ARTESANATO

Site Mulheres que Tecem Pernambuco lança segunda edição com debates online

Projeto divulga agora o resultado dos textos, fotos e vídeos produzidos com artesãs da cultura têxtil nos municípios de Macaparana e Passira

Nathália Pereira
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Nathália Pereira
Publicado em 02/12/2020 às 13:10 | Atualizado em 19/01/2021 às 22:35
LAURA MELO/DIVULGAÇÃO
Kátia Milene faz parte da nova geração de artesãs do crochê em Macaparana - FOTO: LAURA MELO/DIVULGAÇÃO

Entra no ar oficialmente nesta quarta-feira (2) a nova edição do site Mulheres que Tecem Pernambuco, projeto que mapeia histórias e atuações de trabalhadoras da cultura têxtil do Estado. Juntam-se à Lagoa do Carro, Poção e Tacaratu, cidades retratadas na primeira fase, os municípios de Macaparana, na Zona da Mata, e Passira, no Agreste.

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A pesquisa terá duas atividades online de lançamento, sendo a primeira um bate-papo realizado hoje com a equipe que foi a campo nesta etapa. Laura Melo (fotógrafa e videomaker), Clarissa Machado (artista visual e pesquisadora), Lucyana Azevedo (pesquisadora), Rose Lima (produtora executiva), Laura Morgado (designer), Célia Menezes (webdesigner) e Clara Nogueira, pesquisadora e coordenadora da pesquisa, conversarão sobre o processo de construção do trabalho, a partir das 15h, no canal do Mulheres que Tecem Pernambuco no YouTube (veja abaixo). A mediação será de Kalor Pacheco.

Na sexta-feira, também às 15h, Dona Lúcia Firmino, artesã de Passira, e Katia Milene, de Macaparana, vão ao mesmo endereço web para dividir com Clara Nogueira impressões sobre suas artes, vivências e participação no projeto.

LIGAÇÃO

A relação da equipe do Mulheres que Tecem com as artistas entrevistadas vai além da formalidade exigida pela pesquisa e isso se dá também pela ligação de várias delas com o tipo de artesanato retratado. Clarissa Machado, por exemplo, atua no site como pesquisadora e artista visual - sua área de formação. A experimentação têxtil, em diversos suportes, tem sido o foco de seus trabalhos visuais. Clarissa foi a pesquisadora responsável por conhecer as mulheres de Macaparana.

Lá, encontrou Kátia Milene, de 25 anos. Mãe de Enzo e filha de Emília, a jovem artesã aprendeu os truques do crochê com a matriarca ainda criança.

"Achei interessante o projeto Mulheres que Tecem Pernambuco pelo fato de dar importância ao processo criativo do artesanato. Digamos que aqui, na região onde a gente mora, a gente não tem a devida visibilidade. Nós, que fazemos artesanato. O trabalho vai embora. E muita gente que compra e que recebe não sabe nem a pessoa que fez", comenta Milene.

Para Passira viajou a pesquisadora Lucyana Azevedo, designer de moda, mestre em design, cultura e tecnologia e também artesã têxtil. É a cidade onde vive Dona Maria da Paz que, assim como Milene, não se separa do bordado desde os 11 anos. Nessa época, já conciliava linhas e agulhas com o dia a dia no roçado.

A coordenadora Clara, arquiteta e urbanista, é mestra em artes visuais e "bordadeira, tecelã e crocheteira nos desvios", como ela mesma se apresenta.

"Meu trabalho com o têxtil levantou a bola para conhecer essas mulheres que também manipulam o têxtil em Pernambuco. A produção pessoal das meninas foi importante porque as deixa mais sensíveis a entender como é que funciona, apesar das distâncias gigantescas. A gente mora na região metropolitana (da capital), temos acesso a esse campo das artes visuais - e ao reconhecimento que vem dele - e elas são invisíveis dentro de vários sistemas, não só o econômico, como do estado", ressalta Clara Nogueira.

POLÍTICA E CONTINUIDADE

Clara chama atenção, ainda, para o fato de que durante a primeira edição do site, esbarraram com o impedimento de registro do rosto das artesãs com as quais conversaram. Isso porque boa parte delas, além de artesãs, são também agricultoras, e como tal, não poderiam exercer outra profissão remunerada. A vinculação da imagem delas ao artesanato com profissão poderia prejudicá-las.

"Isso vem sendo combatido pelos profissionais da cultura, no Plano Setorial do Artesanato [divulgado em 2018 pela Secretaria Especial da Cultura e que engloba o artesanato tradicional, no qual se encaixa a arte das Mulheres que Tecem Pernambuco, e o contemporâneo] já se fala sobre isso. Essa invisibilidade se dá mesmo de forma sistêmica, não eram elas que não queriam aparecer".

Ao acessar o site, é possível ver que algumas das artesãs são identificadas apenas com a inicial do nome e que a foto que ilustra o texto mostra a arte, sem identificar a autora, alternativa encontrada pela equipe para que essas profissionais não ficassem de fora do mapeamento. A situação foi mais recorrente na primeira fase, mas Clara conta que o cuidado ao reportar as histórias dessas mulheres permanece, e que cada etapa de construção do material é compartilhada com cada uma delas.

Formado por narrativas registradas em textos, fotografias e vídeos, o Mulheres que Tecem Pernambuco é fruto de uma metodologia idealizada e lapidada desde 2014. Este segundo período de publicação resulta de um trabalho de campo feito entre dezembro e janeiro últimos.

"A gente tenta trazer o protagonismo para essas mulheres", diz Clara Nogueira. "As cidades foram escolhidas não só pelo fazer, mas porque detém títulos, como Macaparana, que é a Capital Estadual do Crochê. Mas a gente sabe que esses títulos são feitos por pessoas e a maioria delas é mulher", conclui.

O trabalho completo pode ser conferido em mulheresquetecempe.com.br.

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