Artesanato

Projeto conta histórias de mulheres do artesanato no interior de PE

O site 'mulheresquetecempe.com.br' foi lançado neste sábado (14) e teve apoio do Funcultura

Duda Lapenda
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Duda Lapenda
Publicado em 14/04/2018 às 23:05
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Aos sete anos de idade, Risolange Rodrigues entrava em contato com a arte da tapeçaria pela primeira vez. Aos oito, produziu seu primeiro tapete, que leva em média um mês para ficar pronto. Ao se referir ao seu “saber-fazer”, ela brinca e diz que é prático. Na Vila Luiz Otávio Guerra aprendeu, acima de tudo, que artesanato é afeto. “O artesanato, na minha vida, surgiu não por obrigação, não por necessidade financeira, mas porque eu queria ajudar, as outras amigas que estavam ali naquela rua”.

Risolange, que é presidente da Associação das Tapeceiras de Lagoa do Carro, foi uma das que esteve presente no lançamento do projeto Mulheres que Tecem Pernambuco, neste sábado (14), às 14h, no Centro do Artesanato de Pernambuco, localizado no Marco Zero. O projeto foi financiado pelo Funcultura.

A ideia de Clara Nogueira, arquiteta e pesquisadora, surgiu do seu contato com o bordado que fazia em um semi-internato em Olinda, ainda criança. Suas raízes as inspirou a contar histórias de 18 mulheres que fazem artesanato nas cidades de Lagoa do Carro (Zona da Mata Norte), conhecido por sua Tapeçaria; Poção (Agreste Central), onde pratica-se a tradicional Renda Renascença, e por fim Tacaratu, conhecida pela tecelagem (e seu distrito Caraibeiras, no Sertão Itaparica).

Na cidade grande, a curiosidade de conhecer as criadoras por trás das peças as quais admirava levou Clara a viajar pelo interior com a psicóloga e pesquisadora Luiza Maretto e a fotógrafa Laís Domingues. Questões como a prática do artesanato enquanto um aspecto cultural e afetivo, relações de gênero, formas de organização coletiva e até mesmo o embate entre o manual e o industrial nortearam a pesquisa.

A situação pode ser descrita como um processo de resistência. Risolange explica que somente as veteranas conseguem viver economicamente da prática, devido aos clientes já conquistados. A organização, cumpre, assim, uma função simbólica e socioeconômica, na falta de políticas públicas adequadas. “É uma associação de luta, por estar trabalhando a questão da auto-estima, do saber-fazer, da geração de renda, e também do fortalecimento de gênero”.

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Clara Nogueira - Divulgação
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Poção - Divulgação
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Tacaratu - Divulgação
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Tacaratu - Divulgação

Das três cidades, somente em Lagoa existe alguma forma de organização. Ainda assim, elas sofrem com a sazonalidade das vendas e o número de associadas caiu de 200 para 20. O cenário é outro “Aquele cenário lúdico que era visto antigamente das tapeceiras na frente da casa enchendo aqueles grandes tapetes, a gente não viu isso, a gente só vê uma tapeteira transeunte passando na rua”, diz Clara.

Cenário difícil

Em Poção, o sistema não é favorável devido ao monopólio das fábricas. As mulheres sofrem sem incentivo, principalmente após o fechamento da feira que acontecia na cidade. “Antes existia uma feira lá, onde as rendeiras faziam e vendiam, e ela foi retirada. As mulheres dependem e fazem os trabalhos pra fábrica. Elas pagam o material, vendem muito barato, e quem ganha dinheiro é quem atravessa ou as fábricas”, lamenta Clara.

Já em Caraibeiras, a situação não é muito diferente. A concorrência desleal excluem as mulheres da dinâmica de mercado. “No Sítio Olho D’água tem mulheres que ainda resistem fazendo redes no tear de pau, onde elas tecem usando o corpo todo. Elas fazem uma rede em uma semana e vendem por 20 reais”, continua a idealizadora.

As resistentes “fazedoras de cidades”, que deram os status comerciais às suas terras, narram suas próprias histórias nos textos lançados no site mulheresquetecempe.com.br, onde também há fotos, vídeos e áudios frutos da pesquisa.

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