O Instituto Itaú Cultural desde 2017 se empenha em trazer mostras online de cinema, de forma gratuita e também em parceria com grandes festivais pelo Brasil. Agora, o ritmo dessa iniciativa deu uma acelerada desde o começo da quarentena, capilarizando um cinema nacional que dificilmente entra no catálogos dos grandes streamings ou do circuito comercial. Só nesse ano, foram cinco mostras com mais de 40 filmes e agora, no próximo dia 5, vem mais uma. O festival Forumdoc.bh, o maior do brasil em cinema etnográfico, terá uma seleção especial de seis filmes de destaque da edição de 2019, pautados por temas que vão desde a produção indígena audiovisual, mas passa também por questões de política institucional e pelo cinema em si.
Os filmes disponibilizados serão: Yãmiyhex: As mulheres-espírito (Sueli Maxakali e Isael Maxakali), Em Mãtãnãg, a Encantada (Charles Bicalho e Shawara Maxikali), Eleições (Alice Riff), Banquete Coutinho (Josafá Veloso), Enquanto Estamos Aqui (Clarissa Campolina e Luiz Pretti) e Antonio e Piti (Vincent Carelli e Wewito Piyãko). “A gente sempre procura dar luz a filmes importantes que não circularam amplamente. E o forumdoc.bh é um festival que contempla muito bem isso. A atenção que dão aos filmes de produção indígena ou sobre o tema é algo que também buscamos sempre aqui, pois é uma produção que passa por uma crescente de qualidade e quantidade”, explica Claudiney Ferreira, gerente de audiovisual e literatura do Itaú Cultural.
Dentro desse contexto, há potentes exemplos dentro da mostra. O curta em animação Em Mãtãnãg, a Encantada perpassa pelo campo do amor e transcendentalidade, além de ser todo falado na língua Maxakali, grupo indígena do norte de Minas Gerais. Ainda na produção dos Maxakali, Yãmiyhex: As mulheres-espírito registra uma cerimônia em forma de grande festa para a despedida das mulheres espíritos que dão nome ao filme. Já o antropólogo e documentarista Vincent Carelli, diretor de contundentes projetos como Martírio e Vídeos nas Aldeias, traz uma parceria com Wewito Piyãko para contar uma história de amor revolucionária no coração das lutas do povo Ashaninka, no Acre.
Já aquele que talvez seja um dos maiores documentaristas do cinema mundial, Eduardo Coutinho, recebe um olhar carinhoso sobre sua obra, com Banquete Coutinho. A produção parte de um encontro do diretor Josafá Veloso com o próprio Coutinho em 2012 e se utiliza de um vasto material de arquivo para investigar suas inquietações. Completam a mostra Eleições, que explora as dinâmicas sobre as eleições de um grêmio estudantil em uma escola paulista, trazendo reflexões sobre o fazer político, e Enquanto Estamos Aqui, um diário de viagem poética de um brasileiro morando ilegalmente em Nova York e uma libanesa que acaba de chegar na cidade.
Agora em Abril, o Itaú Cultural também abarcou o É Tudo Verdade, maior festival de documentários da América Latina, com mostras sobre os filmes vencedores da primeira edição, em 1996 e produções que tinham o cinema como tema. Ainda estão programadas uma voltada para animações de público adulto e outra sobre amor e relacionamentos, a Mostra Amorosa. “Ali no final de fevereiro, percebemos que precisávamos acelerar essas atividades, com uma pandemia batendo na porta e o cenário atual se desenhando. Agora estamos vendo o resultado nos acessos. A gente precisa fazer a roda girar”, afirma Claudiney.
Para além de uma ajuda no período de isolamento, o instituto vê essas iniciativas como uma forma de descentralizar o fluxo de produções. "É relevante que se fale da importância das salas de cinema, da tela grande e do espaço de sociabilidade, de confraternização com a atividade artística. Mas cada espaço, o presencial, mas também o virtual tem seu papel. Há festivais dentro de nossos parceiros que só são realizados em lugares como Belo Horizonte, São Paulo e Rio de Janeiro. Então, acaba sendo uma experiência boa de ampliar essas acessibilidade", conclui Claudiney.
INFANTIL
Durante 30 dias, o site www.itaucultural.org.br. disponibiliza a Mostra de Animação para Crianças, com exibição de 10 curtas-metragens nacionais. A iniciativa já está no ar desde o dia 27 de abril, e segue até o dia 27 de maio.
O público pode acessar obras como Menina da Chuva, do Rio de Janeiro, Viagem na Chuva, de Goiás, Pra Ver Poesia, do Pará, Òrun Àiyé: A Criação do Mundo, da Bahia, Caminho dos Gigantes, de São Paulo. Além de Lipe, Vovô e o Monstro, do Rio Grande do Sul, No Caminho da Escola, do Espírito Santo, Meu Melhor
Amigo, de Minas Gerais, Vivi Lobo e o Quarto Mágico, do Paraná. E o pernambucano Quando a Chuva Vem?.
Os filmes infantis podem ser vistos por todos os públicos. Todos eles carregam potenciais imaginativos e de aprendizagem diversos e universais. Menina da Chuva, dirigido por Rosaria, discute questões como identidade e preconceito a partir da história de uma garotinha que, por ter cor diferente, se sente deslocada. Viagem na Chuva, de Wesley Rodrigues, dialoga com a estética do animador japonês Hayao Miyazaki, e se utiliza de poesia ao comparar o circo e a chuva. Já Caminho dos Gigantes, de Alois Di Leo, mostra uma floresta de árvores gigantes onde uma menina indígena desafia o seu destino para entender o ciclo da vida.
Òrun Àiyé: A Criação do Mundo, de Jamile Coelho e Cintia Maria, conta a trajetória de Oxalá, narrada por Carlinhos Brown, em sua missão para criar o mundo. Enquanto, Quando a Chuva Vem?, de Jefferson Batista, fala da seca que assolou o Nordeste do Brasil entre os anos de 1979 e 1985 pelo ponto de vista de uma criança.
Com a programação suspensa desde o dia 17 de março em razão da pandemia do coronavírus, o Itaú Cultural tem intensificado a produção de materiais pensados para toda a família, ampliando a produção de conteúdo para diversos públicos. Para acessar a mostra e outros conteúdos é só clicar no site www.itaucultural.org.br.
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