MPPE denuncia 5 policiais militares por 'prestarem serviços' ao tráfico de drogas no Recife
Investigação apontou que militares faziam escolta e repassavam informações a traficantes. Um PM ainda teria participação direta na venda de drogas
O Ministério Público de Pernambuco (MPPE) denunciou à Justiça 11 pessoas, incluindo cinco policiais militares acusados de integrar uma organização criminosa especializada no tráfico de drogas com atuação no Recife. A investigação indicou que os PMs realizavam escolta e repassavam informações sobre outros militares para evitar prisões dos traficantes. Um militar ainda teria participação direta na venda de drogas.
A denúncia do MPPE, resultado da investigação do Grupo de Operações Especiais (GOE) da Polícia Civil, foi entregue à Justiça nessa quinta-feira (19). A coluna Segurança teve acesso à íntegra do documento com exclusividade.
Todos os 11 denunciados foram presos temporariamente na deflagração da Operação Blindados II, no mês passado. Na ocasião, armas de fogo, munições, celulares e outros materiais foram apreendidos para perícia. Agora, a Justiça decretou a prisão preventiva de dez acusados - exceto uma mulher que está grávida.
Os policiais militares Walter Mendonça de Azevedo, Arthur Luiz Sampaio Cabral, José Tarcísio de Carvalho Pereira e Rayner Thianan Ferreira Santos vão responder pelo crime de organização criminosa. Já o PM Ivison Francisco Alves Júnior também vai responder por tráfico de drogas e associação para o tráfico.
"O MP destaca a atuação peculiar de Ivison Francisco, que, na condição de policial militar, além de prestar todo o apoio à organização criminosa, também atuava no tráfico de drogas", descreveu, na denúncia, a promotora de Justiça Henriqueta De Belli.
Além dos militares, os outros denunciados são: Sales Vinícius Barros de França Silva, Kethnen Yasmin Silva de Andrade, Mariana Valéria Pires Ferreira de Oliveira, Lázaro Henrique Barros de França Silva, Bruno Ricardo Silva Rego e Thiago Gonçalves de Brito.
Os dois últimos são os líderes da facção e são conhecidos como "Gêmeos de Santo Amaro", em referência ao bairro localizado na área central do Recife, onde a atuação do grupo era mais forte.
O envolvimento de militares foi descoberto a partir da análise dos telefones celulares de criminosos presos na primeira fase da operação, que ocorreu em janeiro deste ano, para desarticular o grupo.
A investigação, iniciada em 2023, identificou que a organização criminosa, com divisão de cargos (líderes, gerentes, soldados e até advogada), é especializada no tráfico de drogas, lavagem de capitais, homicídios e lesões corporais.
Com as primeiras prisões ocorridas no começo do ano, o GOE conseguiu identificar diálogos entre militares e suspeitos de tráfico.
COMO AGIAM OS POLICIAIS MILITARES
A investigação indicou que o militar José Tarcísio de Carvalho Pereira mantinha diálogo com Thiago Teixeira de Oliveira repassando "informações sobre policiais militares que combatiam crimes na área dominada pela facção, também lhe orientava a obrigar moradores (de Santo Amaro) a promoverem manifestações com intuito de retirar os policiais do batalhão que não compactuavam com o esquema criminoso", apontou a promotora.
Há ainda informações de que o militar enviava fotos de reportagens que informavam sobre os protestos, "ao mesmo tempo em que elogiava Thiago pelo trabalho exitoso".
Outro policial militar identificado na investigação foi Walter Mendonça de Azevedo. O GOE indicou que, além de passar informações da Polícia Militar, ele também "presta auxílio a Thiago com informações sobre compra de munições e acessórios de arma de fogo".
"O policial militar não só repassava informações funcionais a um dos líderes como chegava ao absurdo de planejar colocar Thiago dentro de uma viatura policial e lhe fornecer coturno e fardamento para que pudessem realizar uma ação contra membros rivais", destacou a promotora, na denúncia.
Rayner Thainan Ferreira Santos, também preso na segunda fase da operação, "deixava de executar prisões em flagrante, exercia a segurança particular de Thiago, além de outras atividades criminosas", apontou a Polícia Civil.
Artur Luiz Silva Sampaio Cabral agia em parceria com Rayner, segundo a investigação.
"Nos diálogos captados, também ficou constatado que Rayner e seu parceiro Arthur recebiam valores para não realizarem prisões na área de atuação dos 'Gêmeos de Santo Amaro', além de fornecerem 'escolta particular' aos líderes da referida facção criminosa", descreveu a promotora.
Sobre o militar Ivison Francisco Alves Júnior, a denúncia indicou que ele tinha envolvimento direto no tráfico de drogas.
"Ele viajou para comprar e transportar uma droga de boa qualidade (provavelmente cocaína) para o Recife. A droga, como sugerido nas conversas abaixo, seria armazenada em um terreno situado em Barra de Jangada", citou a promotora na denúncia.