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Série 'Dom', do Amazon Prime Video, faz boa mistura de drama, ação e política

Nova produção brasileira, protagonizada por Gabriel Leone e Flávio Tolezani, estreia nesta sexta-feira (4)

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Cadastrado por

Márcio Bastos

Publicado em 02/06/2021 às 20:07 | Atualizado em 03/06/2021 às 7:41
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Dom, nova produção original do Amazon Prime Video, é marcada por elementos que a caracterizam tanto como uma tragédia com toques shakespeareanos, de caráter universal, quanto como uma história genuinamente brasileira, fruto das várias contradições do país. A série, que estreia dia 4 de junho na plataforma de streaming, é baseada na história real do assaltante Pedro "Dom" (interpretado por Gabriel Leone), que deixou a vida confortável na classe média carioca para mergulhar em uma vida de excessos, à margem da lei. A escolha o colocou no lado oposto de seu pai, Victor (Flávio Tolezani), um policial que por anos trabalhou no combate às drogas.

Pedro Machado Lomba Neto, conhecido como Pedro "Dom", figurou nos cadernos policiais cariocas no começo dos anos 2000 quando liderou uma quadrilha especializada em roubos de residências de luxo no Rio de Janeiro. Ele lutava contra a dependência por cocaína desde muito novo e entrou para o crime como uma forma de financiar o próprio vício. A desestruturação da sua família e a luta obstinada do pai para recuperar o filho são pontos centrais da série dirigida por Breno Silveira.

 

DIVULGAÇÃO
VISÃO Diretor Breno Silveira alimentou por mais de uma década o desejo de levar a história de Dom para as telas - DIVULGAÇÃO

O desejo de levar a história de Dom às telas acompanha Breno (2 Filhos de Francisco, 1 Contra Todos) há mais de uma década. Inicialmente, ele tinha em mente transformá-la em um filme e pediu que Tony Belloto escrevesse o roteiro. O projeto acabou engavetado por muito tempo e só foi retomado há alguns anos, não mais com o formato de longa, mas como uma série. Com o suporte do Amazon Prime Video, Dom parte da obra de Bellotto (cujo livro homônimo foi lançado ano passado) e de O Beijo da Bruxa, escrito por Victor Lomba, mas se permite, também, liberdades artísticas.

"A primeira vez que eu pensei nessa história, foi o próprio Victor que, há 12 anos, falou: 'Eu preciso te contar essa história porque você vai ter que levar essa história para o cinema. Nessa época, o Victor ainda muito dolorido com a morte do filho. Não foi um processo rápido. Muitos roteiristas desistiram e eu coloquei o Tony Bellotto junto com o Victor. Passei anos afastado e só voltei quando Tony terminou o livro", contou o diretor. "No momento em que o Victor entendeu que isso ia virar uma série, ele já estava com uma felicidade diferente, porque ele não queria que essa série fosse o registro de uma página sangrenta, de um filho criminoso morto, assassinado de uma forma brutal."

HUMANIZAÇÃO

O diretor atribui a complexidade que a série consegue captar, fugindo de maniqueísmos à participação ativa de Victor, que contribuiu com ideias até a sua morte em decorrência de câncer. Sua intenção, desde o começo, era focar na questão humana, desenvolver os personagens mais do que construir uma história sobre violência e o tráfico.

"É interessante você perceber como [Dom e Victor] são dois personagens muito diferentes e muito iguais. A gente costuma dizer, e era uma frase do Victor, que eles eram dois lados, mas da mesma moeda", pontuou. "Você entende como o Rio de Janeiro veio parar aqui e vê como a droga transformou a nossa sociedade, perverteu, viciou e implementou essa corrupção que nós temos."

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GUERRA ÀS DROGAS Dom (Gabriel Leone) e o pai, Victor (Flávio Tolezani) estão em lados opostos da lei - HANS GEORG/DIVULGAÇÃO

Para desenvolver a narrativa, a série atravessa três décadas: os anos 1970, durante a juventude de Victor, quando ele começa a trabalhar para a polícia; os 1990, com a infância de Dom e seu mergulho nas drogas; e os 2000, com ele no comando da quadrilha. Essas diferentes temporalidades, que não necessariamente são desenvolvidas de forma linear, ajudam a construir um arcabouço emocional robusto para todos os personagens, além de explicitar as transformações da dinâmica social e política do Rio de Janeiro ao longo dos anos.

Essa perspectiva universalizante da narrativa dialoga com o alcance do lançamento da série, que é produzida pela Conspiração e chega simultaneamente a mais de 200 territórios. Dom é uma das várias obras originais brasileiras da Amazon Prime que estreiam ao longo dos próximos meses.

"À primeira vista, talvez você pense, 'tem tiroteiro, favela, Rio de Janeiro', talvez te leve para um lugar específico que, para quem viu os episódios, percebe que a série é muito diferente disso. E essa parte surpreendente é muito interessante para a internacionalização da série. Por um lado, talvez o estrangeiro possa se atrair por uma coisa mais 'exótica' desse cenário, mas na verdade se identifica com os laços familiares que são construídos e também entre os amigos. Muitas pessoas da Índia, que trabalham no Amazon, têm falado emocionadas que parece que a história se passa em Mumbai, por exemplo. É uma história brasileira, mas que tem uma universalidade muito forte", enfatizou Malu Miranda, head de conteúdo original do Amazon Prime Video no Brasil.

LAÇOS DE FAMÍLIA

A preocupação com as nuances dos personagens, especialmente por ter como base pessoas reais e uma história que mexeu com o imaginário carioca, exigiu um minucioso trabalho de preparação do elenco, que é um dos destaques do da série. Além de um trabalho de mesa e de ensaios, os atores se lançaram em pesquisas intensas para dar vida a essas personalidades.

"Infelizmente a gente não conheceu o Victor, porque ele faleceu um pouco antes da gente entrar no projeto, mas o nosso farol, além do roteiro, sempre foi o Breno, porque ele teve mais contato com Victor. Então, além de diretor, foi também o nosso guia no sentido da construção dos personagens", explicou Gabriel Leone. "A gente sabia que um dos nossos maiores desafios era retratar [as situações] de uma maneira que ficasse crível e a gente sabia que a maneira de fazer isso era ir para dentro, para o sentimento, mais do que nas situações absurdas."

Flávio Tolezani enfatizou ainda que por muitas das cenas serem de tensão emocional, cruas, ele e Leone se lembravam constantemente que entre aqueles dois indivíduos, pai e filho, também existia muito afeto e que era importante resgatar esse sentimento constantemente.

"É impressionante como a gente foi amparado [nessa série], não só por ter um tempo de preparo grande — que é uma coisa que sinto falta, já que venho do teatro. Venho de uma companhia que a gente passava um ano ensaiando e você chegava muito vivenciado [na execução na obra] e estudado. E a gente foi muito amparado pela Amazon e pelo Breno para ir fundo [nesses personagens]. Foi muito prazeroso", disse Flávio.

No elenco, estão ainda os ótimos Filipe Bragança, Raquel Villar, Isabella Santoni, Ramon Francisco, Digão Ribeiro, Fabio Lago, Julia Konrad e André Mattos.

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