Una

Una performa voz e corpo em 'Esquartejada'

Artista pernambucana lança na próxima sexta (04) o álbum 'Esquartejada', projeto musico-performático para ver, ouvir e sentir

João Rêgo
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João Rêgo
Publicado em 30/09/2019 às 14:13
Foto: Beto Eiras/Divulgação
Em Chão, a dupla se propõe a exercitar uma linguagem mais próxima de uma informalidade - FOTO: Foto: Beto Eiras/Divulgação
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Se a boca é o intermédio entre a voz, o cantor e o público, a artista pernambucana Una canta com o seu corpo inteiro. Desde 2007 no ramo – inicialmente como Aninha Martins –, a artista vem se estabelecendo como uma das vozes mais inventivas e autorais da cena musical pernambucana. Nesta sexta-feira (04), lança o seu primeiro projeto de 11 faixas, intitulado Esquartejada – fruto de uma série de composições que vem apresentando durante seus shows.

Sempre em movimento, sua trajetória na música é de inquietação. Com 18 anos ingressou no Conservatório Pernambucano de Música, interrompendo o curso por não se identificar com as estruturas disciplinares da instituição. Rumou em 2008 para a banda Sabiá Sensível, onde casou suas duas paixões: o teatro (a primeira com que teve contato) e a música. De lá para cá, sua carreira vem sendo bastante prolífica; se apresentou em festivais como o Abril Pro Rock, Rec–Beat, Psicodália, Recife Lo-fi, além de participar atualmente do projeto A Dita Curva.

Na trajetória sempre conservou uma urgência de romper as dualidades entre a voz e o corpo. O que pode ser visto, por exemplo, na série de videoclipes que vêm lançando no Youtube. O último deles, da canção Faz Ideia, com direção de Chico Ludermir, entrelaça visualmente a incomunicabilidade proposta pela composição e a perfomance enigmática da artista Flávia Pinheiro.

“A minha voz sai de dentro do meu coração e se mistura no corpo todo. Dentro da proposta do Esquartejada, por exemplo, o corpo não pode, não poderia e não poderá ficar ileso. Eu canto com ele todo, pronto para que essas micro-potências que formam esse corpo fragmentado se mantenham inteiras na possibilidade de ser. O que se fala nas letras do espetáculo mostra esse caos e essa profundidade que eu carrego dentro de mim”, explica Una.

No palco, essa característica é expandida na sua própria presença. A voz estridente, quase gritada, transita entre tons mais clássicos e a frontalidade do punk. Aliadas a sua performance corporal, as letras das composições cantadas emanam ironias, metáforas e potências críticas. Um campo quase infinito de significações.

Faz Ideia, por exemplo, concebe o esboço de uma balada romântica para transfigurá-la em um certame de distâncias e fronteiras entre o eu e o outro. “Ela diz muito sobre essa impossibilidade de falar certas coisas, e até esse desconforto que é o comunicar sobre o desconhecido que acontece em mim, em nós, no dentro, no fora”, explica. Salomão, Útero e Paola Mulher são frutos de processos semelhantes, mesmo que tratem com mais frontalidade dos temas que discutem.

Toda sua complexidade como artista é perceptível também pela diversidade das suas influências. “Itamar Assumpção, com certeza. Etta James, Odetta, Tiny Tim, Grupo Rumo, Plantasia, Lata Mangeshkar, Led Zeppelin, Ava Rocha, Solange Knowles, Shevchenko & Elloco (o mais recente)”, enumera.

ESQUARTEJADA

Definir sonoramente o disco é algo antônimo ao que ele propõe. Esquartejada é um trabalho musico-performático, para se ouvir e assistir, ou conceber imageticamente, um corpo em movimento. Una é parte central nesse processo, quase como uma regente da sua banda – composta pelos talentosos músicos Hugo Coutinho (teclado), Rodrigo Padrão (Guitarra), Iezu Kaeru (Bateria), Victor Giovanni (Baixo) e Aline Borba (Flauta). “Primeiramente, eu me identifico totalmente como intérprete. Intérprete da minha composição de cena, desse corpo performático. O meu forte mesmo é a arte do palco”, conta.

Sua presença física e representativa, no entanto, não se encerra no palco. “Como uma mulher preta, pobre e nordestina, a minha única saída é a resistência. Até agora e em toda minha história, resistência até a ultima gota”, ressalta a artista.

“E espero que o extermínio da juventude negra, que não é só física, não caia sobre o meu trabalho. Estou aqui, estou pronta. Para que outras mulheres quem venham depois de mim, acreditem e achem possível viver do que se gosta e do que se sabe fazer. É por elas que estou aqui”.

 

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