Natural do Recife, Mazuli é um cantor e compositor de 24 anos. Otto, natural de Belo Jardim, tem 52 anos e dispensa apresentações. Em comum, ambos habitam Pernambuco – como território físico e de aspirações artísticas.
Mazuli e Otto estão juntos no single 8 ou 80, lançado nesta semana nas plataformas digitais.
A canção, um encontro entre gerações de músicos locais, carrega a força desse casamento com uma pegada dançante e uma lírica forte – aliás, coisas não antônimas.
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Mazuli, que iniciou sua carreira por volta de 2016, traz referências de artistas do interior de Pernambuco e da música pop, romântica e brega do Brasil. Sua inspiração parte da visceralidade e sabedoria dos poetas do Pajeú, passando pela emoção de Gonzaguinha até o brega de Odair José, como ele mesmo define.
“Nas canções que componho, uno minhas palavras a uma estética sonora dançante com o protagonismo de guitarras, sintetizadores e percussão”, diz.
Pelas características, as intersecções com Otto não foram um problema. 8 ou 80, segundo ele, “trata da dor e da delícia de ter coragem para escolhermos o próprio caminho e como essas escolhas contribuírem para uma sociedade mais justa”.
No single, eles unem o contraste das vozes como uma percussão, com ambas se misturando nos versos e refrões (quase “ad libs” de Otto). Aliás, o refrão que cola como chiclete na repetição do “8 ou 80, mas nunca em cima do muro” é um grito de reafirmação do homem como senhor das decisões da sua vida.
“Se não tá pronto não suba na corda/ Mas desce do muro e vem ver como é”, finca Otto na canção.
Nas limitações da quarentena, a dupla se organizou para colaborar à distância. A participação de Otto, por exemplo, foi gravada no home studio de Remi Chatain, em São Paulo. Já Mazuli utilizou o estúdio de Pedro Lião, no Recife, para a voz, enquanto o restante da banda gravou nos estúdios Zelo e Cantilena, ambos na Capital pernambucana.
O single é acompanhado por uma animação do projeto pernambucano Ciberdelia, criado em 2016 pelo artista visual recifense Matheus Xavier. O clipe, assim como a capa do single, remete a um jogo de videogame que tem a La Ursa, figura típica do carnaval de Pernambuco, como personagem principal. Ela faz um tour pelo centro histórico do Recife e também aparece no Rio Capibaribe.
“O clipe foi feito com colagens inspiradas em diversos jogos eletrônicos de arcade (fliperama), como Alex Kidd e Mario Bros. A animação narra as aventuras de uma la ursa equilibrista no cenário de um Recife que respira a dualidade entre 8 ou 80. A la ursa passa por lugares históricos da nossa cidade - Teatro Santa Isabel, Rua da Aurora, Ponte Duarte Coelho, Avenida Conde da Boa Vista – e ainda navega pelas águas do Rio Capibaribe. Os elementos da cultura pernambucana formam toda a estética do clipe”, diz Matheus.
O projeto independente surgiu da ideia de experimentação visual ao observador por meio de diferentes formas de fazer arte e da imersão no mundo imaterial dentro de colagens analógicas, digitais, ilustrações e animações. Uma mistura dos movimentos de cyberpunk, com uma antropofagia à pernambucana.
O que é perceptível na maioria dos trabalhos, que reúnem elementos da cultura pernambucana e nordestina em conjunto com as influências de movimentos artísticos - dadaísmo, surrealismo, armorial e manguebeat.
Na curta e já prolífica carreira, Mazuli lançou seu EP Desafogo, produzido por Pedro Lião, em 2019. O projeto contou com as participações de artistas pernambucanos como Sofia Freire, Tiné (vocalista da Academia da Berlinda e Orquestra Contemporânea de Olinda) e Helton Moura. Atualmente, ele também integra a Mostra contemporânea Reverbo, cena da música autoral e coletiva pernambucana.
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