Os caminhos artísticos do jovem Léo da Bodega começaram nas cordas da rabeca e desembocaram nos beats do trap. Aos 24 anos e com dois singles lançados, Léo está escalado no line-up do Coquetel Molotov.EXE, edição online do tradicional festival adaptada para os tempos de pandemia. Trata-se de um artista lançado na quarentena e que fará sua primeira apresentação no mesmo período, dando vazão a um trap olindense que vinha sendo idealizado há um tempo, mas que só pôde chegar para as ruas quando elas estão mais vazias.
Os singles Anjo e Lareira, carregados por uma levada de proposta envolvente e suave, foram capazes de trazer alguns holofotes para Léo dentro da cena local com dois videoclipes. Mas sua história com a música começa ainda na infância, já inserido em iniciativas de cultura popular, em especial algumas idealizadas pelo Mestre Salustiano, como o maracatu Piaba de Ouro e a Casa da Rabeca. Léo também a chegou participar de escolas de samba de bairro, mas se afastou da música e foi cursar fisioterapia. Perto do fim do curso, viu que não dava para ficar muito longe desse negócio de música e foi estudar produção fonográfica, começo um retorno que culminaria nos trabalhos recentes.
"Quando eu fui estudar produção, surgiu esse desejo de cantar. Eu moro no Sítio Histórico de Olinda, que é um lugar onde todo mundo faz arte, sempre tem um vizinho envolvido com música, então a região foi uma influência forte nisso. Nas festas por lá foi onde conheci o pessoal que está comigo hoje, começando trocando ideia sobre produção e mercado, formando hoje um coletivo", relata Leo. Na caminhada, foi se juntando com alguns nomes como Alice Barreto, parceira de produção artística/executiva e hoje sua namorada, além dos produtores AK Beatmaker, Jovem Ralph, Rômulo Beatmaker e Beaga, com quem formaria o coletivo batizado de Lombra Metragem, hoje uma produtora independente que trabalha também com outros artistas.
Lareira, sua primeira empreitada em forma de single, foi gravado no final de 2018, mas só pode ganhar as plataformas em maio deste ano. O grupo não queria entrar de qualquer jeito no mercado, a ideia era estrear chamando atenção e engajando o máximo possível. Para isso, mirabolaram um clipe na melhor qualidade que eram capazes e foram desenvolvendo-o, pensando em roteiros e maneiras de viabilizá-lo. “A gente não estava com tanta grana e queríamos fazer algo de alta qualidade, em 4K e com uma mixagem massa. Tivemos que pensar em um roteiro que pudesse ser gravado em um dia, além de ir estabelecendo uma rede de pessoas que o tornaram viável”, lembra Leo.
Em setembro, a produção estava pronta, mas optaram por ter os mesmo cuidados para sua distribuição, com uma divulgação também potente, demandando mais tempo para angariar recursos. Os planos iniciais eram para dezembro, o que não foi possível, sendo transferidos para depois do carnaval. Até que apareceu um tal de coronavírus e Léo acabou se transformando em um artista filho da quarentena. “Trabalhamos no carnaval para conseguir juntar dinheiro, a ideia era fazer um evento de lançamento. Veio a pandemia e decidimos então dar esse tiro no escuro. Conseguimos nosso primeiro reconhecimento e atingimos ótimos números para nosso nicho. E o network que veio junto foi a coisa mais importante disso tudo”, relata.
São primeiros passos que vêm dando certo. O som não está podendo tomar as ruas fisicamente, mas Leo vem lidando bem com o fato de estar dando esses passos no momento atual e continua produzindo, persistindo, fazendo valer os versos Tu sabe que nada pra um cara de Olinda é demais. "Eu tenho o privilégio de conseguir ter um equipamento em casa, então juntei Alice e AK para passar a quarentena comigo, então estamos trabalhando, vimos que o negócio é sério com a repercussão dos lançamentos, muita gente chegando junto, inclusive gente que sempre admirei. Agora esse mix de felicidade e ansiedade com o Coquetel Molotov ser minha estreia. Muito feliz com a oportunidade e espero também logo saber o gostinho de cantar para um grande público presencial", diz Leo.
Na apresentação, ele apresentará os próximos sons já prontos para ganhar o mundo, que incluem lançamentos isolados e uma mixtape, prevista para ser lançada entre agosto e setembro. O trap é algo que encanta suas pretensões, mas também se inclina a adicionar texturas locais e referenciar atmosferas dos espaços de sua vivência, como já o fez com a Praia do L e o drinque Axé. Ele pretende também incorporar elementos da cultura popular presentes desde sempre em sua vida. O cordel, por exemplo, já está inserido em um plano próximo de lançamento.
"Tudo isso é muito natural e acaba saindo como uma consequência. Não fazemos um beat e pensamos nele com a atmosfera de Olinda, por exemplo. Mas ele acaba encontrando uma atmosfera tão específica com a nossa criação de variações melódicas e acaba tendo essa forma", explica. Léo se apresenta às 17h10, no palco Itaipava, acessado via Zoom.
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