TRADIÇÃO

Livro de arte-reportagem foca na intimidade e no respeito à tradição secular do Cambinda Brasileira

Produzido pela jornalista Adriana Guarda e pelo fotógrafo Heudes Regis, o livro Festa no Terreiro Mágico - 100 Anos do Cambinda Brasileira é lançado neste fim de semana

Valentine Herold
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Valentine Herold
Publicado em 12/12/2020 às 7:11
HEUDES REGIS/ DIVULGAÇÃO
TRADIÇÃO SAGRADA Cambinda Brasileira é berço de mestres, músicos e artesãos do maracatu rural - FOTO: HEUDES REGIS/ DIVULGAÇÃO

Este ano, mais do que nunca, a arte nos permitiu viajar sem sair de casa, imaginar outros mundos e se deixar levar um pouco por esse escapismo tão necessário. Neste domingo (13), como um convite à Zona da Mata Norte em um fim de semana de sambada, Adriana Guarda e Heudes Regis lançam o livro Festa no Terreiro Mágico - 100 Anos do Cambinda Brasileira, um mergulho literário e fotográfico no dia a dia do maracatu rural mais antigo em atividade ininterrupta do país.

A obra é uma convidativa porta de entrada para os que ainda não foram iniciados à este universo mágico, que carrega consigo uma força e religiosidade ancestral. Divididos em cinco capítulos, os textos da pesquisadora e jornalista Adriana Guarda e as imagens do fotógrafo Heudes Regis exalam o respeito de quem acompanha a Cambinda Brasileira há alguns anos e deseja reverenciar sua tradição secular.

HEUDES REGIS/DIVULGAÇÃO
ANTROPOLOGIA DA IMAGEM Em suasfotos, Heudes Regis busca a essência dos brincantes do Cambinda - HEUDES REGIS/DIVULGAÇÃO

O lançamento estava previsto para acontecer em Nazaré da Mata, cidade do brinquedo, com uma grande festa, mas diante do contexto da pandemia os autores optaram por um evento virtual. A partir das 15h, a dupla vai fazer uma live com a presidente do Cambinda Brasileira, Edlamar Lopes, na página oficial do projeto no Facebook. O PDF do livro vai ficar disponível para ser baixado gratuitamente, mas quem desejar o exemplar físico (102 pgs., R$ 40) pode entrar em contato através da rede social.

Setenta fotografias compõem a narrativa do livro, fugindo da bela mas óbvia explosão de cores das golas dos caboclos comumente utilizadas em propagandas institucionais. Tendo optado por evidenciar olhares, gestos, rituais e algumas paisagens, Heudes Regis revela com muita sensibilidade o olhar de quem acompanha de perto o Cambinda. Essa intimidade se reflete também nos textos de Adriana, que retrata as histórias de algumas das figuras marcantes do grupo e compartilhar um pouco dos bastidores das realizações dos festejos.

"Por quatro anos íamos quase de 15 em 15 dias a Nazaré para acompanhar as atividades do Cambinda Brasileira. Mesmo quando não tinha festa, estávamos lá, vendo os caboclos costurando suas golas, o movimento das preparações que duram o ano inteiro até o ápice da festa. A ideia do projeto é justamente trazer o maracatu de dentro para fora", conta o fotógrafo.

Através da trajetória da centenária Cambinda Brasileira, é contada também um pouco a história de tantos outros maracatus rurais. "Ela é conhecida como a mãe dos maracatus rurais, outros grupos surgiram a partir dela. Sua história e atuação é muito importância, ali é um nascedouro de mestres e músicos", pontua Adriana.

Sobre o misticismo que é atrelado ao brinquedo, a dupla conta que é difícil de simplesmente descrever. Diversos rituais fazem parte da preparação dos brincantes para a festa e há um elemento religioso da ancestralidade indígena da Jurema Sagrada muito forte. "Os folgazões, que são os brincantes, procuram suas madrinhas espirituais antes do Carnaval para receber as entidades que irão protegê-los durante o festejo. Depois, voltam para devolvê-los. É algo realmente transcendental e que dificilmente pode ser entendido sem a vivência", explica a autora.

Festa no Terreiro Mágico: 100 anos do Cambinda Brasileira é um belo projeto de salvaguarda de uma expressão cultural que Pernambuco tanto se orgulha, mas pouco faz de fato para manter viva. Manter um grupo de maracatu não é barato. Os brincantes são quase todos trabalhadores rurais das plantações de cana de açúcar que tiram dos próprios bolsos o subsídio para manter suas atividades. Há uma demanda interna por mais ajuda e reconhecimento governamental.

Como Adriana e Heudes evidenciam, eles desejam poder aproximar o leitor do maracatu de baque solto e da singularidade do Cambinda Brasileira, deixando para trás esse "olhar estrangeiro" sobre a brincadeira.

HEUDES REGIS/ DIVULGAÇÃO
Festa no Terreiro Mágico: 100 anos do Cambinda Brasileira - HEUDES REGIS/ DIVULGAÇÃO

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