Uma carona pelas lembranças, inspirações e pela mente criativa de um dos maiores músicos de todos os tempos, durante uma viagem de carro, dois mil quilômetros cortando o sul dos Estados Unidos. Esse enredo chega ao Brasil na obra “Traveling Music – Música para viagem: a trilha sonora da minha vida e do meu tempo”, escrito por Neil Peart. Falecido no mês passado em decorrência de um câncer no cérebro, Peart registra em cada página reflexões e fatos de sua vida, desde a infância vivida em Ontário, no Canadá, até os relatos sobre a evolução e consolidação do rock nos anos 1960 e 1970. Lançado em outros países em 2004, o livro chega ao Brasil pela editora Belas Letras, com tradução de Candice Soldatelli, tradutora oficial dos livros de Neil Peart.
A arte de Neil Peart não ficou conhecida primeiro pelos livros, mas pela música. Fez história quando passou a ser considerado um dos maiores bateristas do mundo, tocando com a banda canadense Rush durante 40 anos. Ao lado de Alex Lifeson (guitarrista) e Geddy Lee (baixista e vocalista), levou o grupo a um patamar de excelência acima do normal, através de seus 31 discos gravados em estúdio e ao vivo. O trio canadense ficou em terceiro lugar (atrás dos Beatles e Rolling Stones) com a maior quantidade de discos de ouro ou platina consecutivos para uma banda de rock. Além de assumir as baquetas, Peart virou o letrista oficial a partir do segundo disco, “Fly By Night”. Depois de uma carreira consolidada, em 1996 partiu para a carreira literária. Foram cinco livros lançados até sua morte.Desta vez o autor sai completamente do cenário bucólico e até sombrio do livro anterior, “Ghost Rider”, lançado em 2002, que chegou ao Brasil com o título de “A estrada da cura”, quando descreve uma viagem de moto depois da perda da filha Selena, de 19 anos, num acidente de carro e, menos de um ano depois, a morte da primeira esposa, Jaqueline, vítima de câncer. Agora, tudo está diferente. O músico-autor conseguiu se reerguer emocionalmente, encontrou uma nova companheira - a fotógrafa Carrie Nutall, com que teve a filha Olívia, hoje com 11 anos- e escreveu em “Música para viagem” um texto leve, numa viagem pela sua infância, as turnês com o Rush e suas influências.
“O próximo CD no carrossel era Sinatra at the Sands, com a big band de Count Basie. Como sempre , a música que eu ouvia não apenas me acompanhava na estrada, mas também me levava a viagens paralelas, através da memória e dos fractais de associações, os fios que me conduziam de volta à história da minha vida por caminhos que eu havia esquecido ou de que nunca tinha me dado conta”, lembra , num trecho. As associações emocionais e as histórias por trás de cada álbum que toca nestes quase dois mil quilômetros, seja Frank Sinatra ou Linking Park, guiam esta coleção de pensamentos.
Em outra história, relata a sua ida a um show do The Who que ficou marcado em sua vida. Foi em 1969. “Vi o The Who mais uma vez, de volta ao Coliseum, quando eles lançaram a turnê de Tommy. Joel ‘Iggy Stooge’ Rempel, meu colega de escola, crítico musical e fã do The Who também estava lá. Depois do final com a destruição do equipamento, ele deu um jeito de pegar um pedaço de um dos pratos de Keith Moon de cima do palco. Heroicamente, ele dividiu em três pedaços, entregou um para o outro ‘esquisitão’ Kevin Hoare e outro para mim. Usei aquele pedacinho de bronze distorcido amarrado no meu pescoço durante anos.”
Para a tradutora Candice Soldatelli, o texto não é somente para os seguidores do Rush. “É uma verdadeira aula da história da música, do rock, de um dois seus maiores ícones. Traz toda a formação de Neil desde criança, as bandas que impactaram. E como ele virou esse grande músico”, destacou.
Os livros de Neil Peart fazem parte de um gênero conhecido como “crônicas de viagem e filosofia”. O lançamento de “Traveling Music- Música para viagem: a trilha sonora da minha vida e do meu tempo”, acontece no próximo dia 20 de março, durante o Rush Fest, em Criciúma, Santa Catarina, considerado atualmente o maior encontro de fãs do Rush do mundo. Agora esses mesmos fãs têm mais esse motivo pra comemorar.
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