Campos de oliveiras, vales verdejantes, cachoeiras escondidas, atividades de aventura e iguarias coloniais de fazer suspirar. Para além do Papai Noel e da decoração natalina que tomam conta de Gramado e Canela nesta época do ano, há muito mais a desvendar nas áreas rurais das duas cidades, que em breve poderão ser acessadas mais rapidamente a partir do Recife.
No próximo dia 9 de dezembro, estreia o voo direto da Azul entre a capital pernambucana e Porto Alegre, que vai permitir eliminar conexões e encurtar o tempo de viagem para quatro horas e quinze minutos. No dia 14 de dezembro, a companhia também passará a operar frequências de Porto Alegre a Canela, com aeronaves Cessna Grand Caravan, da Azul Conecta. O voo terá duração de 40 minutos, contra cerca de duas horas do trajeto rodoviário.
Seja qual for o transporte escolhido, confira abaixo um roteiro para comer e contemplar na Serra Gaúcha.
OLIVAS DE GRAMADO
Uma arte milenar deu origem a um dos parques rurais mais charmosos da Serra Gaúcha. Com mais de 12 mil oliveiras plantadas em cima de um cânion da Linha Nova, o Olivas de Gramado é uma deliciosa surpresa para quem se aventura pelo interior da cidade, em busca das suas origens.
Os 14 quilômetros desde o Centro de Gramado até a fazenda já são um deleite. Belos jardins de hortências, plantações e casas coloniais de imigrantes italianos, alemães e luso-açorianos emolduram o caminho.
Na chegada, o visitante se depara com uma estrutura turística capaz de satisfazer diferentes perfis de público. A paisagem por si só já é uma atração da propriedade, encravada em um solo permeado de cristais e rodeado de mata atlântica. A energia não poderia ser melhor.
Mas como o nome sugere, é a produção de azeite de oliva, a primeira do Rio Grande do Sul, o principal motivo da incursão por ali. A beleza dos olivais e a riqueza de informações sobre o processo de fabricação, do cultivo das azeitonas à extração do óleo, valem cada minuto do tour, que ainda ensina sobre os usos gastronômicos, benefícios para a saúde e história do produto, cuja origem está na Antiguidade, na região conhecida como Crescente Fértil.
O ponto alto ocorre com a degustação sensorial dos azeites e infusões artesanais da casa, acompanhada por um azeitólogo. No nosso caso, o guia foi André Bertolucci, o "alquimista" por trás da excelência da Olivas de Gramado. Com ele, descobrimos que a olivocultura é tão complexa quanto a produção de vinhos ou de cafés.
Um dos sócios do empreendimento, André explica que entre as 1.200 varietais de azeitona existentes no mundo, a fazenda optou por seis, das quais "vingaram", especialmente, um blend suave das espanholas arbequina e arbosana e a monovarietal grega koroneike, que produz um azeite mais intenso, com mais picância e amargor. Para leigos, aliás, o especialista esclarece que essas propriedades são atributos e não defeitos do produto, ao contrário da acidez, que diz respeito ao nível de oxidação: "Até 0,8% são os extravirgens e de 0,9% a 2%, os virgens. Acima disso, é impróprio para o consumo", explica.
Ao escolher um azeite, observa André, é preciso levar em conta, ainda, características gustativas e aromáticas. "Ele entra na boca amendoado, no centro da língua tem a adstringência do amargor e o retrogosto é picante", descreve, acrescentando que um óleo de oliva de qualidade precisa ter cheiro de grama verde, mato ou ervas.
Na Olivas de Gramado, além do extravirgem, também há uma coleção de azeites gourmets que homenageiam a culinária de diferentes países (Genova salsa pesto, Dusseldorf senf, Kinki soy shoyo, New Orleans creole sauce, Azteca chili jalapeño e Himalaya sherpa salt), assim como infusões aromatizadas com especiarias e frutas cultivadas na própria fazenda, a exemplo da bergamota, limão siciliano, canela, ervas de provence, pimenta calabresa defumada e alho em flocos. Dá vontade de levar todos para prolongar a experiência na volta para casa. E as embalagens em vidrinhos de 30 ml e 50 ml disponíveis na boutique permitem realizar o desejo, bem como consumi-los ali mesmo.
Depois de se nutrir de conhecimento, a dica é aproveitar o cenário para relaxar em um dos muitos recantos cinematográficos que a fazenda oferece. De preferência, com uma cesta de piquenique a tiracolo. Guarnecidas de pães, cucas, queijos, embutidos, azeites e azeitonas, claro, entre outros insumos locais, custam entre R$ 140 e R$ 280, a depender das bebidas escolhidas.
