Artistas lidam com a criatividade. Eles buscam maneiras de exporem suas ideias e visões de mundo, usando e abusando de cores, contrastes e telas. Situação parecida encontramos nas cozinhas. Os chefs, literalmente, constroem em cima de pratos. Esculturas e pinturas feitas através dos mais variados tipos de alimentos. Mas, afinal, comida é arte? A série Comida é arte - Terroir Brasil, apresentada pelo crítico Josimar Melo, chega ao público nesta sexta-feira (3), no canal Travel Box Brazil, e tentará responder, após investigações dentro das cozinhas brasileiras, se, de fato, a gastronomia pode ser considerada uma expressão artística. O projeto é coprodução da 99 Produções, Alumia Filmes e Lira Filmes, além dos produtores associados Lôbo Conteúdo, InnSaei Produtora e Engenho Gastronomia.
Milho, Açúcar, Feijão, Amendoim, Bode, Café, Mandioca, Taioba, Peixe, Porco, Frutos do Mar e Queijo. O que se assemelha à uma lista de compras no mercado são, na verdade, os nomes dos capítulos, que nortearão o assunto abordado no dia. Dividida em treze episódios, a série vai viajar entre o eixo Pernambuco-São Paulo, trazendo chefs, especialistas e artistas como convidados especiais em cada um dos capítulos. O primeiro, com a temática “Comida é arte?”, contará com a presença dos sociólogos Carlos Alberto Dória e Clarissa Galvão, dos chefs Cézar Costa e André Saburó e muitas outras participações.
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Paulo Caldas, um dos idealizadores, relata que sempre foi um ávido consumidor de conteúdos voltados para a área gastronômica, como séries, livros e revistas. Ele acredita que, conhecendo a culinária de determinada região, você passa a entender a cultura geral daquele povo. E é isso que faz sempre que viaja para fora e pelo Brasil. Com isso, surgiu o desejo de trabalhar com um material audiovisual que envolvesse comida, trazendo um olhar para além dos que os programas já existentes se propõem a fazer, geralmente pautados em competições entre profissionais ou passo a passo de receitas.
"É uma série que instiga o pensar da comida, o pensar cultural da comida, o pensar antropológico. Esses são os aspectos mais importantes do conceito e, sendo assim, o nosso objetivo principal é divulgar o pensamento desses chefs, desses artistas, promovendo um debate acerca da gastronomia e acerca da importância da brasilidade”, afirma.
Bárbara Cunha partilha o posto de diretora com Paulo Caldas. Ela diz, ciente de sua posição, que diferente do que muitos pensam, senão a maioria, comida é muito mais que combustível para nossa sobrevivência. “Ultrapassando o ponto de vista social, que escancara um sistema político e econômico de imensas desigualdades, penso que é um privilégio poder pensar nossa alimentação sobre outra ótica”, ressalta.
O projeto não é o primeiro de Bárbara, atualmente na 99 Produções. Suas produções costumam trazer pesquisas, imersão e reflexões. Com o Comida é arte - Terroir Brasil não poderia ser diferente. “Pensar na comida e poder ampliar o debate para temas como agricultura familiar, alimento sem agrotóxicos, reforma agrária, sobre cozinhar e se curar através do alimento, sobre equidade de gênero nas funções de poder na alta gastronomia, refletir sobre o que fomenta a nossa identidade, o que tece a nossa cultura, sobre a estética do prato”, diz.
O rosto que mais aparecerá na série, Josival Melo, já é expert em gastronomia. O crítico enxerga o programa como um acontecimento bastante positivo e impactante. Ele explica o diferencial dele para suas outras experiências na área - que são muitas. “Não me limitar a conversar com chefs de cozinha, com cujo trabalho já tenho familiaridade, mas falar com artistas de várias extrações, dos pernambucanos José Patrício e Bozó Bacamarte aos paulistas Rosana Paulino e Renato Teixeira, cada um com sua especialidade, cada um com sua linguagem, mas todos refletindo também sobre a comida”, conta.
A pandemia, felizmente, não atrapalhou as gravações, finalizadas antes mesmo do período de isolamento social. Entretanto, o lançamento teve que abdicar do tradicional coquetel e da coletiva de imprensa. Mas, certamente, isso não é visto como empecilho pelos diretores, felizes com a possibilidade de proporcionar conteúdo inédito e inovador para um público afundado em reprises televisivas.
“A série estreia em um momento em que o alimento e a arte se mostram fundamentais para nossa saúde física e emocional: pandemia e isolamento social. Repensar nossa comida e compreender a importância da nossa cultura, em julho de 2020, salta à vista”, comemora Bárbara Cunha.
Ela ainda revela uma possível continuação da série, trabalhando em cima de assuntos e chefs não focados na temporada atual. “Nossa intenção é, em cada temporada, escolhermos sempre dois Estados brasileiros para serem explorados, mapeando todo nosso território, em sua amplitude. E em seguida, pensamos em temporadas em outros países”, afirma.
“Comida é arte - Terroir Brasil”, que tem consultoria gastronômica de Leo Barbosa, será lançado em 3 de julho, no canal Travel Box Brazil. Como bem diriam os Titãs: “A gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte.”
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