A investigação, iniciada em 2023, identificou que a organização criminosa, com divisão de cargos (líderes, gerentes, soldados e até advogada), é especializada no tráfico de drogas, lavagem de capitais, homicídios e lesões corporais e usava os policiais militares não só para proteção pessoal, mas na disputa pelo domínio de territórios.
Com as primeiras prisões ocorridas no começo do ano, o GOE conseguiu identificar diálogos entre militares e suspeitos de tráfico.
No pedido de prisão temporária encaminhado à Justiça, obtido pela coluna Segurança, a Polícia Civil destacou que as conversas demonstraram o envolvimento dos policiais com o grupo "seja fornecendo informações privilegiadas, proteção, fazendo vista grossa aos crimes do bando ou até mesmo chegando ao absurdo de ceder fardamento e colocar criminosos em viaturas policiais para cometerem crimes junto com eles".
DETALHES DA INVESTIGAÇÃO
No documento, a Polícia Civil destacou, por exemplo, que o militar José Tarcísio de Carvalho Pereira mantinha diálogo com Thiago Teixeira de Oliveira "passando informações sobre membros da própria Polícia Militar, bem como imagens de protestos feitos por moradores a mando de Thiago com o intuito de pressionar o comando a tirar policiais que não participam do esquema da comunidade e, por consequência, atrapalham as atividades criminosas."
Outro policial militar identificado na investigação foi Walter Mendonça de Azevedo. O GOE indicou que, além de passar informações da Polícia Militar, ele também "presta auxílio a Thiago com informações sobre compra de munições e acessórios de arma de fogo".
Rayner Thainan Ferreira Santos, também preso na segunda fase da operação, "deixava de executar prisões em flagrante, exercia a segurança particular de Thiago, além de outras atividades criminosas", apontou a Polícia Civil.
Também foram alvos da operação os militares Ivison Francisco Alves Júnior, que teria ligações com Bruno Teixeira de Oliveira, e Artur Luiz Silva Sampaio Cabral.
As prisões temporárias dos militares e de mais seis suspeitos foram determinadas pela juíza Andréa Calado da Cruz, da 12ª Vara Criminal da Capital. Nove mandados de busca e apreensão domiciliar também foram expedidos.
Procurada, a assessoria da Polícia Civil de Pernambuco informou que não poderia dizer quantos mandados foram cumpridos, nem passar outros detalhes da operação.