Quem preferir a comodidade do restaurante pode fazer logo a reserva para a volta do passeio. No almoço, das 12h às 15h, só há um menu disponível, que vale por muitos, diga-se. Chamado de Raízes, custa R$ 110 por pessoa e inclui a legítima comida italiana da Nona, com couvert, saladas, sopas, polentas mole e frita, dois tipos de massa e três de carne (panela, frango e costela marinada na cerveja), que podem ser repetidos quantas vezes o comensal aguentar. Só precisa lembrar de guardar espaço para as sobremesas: ambrosia, sagu com creme e arroz doce, também servidos à vontade.
A mesa é tentadora, mas há muito mais a conhecer. Para famílias com crianças, vale começar pela Fazendinha, onde bichinhos e casas em tamanho menor proporcionam aos pequenos uma maior interação com a natureza e o universo rural. Ao lado, está a horta orgânica, com viveiro e estufa, onde são produzidas verduras e legumes orgânicos que abastecem o restaurante, além de flores, frutas, chás, temperos e plantas decorativas utilizadas no paisagismo do parque, caso das tradicionais hortênsias.
Os aventureiros também têm o seu lugar, nas trilhas ecológicas autoguiadas, em que as espécies vegetais estão devidamente sinalizadas. Com sorte, é possível dar de cara com cervos, tatus e macacos bugiu. Presente extra, ao final de cada trajeto, são os mirantes para o cânion Pedra Branca e parte do percurso do Rio Caí, que contorna as montanhas da região.
"O parque possui 90 hectares de preservação permanente e nós plantamos mais árvores de espécies nativas e frutíferas para atrair os animais", conta o Sr. Pedro Bertolucci, sócio-fundador do Olivas de Gramado. Outro de seus orgulhos é a oliveira tricentenária plantada em local de destaque da propriedade, para marcar a origem de um sonho, hoje feito realidade com a contribuição de turistas do Brasil inteiro.
Serviço
A entrada no parque custa R$ 49 para visitantes entre 17 e 59 anos. Crianças de 0 a 11 anos não pagam. Pessoas de 12 a 16 e 60 ou mais, pagam R$ 24,50. O ingresso inclui degustação sensorial do azeite de oliva (mediante disponibilidade no dia do passeio), visita à Fazendinha, trilhas ecológicas autoguiadas; acesso à loja boutique, empório colonial, restaurante Trattoria e horta orgânica, além dos mirantes do cânion da Pedra Branca.
FLOR DO VALE ALAMBIQUE E PARQUE ECOLÓGICO
A apenas cinco quilômetros do Centro de Canela, a Flor do Vale Alambique e Parque Ecológico é a primeira parada de um tour nada convencional pela região conhecida como Morro do Calçado, na zona rural da cidade.
As atrações do espaço, que cobra apenas R$ 20 pelo ingresso, incluem a visita à cachaçaria artesanal. Antes de se jogar nas degustações, no entanto, aproveite para apreciar sem moderação as belezas que se descortinam no terreno de mais de 5 mil metros quadrados, que mantém 70% de área verde preservada.
Para conhecer o lugar, é só seguir o som das águas. Trilhas bem estruturadas, com corrimão, banquinhos e sinalização, levam a três cachoeiras, em um trajeto enfeitado por orquídeas e outras espécies nativas devidamente identificadas. Ronco do Bugio, Mata o Veio e Sossego são os nomes das lindas quedas d'água, que justificam o esforço. Lembre de levar roupa de banho para um mergulho e hidromassagem natural renovadores.
Na volta, os amplos jardins à beira de riachos convidam a um piquenique. Não sem antes conhecer o alambique e finalmente provar as cachaças em diferentes estágios de envelhecimento. Até 10 mil litros são produzidos por ano para venda na lojinha do próprio parque e consumo nas degustações.
VITIVINÍCOLA JOLIMONT
Depois de umas e outras, nada como uma carona no providencial Trago Bus para seguir à próxima parada. A degustação agora é de vinhos, na Vitivinícola Jolimont, que oferece passeio guiado pela fábrica e permite caminhar livremente pelo parreiral. A entrada custa R$ 40, com direito a uma taça de suvenir e prova de sete produtos, entre vinhos, espumantes e suco de uva.
FAMÍLIA CHAULET
Mais adiante, é hora de forrar o estômago com os salames, queijos, embutidos e doces da Família Chaulet. O empreendimento familiar oferece mais de 20 opções para experimentar e levar um pedacinho da Serra Gaúcha para casa.
Serviço
Flor do Vale Alambique e Parque Ecológico funciona de terça a domingo, das 9h às 17h. A entrada custa R$ 20, incluindo acesso às trilhas, visita às instalações da cachaçaria e degustação. O Trago Bus pode ser solicitado gratuitamente para percorrer as atrações da Estrada Morro do Calçado.
Na Vitivinícola Jolimont, a visitação ocorre todos os dias da semana, inclusive feriados, das 9h às 16h45. O passeio pelas etapas de produção do vinho dura de 45 a 60 minutos.
