COLUNA TURISMO DE VALOR

Cabaceiras: a "Roliúde Nordestina", na Paraíba, que já foi palco de mais de 50 filmes

A pequena cidade ficou famosa depois de servir de cenário para "O Auto da Compadecida" e vários outros filmes premiados

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Leonardo Vasconcelos

Publicado em 12/12/2021 às 8:00 | Atualizado em 12/12/2021 às 12:02
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Não sei, só sei que foi assim que Cabaceiras, um pequeno município de pouco mais de 5 mil habitantes esquecido no Cariri paraibano, a 189 quilômetros de João Pessoa, se tornou a “Roliúde Nordestina”. E se você pensa que isso é invenção de Chicó ou João Grilo basta ir até a entrada da cidade para ver um letreiro gigante com o citado título que uma tal de Hollywood, nos Estados Unidos, tentou – em vão – imitar.

Claro que parece mais uma das histórias fantásticas contadas pela dupla de “O Auto da Compadecida”, mas, na verdade, a história de Cabaceiras é realmente fantástica. Afinal, por que uma cidade minúscula no meio do “nada” realizou tudo que qualquer outra maior sonharia? Como ela vem conseguindo há 92 anos sobreviver do cinema e ter sido palco de mais de 52 produções, entre filmes, séries e novelas? A resposta que pode parecer ficção é a própria ficção. Sim, foi vivendo de fantasia que Cabaceiras se tornou uma feliz realidade.

Marco Pimentel/ PBtur / Divulgação
A cidade de Cabaceiras é bem pequena e tem pouco mais de 5 mil habitantes - Marco Pimentel/ PBtur / Divulgação

Mas em vez de fazer como os icônicos personagens do clássico escrito por Ariano Suassuna e enrolar, vamos lá responder aos questionamentos. Cabaceiras é considerada a cidade de menor precipitação pluviométrica de todo o Brasil, ou seja, sem chuvas e com poucas nuvens as filmagens podem se estender por mais tempo e com mais qualidade devido à fartura da luz natural. Além das condições climáticas, ela é uma espécie de cidade cenográfica e real ao mesmo tempo com casarões multicoloridos bem preservados do século XVIII.

Ainda tem bem ao lado o famoso Lajedo do Pai Mateus, a icônica elevação rochosa com misteriosas pedras gigantes arredondadas. Pra completar, os moradores ajudam em tudo, desde cozinha, transporte, figurino e, principalmente, como figurantes. A utilização dos cabaceirenses nas produções é condição quase que obrigatória para gravar lá. E a satisfação é dos dois lados, tantos os diretores quanto os moradores que se transformam em “artistas por um dia”, ou melhor vários.

Marco Pimentel/ PBtur / Divulgação
A igreja matriz de Cabaceiras que serviu de palco para cena de "O Auto da Compadecida" - Marco Pimentel/ PBtur / Divulgação

A primeira gravação realizada em Cabaceiras foi a do curta “Sob o Céu Nordestino” em 1929. Depois, sob o mesmo céu da cidade, vieram mais 51 produções audiovisuais, entre elas “Cinemas, aspirinas e urubus” (2005), “Canta Maria” (2006) e “Onde nascem os fortes” (2018). Mas é inegável que a mais marcante foi o já citado “O Auto da Compadecida”, de 2000, dirigido por Guel Arraes. É impossível não andar pelas ruas da cidade e não reconhecer os cenários utilizados no clássico de Ariano. Como não querer “tomar uma” no mesmo bar que Vicentão passou ou ajoelhar em frente à igreja em que Capitão Severino matou todo mundo?

Reprodução / Memorial cinematográfico de Cabaceiras
A cidade guarda com carinho fotos tiradas durante a gravação de "O Auto da Compadecida" em 1998. - Reprodução / Memorial cinematográfico de Cabaceiras

“Depois do Auto da Compadecida Cabaceiras passou a ser conhecida em todo o Brasil e também no exterior. Foi quem alavancou o nosso turismo. No city tour nós passamos pela igreja matriz, a padaria, a cadeia que serviram de cenário para o filme. Todo turista que vem quer conhecer esses locais e, inclusive, reproduzir as cenas (inclusive o repórter). É muito divertido”, contou a guia de turismo da cidade Robéria Mendes, convidada pela agência pernambucana de ecoturismo Vem de Andada, com a qual a Coluna Turismo de Valor viajou e indica o serviço.

No passeio pela cidade você pode visitar também o museu histórico-cultural, com um rico acervo de antiguidades, e o Memorial Cinematográfico, com um apanhado de todas produções audiovisuais rodadas ali. Outro ponto turístico é a loja de artesanato do Zé de Cila, cujo dono virou a figura mais ilustre de Cabaceiras após ser dublê do ator Rogério Cardoso que interpretou o Padre João. Até hoje, ele recebe os turistas na porta do estabelecimento vestido com a batina.

Leonardo Vasconcelos / Especial para JC Imagem
Isabelle conversando com Z�© de Cila, famoso por ter sido dubl�ª do Padre Jo�£o - Leonardo Vasconcelos / Especial para JC Imagem

A propagandista recifense Isabelle de Moura, de 35 anos, aproveitou a celebridade para tirar foto e bater um papo. “Cabaceiras é uma cidade fantástica, me senti uma atriz do Auto da Compadecida. Pude reviver cenas e dei muitas risadas. Conversei com Zé de Cila e até uma benção eu pedi ao padre famoso. Saí da cidade encantada”, lembrou Isabelle. Viu que não é invenção de João Grilo e Chicó? Cabaceiras é mesmo a “Roliúde Nordestina”. Agora quando perguntarem você pode dizer “sei e foi assim”.

Leonardo Vasconcelos / Especial para JC Imagem
Por onde se anda em Cabaceiras se vê o orgulho em ter sido cenário de tantos filmes - Leonardo Vasconcelos / Especial para JC Imagem

OUTROS ATRATIVOS

Além do citado Lajedo do Pai Mateus, Cabaceiras ainda conta com outros pontos turísticos que valem a visitação como o Lajedo Manoel de Souza e a Saca de Lã


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