O governo de Pernambuco elegeu, durante reunião on-line do Conselho Estadual de Preservação do Patrimônio Cultural (CEPPC), realizada nesta sexta-feira (4), seis novos nomes para integrarem a lista dos 69 Patrimônios Vivos do Estado. A eleição faz parte do XV Concurso do Registro do Patrimônio Vivo de Pernambuco.
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A lista dos novos escolhidos conta com os nomes da Mestra Ana Lúcia (Coco-Olinda); Clube Carnavalesco Misto Elefante de Olinda (Frevo-Olinda); Grupo Cultural e Religioso Guardiões(ãs) de São Gonçalo de Itacuruba (Dança de São Gonçalo-Itacuruba); J. Michellis (Frevo-Olinda); As Pretinhas do Congo (Cultura Negra-Goiana) e Dona Menininha do Alfenim (Doceira-Agrestina).
O Registro do Patrimônio Vivo de Pernambuco tem o intuito de apoiar financeiramente e preservar os processos de criação e divulgação de técnicas e saberes das culturas pernambucanas. As atividades podem ser executadas por físicas ou jurídicas de natureza cultural, sem fins lucrativos e com atuação no Estado há mais de 20 anos, contados da data do pedido de inscrição.
Nesta edição, 99 candidatos concorreram e tiveram as suas candidaturas analisadas pelo conselho. Entre os vencedores, representantes da Região Metropolitana do Recife, Zona da Mata, Agreste e Sertão de Pernambuco.
A eleição
A eleição dos Patrimônios Vivos é composta por várias etapas. Após o período de inscrição, os candidatos passam pela fase de análise documental. Uma vez habilitados, o nome dos inscritos seguem para a Comissão de Análise, que observa se as candidaturas cumprem os critérios estabelecidos na Lei 12.196/2002.
Os escolhidos recebem o diploma com o título de “Patrimônios Vivos de Pernambuco” além de uma bolsa mensal vitalícia no valor de R$ 1.600,00 (no caso de pessoa física) e R$ 3.200,00 (quando for grupo, entidade, agremiação ou associação).
Histórico dos eleitos
- Mestra Ana Lúcia (Olinda)
Com 76 anos dos quais mais de 70 são dedicados à cultura popular, sempre foi das artes e cresceu ouvindo seu pai cantarolar enquanto trabalhava. Ainda menina se envolveu com o samba de coco e desde então fez desse saber sua vida. Ainda por herança, tornou-se mestra do Pastoril Estrela de Belém, foi mestra do grupo de coco do Amaro Branco e posteriormente fundou o grupo de coco Raízes do Coco. A Mestra participa de vários eventos musicais e de formação. Realiza atividades o ano todo, a partir de sua casa, desde oficinas ensaios e apresentações.
- Clube Carnavalesco Misto Elefante de Olinda (Olinda)
Em 1950, no Carnaval de Olinda, um grupo de jovens, teve a ideia de pegar um biscuit que decorava a geladeira, em formato de elefante, e sair com ele pelas ruas. Encontraram pelo caminho a Pitombeira dos Quatro Cantos logo em seguida. No ano posterior saíram pelas ruas novamente, usando camisas do time do Bonfim, brancas e vermelhas. Até este momento não havia intenção de se criar um bloco. O mesmo veio a ser criado de fato em 12 de fevereiro de 1952.
Seu hino, "Olinda nº 2", foi composto por Claudio Nigro e Clóvis Pereira; é uma das mais executadas no carnaval de Pernambuco e é considerado um hino de Olinda. Ela chegou a ser oferecida à Pitombeira, que a recusou. Três anos depois, ao ser criado o bloco, foi oferecida ao Elefante, que aceitou após Cláudio Nigro incluir a palavra "elefante”.
- Grupo Cultural e Religioso Guardiões (ãs) de São Gonçalo de Itacuruba (Itacuruba)
O grupo de São Gonçalo de Itacuruba representa para a microrregião de ltacuruba uma manifestação de fé, cultura e resistência as maiores adversidades que um município e seu povo passaram através dos tempos. A existência desta manifestação remota a mais de cem anos, quando a atual ltacuruba era no distrito do município de Floresta e posteriormente de Belém do São Francisco. Por isso a forte ligação entre os dançadores(as) e tocadores(as) nas rodas de São Gonçalo, pois estes tinham e têm laços de família e até moradia nestes municípios.
- Dona Menininha do Alfenim (Agrestina)
O alfenim que era vendido na Feira de Caruaru, hoje Patrimônio Cultural e Material do Brasil, era advindo de Agrestina, que é detentora da tradição centenária de produção de Alfenim. O açúcar com alma de gente, como bem definiu em poesia o autor Claribalte Passos, era moldado pelas mãos habilidosas da mãe de Cazuza, Maria Belarmina, conhecida como Dona Menininha do Alfenim. Hoje, com 93 anos de idade.
J. Michelis (Olinda)
José Michiles da Silva, ou simplesmente, J. Michiles nasceu no Recife em 4 de fevereiro de 1943. Completou, portanto, no carnaval de 2020, 77 anos de idade. Pelo menos cinquenta deles foram dedicados à música e ao ensino. Compositor pernambucano consagrado na área do frevo, pode-se dizer que ele é criador de uma escola que traz como marcas indeléveis a leveza dos temas, a cadência bem mareada, o sincopado das frases, e a simplicidade musical como regra básica. "Difícil é fazer o fácil", costuma dizer o compositor. Deve ser mesmo, pois não há hoje em Pernambuco compositor de frevos canção que se destaque como ele. "Depois de Capiba, é o compositor mais executado no Carnaval", nas palavras do maestro Ademir Araújo. Em 2019, Jota Michiles teve sua biografia contada pelo escritor e pesquisador Carlos Eduardo Amaral, no livro Jota Michiles — Recife Manhã de Sol, lançada pela CEPE Editora. Apesar de suas composições serem mais conhecidas na voz de Alceu Valença, Michiles emprestou suas canções a artistas como Fafá de Belém (Fazendo Fumaça, Forró Fogoso e Negue), Dominguinhos (Estrela Gonzaga), Amelinha (Recife Nagô), Marrom Brasileiro (Nação Brasileira), André Rio (Queimando a Massa e Babado da Morena), Claudionor Germano (Queimando a Massa), Banda Pinguim (Queimando a Massa), Versão Brasileira (Perna Pra Que Te Quero), Nádia Maia (Espelho Doido), Novinho da Paraíba (Forró Fogoso) e Coral do Bloco da Saudade (Sonhos de Pierrô, Obrigado Criança e Bloco da Saudade), entre outros.
As Pretinhas do Congo (Goiana)
Para entender o que é a Pretinha do Congo, é preciso voltar até meados de 1930, quando o estivador Antônio Manoel dos Santos, conhecido como Pirrixiu, recebeu a “cessão” do brinquedo. Conta-se que o fundador não queria mais continuar e repassou o grupo. O brinquedo passou para a filha de Pirrixiu, Maria do Carmo Monteiro. Dona Carminha assumiu o grupo aos 10 anos de idade e o manteve em atividade a todo custo. Porém, quando ela faleceu, em 2014, muito da história e da música das Pretinhas se foi com ela. Desde então, Iracema e Rafaela, filha e neta de Dona Carminha, mantêm a Nação em atividade com o que aprenderam na oralidade e na vivência. Por muito tempo, a brincadeira ficou restrita às ruas da praia de Carne de Vaca porque grupos informais não podem receber recursos públicos ou entrar em apresentações oficiais.
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