A Agroindústria da Família Chaulet funciona diariamente, das 9h às 17h.
SKYGLASS CANELA
Estamos a 360 metros sobre o Vale da Ferradura, onde o Rio Caí literalmente faz a curva. Em meio ao verde da mata atlântica pontuada por araucárias, a sensação é de flutuar sobre a deslumbrante paisagem. Uma plataforma estaiada de aço e vidro, que avança 35 metros sobre o desfiladeiro, proporciona essa experiência de integração com a natureza nas alturas.
Inédita na América Latina, a Skyglass é a mais nova atração turística da cidade de Canela, na Serra Gaúcha. Embora a inauguração oficial esteja prevista somente para o próximo dia 4 de dezembro, a coluna Turismo de Valor experimentou em primeira mão a novidade durante o Festuris.
A presença de gruas e o vai e vem de trabalhadores denunciam que as obras seguem em ritmo acelerado, mas as principais atrações já estão prontas e em teste para receber os visitantes.
Comparada em imponência à Skywalk Grand Canyon, nos Estados Unidos, a Skyglass Canela inova ao apresentar duas formas de contemplação.
Por cima do vidro, é possível caminhar livremente e sem limite de tempo. Até mesmo o anteparo, de 1,5 metro, é transparente, permitindo uma visão sem obstáculos.
Para apreciar o vale de outra perspectiva, na parte de baixo, a plataforma conta com o Abusado. O brinquedo é um monotrilho, parecido com um teleférico, com 10 cadeirinhas suspensas. O "passeio" dura dois minutos e cinquenta segundos, a 5 km por hora. O suficiente para pedir mais depois de se maravilhar com os paredões imensos de onde "decolamos" e bater os pés de felicidade ao acompanhar a sinuosidade do rio que circunda a montanha em formato de ferradura.
Quem tem medo de altura pode até sentir um friozinho na barriga. No entanto, a sofisticada obra de engenharia por trás do equipamento garante toda a segurança para que ninguém tenha que pensar em riscos. Com 65 metros quadrados de área, a plataforma de vidro é projetada para suportar até 500 quilos por m2, ou seja, 32,5 toneladas, o equivalente a dois caminhões de grande porte.
Os números superlativos não param por aí. Na construção, a Skyglass consumiu cerca de 194 toneladas de ferro, aço e soldas, além de 524 metros cúbicos de concreto, chegando a pesar 226 toneladas. "Todo o material é brasileiro, exceto os cabos de aço, que vieram da Suíça, e alguns componentes eletrônicos importados", orgulha-se um dos sócios do empreendimento, Moacir Bogo, proprietário de outros equipamentos turísticos, como o bondinho do Balneário Camboriú, em Santa Catarina, e o teleférico de Aparecida, no interior de São Paulo.
Apesar da capacidade para até 260 pessoas, somente a metade (130) circulará simultaneamente na Skyglass. Já o Abusado suporta até 120 quilos por assento. Também é preciso ter, no mínimo, 1,2 metro de altura para desfrutar do brinquedo.
Tanto no mirante quanto no monotrilho não será permitido entrar com celular ou câmera fotográfica. Afinal, ninguém quer que os aparelhos vão parar no fundo do vale, não é mesmo? Para garantir os cliques, haverá fotógrafos oficiais disponíveis para fazer o registro. Segundo o diretor geral do empreendimento, Fabrício Medeiros, os arquivos de foto e vídeo serão "acessíveis", com preços máximos de R$ 15.
A Skyglass é o centro das atenções, mas não a única novidade implementada pela Volare Empreendimentos Turísticos, nova administradora do Parque da Ferradura, que alugou a área ao Grupo HabitaSul por 25 anos, com possibilidade de renovação por mais 25.
O espaço será contemplado também com o Memorial do Ferro de Passar, um curioso museu com 300 peças garimpadas em todo o mundo, que contam a história do utensílio desde a época das dinastias chinesas, quando tinham o formato de caçarolas, até os modernos ferros a vapor. O complexo abriga, ainda, praça de alimentação, lojas e estacionamento.
O investimento total é de R$ 30 milhões desde o início dos estudos para execução do projeto, há dois anos.
De acordo com Fabrício Medeiros, a área estará habilitada para receber até três mil pessoas diariamente. Entretanto, ainda na pandemia, a expectativa é que a ocupação fique pela metade.
Em um futuro próximo, os administradores planejam retomar as trilhas do parque, que tem uma área total de 96 mil m2, com uma proposta de turismo ecológico e de aventura que inclua plano de contingência e resgate.
SUSTENTABILIDADE
A preservação ambiental é uma preocupação, segundo Medeiros, refletida até mesmo na estação de tratamento de esgoto, que gera 98% de pureza da água na saída do processo para utilização em sistemas de irrigação. As pedras e terras escavadas para instalação do mirante, diz, foram reaproveitadas na própria obra e o alicerce foi erguido com o mínimo de impacto possível na vegetação.
