Relação de Roberto Carlos com o Recife é marcada por fatos curiosos

Idolatrado em todo o Brasil (além da América Latina, Estados Unidos e em partes da Europa), Roberto Carlos guarda uma relação especial com o Recife. Na capital pernambucana, onde tem muitos fãs, o Rei já realizou vários shows, alguns deles inesquecíveis para a sua carreira, como o seu retorno aos palcos após um ano de luto pela morte de sua esposa, Maria Rita, no Geraldão, em novembro de 2000.

Desde os tempos da Jovem Guarda, Roberto Carlos é um fenômeno nacional. Nesta época, em meados dos anos 1960 e início dos anos 1970, suas aparições na televisão, em filmes e, claro, a presença constante nas rádios, faziam dele um nome inescapável que influenciou desde o comportamento até a moda de parte da juventude brasileira.

No livro Roberto Carlos: Por Isso Essa Voz Tamanha (Ed. Todavia, 512 páginas, R$ 72,20), o jornalista Jotabê Medeiros relembra alguns fatos envolvendo a trajetória do cantor e compositor com o Recife. Na capital pernambucana, ainda nos tempos do programa da Jovem Guarda, a chegada da atração causou tumulto.

“Só quem viu nossa chegada ao Recife, com o aeroporto totalmente tomado pelo público, que invadiu a pista e todas as dependências para abraçar os Favoritos da Nova Geração, pode avaliar”, contou Jerry Adriani em trecho reproduzido no livro. A obra aponta ainda que, na capital pernambucana, houve
um desfile com escolta de aviões da Força Aérea e carros do Corpo de Bombeiros conduzindo os veículos dos artistas.

Polêmica no Carnaval

No Carnaval de 1971, com a música Jesus Cristo ainda bombando nas paradas musicais, uma polêmica foi instaurada no Recife. Jotabê conta que alguns foliões da cidade anunciaram a produção de abadás com a imagem de cristo e a frase "Jesus Cristo, eu estou aqui". Em plena ditadura, a repressão foi rápida: vereadores invocaram "a moral e os bons costumes" e Newton Carneiro propôs a aprovação imediata de uma lei que proibia a execução das músicas em bares, boates e festas por ser uma "profaação da religião católica".

As camisas foram proibidas e chegou-se a fazer uma batida no comérico para recolher a camisa. O jornalista e escritor aponta que, no entanto, a medida não foi eficiente: os brincantes saíram com o abadá e, mesmo saindo às ruas com o risco de serem parados pela polícia, que os mandaria voltar para casa e trocar de roupa, as pessoas pularam o Carnaval com a frase estampada.

Retorno aos palcos

A morte da esposa de Roberto Carlos, Maria Rita, em 1999, em decorrência de um câncer, causou uma comoção nacional. De luto, o cantor e compositor cancelou uma série de compromissos e passou um período afastado dos palcos. Seu retorno aconteceu no Recife, em pleno Geraldão, um dos seus palcos mais tradicionais no Recife.

Segundo Jotabê, o retorno de Roberto causou uma romaria em direção ao Recife e 11 mil ingressos foram vendidos para a apresentação do dia 11 de novembro. No livro, o autor destaca alguns destaques do show, que foi marcado pela emoção.

"Às onze horas da noite de sábado, uma hora e meia depois do horário marcado, já era possível ouvir lá de fora da sauna superlotada do Geraldão um coro afinado. “Roberto, cadê você?/ Eu vim aqui só pra te ver!”, cantavam os aflitos fãs. Antes de sua chegada, a orquestra atacou o clássico pot-pourri instrumental
e então ele entrou, terno branco com camiseta, lenço no bolso do paletó, para cantar a música que tinha virado seu cartão de apresentação: Emoções. 'Amigos eu ganhei/ Saudades eu senti partindo/ E às vezes
eu deixei/ Você me ver chorar /Sorrindo', cantou, com aquela voz poderosa e o timing perfeito, como se nunca tivesse se afastado da cena. 'Que prazer rever vocês', disse Roberto, uma frase que repete na abertura de todos os seus shows. Mas, em seguida, ele se referiu à situação pela qual tinha passado. 'E vocês logicamente entenderam muito bem as razões, afirmou, causando uma enxurrada de aplausos. 'O Brasil me mima muito', afirmou.

No relato do escritor, o ginásio virou "um vale de lágrimas" e Roberto afastou-se do microfone duas vezes, parando de cantar para chorar. Jotabê conta que, somente quando cantou o repértório de canções Jovem Guarda, ele pareceu relaxar um pouco

Durante o show, várias imagens de Maria Rita foram exibidas no telão e ele encerrou o show com Amor Sem Limite, canção que ele considera a mais importante da sua vida.

"Nos intervalos entre as vinte canções, ele disse 58 vezes a palavra “amor”. Mesmo que fosse apenas esse seu manifesto, a multidão no Recife seguiria envolvendo o seu ídolo, como um cardume guiando um peixe perdido para fora da lama remexida do fundo de um rio barrento", conta o escritor no livro.