Estelionato é usado para financiar crime organizado, diz Polícia Civil de Pernambuco
Investigações indicam que facções especializadas em crimes como tráfico de drogas também estão aplicando golpes digitais para ampliar lucros
Investigações conduzidas pela Polícia Civil de Pernambuco indicam que as facções especializadas em crimes como tráfico de drogas também estão aplicando golpes digitais para ampliar os lucros. Por causa dessa tendência - observada em outros estados do País -, a Delegacia de Repressão ao Estelionato mudou o foco de trabalho, com mais ênfase no combate ao crime organizado.
"Decidimos que era preciso focar nas investigações de lavagem de dinheiro. Observamos que alguns investigados tinham relação com outros crimes e já eram alvo de inquéritos em outras delegacias, o que reforçou a tese de que o estelionato está financiando o crime organizado. É preciso enfrentar a fraude digital", disse a delegada Viviane Santa Cruz.
Gestor do Departamento de Repressão aos Crimes Patrimoniais (Depatri), o delegado Paulo Berenguer citou ainda que houve uma migração da criminalidade para o "estelionato e crimes cibernéticos".
Esse alerta, inclusive, foi feito recentemente pelo Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2024. Enquanto os crimes de roubos caíram no País, estelionatos por meio virtual cresceram nos últimos anos - sobretudo a partir de 2020, com a pandemia da covid-19, que impôs o isolamento social.
As taxas de roubos a transeuntes no País caíram 13,8% entre 2022 e 2023. Ao mesmo tempo, os estelionatos subiram 8,2%. Os golpes por meio virtual, 13,6%.
OPERAÇÃO CONTRA PIRÂMIDE FINANCEIRA
Na última sexta-feira, a Delegacia de Repressão ao Estelionato detalhou as investigações contra um golpe de pirâmide financeira que estava sendo aplicado no Grande Recife. Treze boletins de ocorrência contra uma empresa localizada em Olinda foram registrados desde 2021, com um prejuízo avaliado em R$ 5 milhões para as vítimas.
"O grupo captava clientes para um suposto investimento em uma plataforma de investimentos, 'Xpert Trade'. Na realidade, esses aportes realizados pelas vítimas não eram investidos. O valor era repassado para uma terceira pessoa, através de contas cedidas, de contas laranjas, e depois esse valor retornava aos sócios das empresas", explicou a delegada Stephanie Almeida.
A promessa para quem investisse era de lucro de 1,99% ao mês e 300% em três meses. Segundo a delegada, as primeiras vítimas chegaram a ter algum retorno, mas logo pararam de receber.
"Enquanto novas vítimas estão entrando, investindo valores, eles conseguem manter uma aparência de legalidade, de confiabilidade, repassando para as vítimas aquele lucro, mas depois isso não se sustenta. Porque, de fato, não existe um investimento", pontuou.
POLICIAIS MILITARES ENTRE OS INVESTIGADOS
Quinze pessoas são investigadas, entre delas dois policiais militares. Um deles é sócio da empresa. Já o outro emprestava a conta bancária para depósitos. Eles estão em liberdade.
Na quinta-feira, foram cumpridos 11 mandados de busca e apreensão domiciliar e bloqueio judicial de ativos financeiros, expedidos pela Terceira Vara Criminal da Comarca de Olinda. O grupo deve responder por crimes de pirâmide financeira, organização criminosa, estelionato e lavagem de dinheiro.