INGRESSO
Os valores da entrada no parque ainda não foram definidos, mas deve haver pelo menos três tipos de ingresso: um só para entrar no espaço, outro para a plataforma de vidro e o pacote completo, com o Abusado.
PARCERIA
O secretário adjunto de Turismo e Cultura de Canela, Germano Junges, destaca que o Skyglass Canela resulta de uma parceria com o poder público, que contou com contrapartida de R$ 11 milhões para asfaltar oito quilômetros do trecho da Estrada Municipal CNL, na zona rural de Canela, que dá acesso ao parque. Trata-se da mesma via que leva à famosa Cachoeira do Caracol.
O empreendimento, ressalta o gestor, soma-se a outros 40 atrativos que compõem o mapa turístico da cidade, 25 deles ativos neste momento ainda de pandemia.
PARA SE SENTIR UM MEMBRO DA REALEZA
O prato teria sido criado para celebrar a vitória do comandante britânico Arthur Wellesley, primeiro Duque de Wellington, na famosa Batalha de Waterloo contra Napoleão Bonaparte, em junho de 1815. Há quem diga que o nobre, na verdade pouco afeito à boa mesa, nunca chegou a provar o Beef Wellington, filé de irresistível suculência envolto em massa fina folhada batizado em sua homenagem.
Quem conta essa história ao servir a iguaria é o sorridente garçom paraibano do restaurante mais cosmopolita de Gramado. Com decoração inspirada em residências da família real e pubs londrinos, o George III propõe-se a fazer uma releitura contemporânea de receitas clássicas inglesas, oferecendo uma experiência multissensorial, a partir de texturas criativas e harmonizações ousadas. Tudo devidamente contextualizado.
Para fazer a imersão completa, vale se dar ao luxo do menu degustação de cinco cursos (R$ 216): duas entradas, dois pratos principais e uma sobremesa escolhidos entre as opções do cardápio regular.
O salmão curado no Earl Grey é a escolha certa para abrir os trabalhos em grande estilo. O blend icônico de chá preto com toque cítrico criado pela Twinings a pedido do primeiro ministro Charles Grey proporciona o contraste perfeito com o peixe tenro coberto com tuile de beterraba em aceto balsâmico.
O Fish and chips é outro clássico, que nesta versão ganha o acompanhamento de um inusitado molho de pimenta cambuci de origem indígena.
Na etapa seguinte, o Beef Wellington divide as atenções com o George Steak, generoso corte de Angus, guarnecido com farofa crocante de bacon caramelizado, creme de couve-flor e cebola.
O arremate é com o Strawberry of the queen. Fruta preferida da Rainha Elizabeth II, os morangos vêm nessa apresentação decorados com uma espuma de iogurte de queijo de ovelha e suspiros. De fazer qualquer plebeu se sentir um membro da realeza.
TRADIÇÃO
Do Reino Unido ao interior da Itália, Gramado tem uma oferta gastronômica variada, fomentada pelos diversos grupos de imigrantes e capaz de atender aos paladares mais exigentes. Na lista de quem se dedica sem restrições aos prazeres da mesa não pode faltar uma visita ao La Caceria, tradicional restaurante de carnes nobres de caça instalado no Hotel Casa da Montanha.
Enquanto percorre o extenso menu, o comensal pode começar a diversão com o couvert de manteigas aromatizadas, queijo sansoe, patê de fígado, cogumelos à provençal, alho assado e seleção de pães artesanais (R$ 22 por pessoa).
Difícil será escolher a estrela da noite entre os 15 convites à epifania que se apresentam, incluindo o prato da Boa Lembrança: o Javali Linha Bela (R$ 149) traz um carré grelhado ao molho de pimenta verde, aligot de queijos provolone e tomate de savoie, farofa de brioche e pistache, infusão de limão siciliano e brotos de agrião e pimenta rosa.
Já a Codorna em chamas proporciona um espetáculo sensorial inigualável ao flamejar à sua frente exalando os perfumes dos ingredientes com os quais a ave é recheada: vitela, foie gras, trufas e especiarias. Assada sobre folhado vol-au-vent, acompanha legumes da estação com fio de alho caramelizado e alecrim (R$ 129).
Para um almoço mais despretensioso, mas não menos saboroso, o Casa da Montanha conta com o Bistrô da Varanda, onde se sobressaem o Risoto montanhês (iscas de filé tomate cereja e farinha de porcini) e o macarrão Mamma mia (penne artesanal italiano, iscas de filé, cogumelos paris frescos, alecrim e nata).
Ambas as casas ainda dispõem de uma generosa carta de vinhos, com mais de 150 rótulos nacionais e internacionais.
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