Jam & Lewis, responsáveis por moldar o r&b moderno, lançam seu primeiro álbum
Produtores criaram sucessos para Janet e Michael Jackson, Mariah Carey, TLC, entre outros
"Me dê uma batida", proclama uma assertiva Janet Jackson em Nasty, um dos sucessos do álbum Control (1986). Sua demanda foi atendida por uma dupla que ajudou não só a dar uma identidade ao som da caçula do clã mais famoso da música e transformá-la em uma estrela, como também a moldar o pop e o r&b pelas décadas seguintes. Mais do que produzir sucessos (e eles assinaram vários), Jimmy Jam & Terry Lewis ajudaram a transformar a música, derrubando as até então rígidas barreiras que separavam gêneros musicais, movimento que continua reverberando nos artistas contemporâneos. Depois de quatro décadas nos bastidores, o duo realizou o sonho antigo de lançar um álbum próprio, intitulado Jam & Lewis: Volume 1, já disponível nas plataformas digitais, via BMG e, para isso, convidou nomes ilustres que fizeram parte de sua trajetória artística.
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"Nós começamos a trabalhar no que pensávamos ser um álbum de Jam & Lewis há 35 anos. Estávamos produzindo nossas músicas quando iniciamos o processo do Control, com Janet. Quando pensamos que tínhamos acabado o disco, John McClain [executivo da gravadora A&R] disse que precisava de mais uma música [para Janet]. Ele ouviu uma faixa do nosso álbum, disse para tocarmos para Janet para ver se ela gostava, fizemos isso e ela amou. Essa música era What Have You Done For Me Lately, que virou o primeiro single do Control, basicamente lançou a carreira dela e acabou com a nossa no sentido de fazer nosso próprio disco. Ao longo dos anos, nós mostrávamos para os artistas canções que seriam para o nosso disco e eles sempre acabavam pedindo para ficar com a música", explicou Jam em entrevista ao Jornal do Commercio.
O desejo dos artistas de ficar com as canções da dupla é justificável: além das produções impecáveis, a dupla também é exímia na composição criando com a mesma facilidade canções de alta carga emocional e hinos da pista de dança. A qualidade artística e a conexão com o público reverberava nas paradas musicais: das músicas produzidas pelo duo, 16 ficaram em primeiro lugar na Billboard (parada musical americana); 26 singles atingiram o topo das paradas de R&B, além de acumularem 5 Grammy e uma indicação ao Oscar.
Ao longo da carreira, eles trabalharam com alguns dos maiores da música: além de Janet, produziram para artistas como Michael Jackson, George Michael, Aretha Franklin, Chaka Khan, Patti LaBelle, Rod Stewart, TLC, Spice Girls, Gwen Stefani e Prince, este uma das principais influências de Jam & Lewis, com quem trabalharam no início da carreira. O duo e Prince são apontados como responsáveis por moldar e popularizar o "som de Minneapolis", que mesclava elementos de funk, r&b, pop, rock, soul, gospel, entre outros ritmos.
Em 2017, quando entraram para o Hall da Fama dos Compositores e foram questionados sobre o que ainda não tinham realizado na carreira, foram enfáticos: lançar seu próprio disco. Começaram então a trabalhar no projeto e decidiram ser "egoístas", como brincou Lewis, mantendo as canções para si, não importa com quem fosse trabalhar. Eles estão fizeram uma lista de artistas com quem gostariam de voltar a colaborar e também aqueles para quem desejavam produzir.
Neste primeiro volume, eles retomam parcerias com Mariah Carey, Sounds of Blackness, Mary J. Blige, Boyz II Men e Usher e trabalham pela primeira vez com nomes como Babyface, Toni Braxton e Charlie Wilson. Esses cantores dão, com sua voz, corpo à criatividade das produções de Jam & Lewis, que neste álbum celebram a sonoridade do r&b dos anos 1990.
Uma ausência sentida pelos fãs e críticos foi a de Janet, grande musa do duo, com a qual produziram álbuns clássicos além do Control (que se tornou uma referência do New Jack Swing, estilo musical que combina variadas tradições musicais negras, como jazz e r&b, a elementos do hip hop), como Rhythm Nation (1989), Janet. (1993) e The Velvet Rope (1997). "Nós amaríamos trabalhar com Janet em nosso álbum, assim como a S.O.S Band, New Edition. Há tantas pessoas na nossa lista e por isso haverá outros volumes", reforçou Jam, adiantando que algumas faixas de um futuro álbum já foram gravadas.
Parceria de sucesso
Jimmy Jam e Terry Lewis se conheceram no começo da juventude, no início dos anos 1970, em Minneapolis, nos EUA. A conexão imediata e a paixão pela música fez com que eles firmassem uma parceria que atravessa quatro décadas e se mantém firme com base no respeito e admiração mútua. Ambos apaixonados por música desde pequenos, eles uniram suas habilidades e sensibilidades para criar o duo de produção mais bem sucedido do pop e r&b.
"Éramos músicos e aprendemos a tocar todo tipo de música para agradar a audiência. Nós podíamos tocar em um evento de colégio um dia, num bar mitzva em outro, então aprendíamos a tocar o que estava fazendo sucesso nas rádios. Mas Minneapolis também era culturalmente muito significante, então também íamos assistir a orquestras. Era um pouco de tudo, o que provavelmente nos deu esse conhecimento. Eu também fui DJ, então aprendi como encher uma pista de dança", reforçou Jimmy Jam.
Eles também atribuem seu ecleticismo e a ousadia musical a Prince, artista com para quem abriram shows no início da carreira, quando integravam a banda The Time. Foi justamente após perderem um voo para tocar com o ícone da música, após uma sessão em que começavam a engatilhar como produtores, o que fez com que Prince os demitisse, que Jimmy Jam e Terry Lewis passaram a focar na criação de faixas para outros artistas.
Vencedores de vários prêmios e com mais vendas de mais de 100 milhões de álbuns e singles produzidos por eles, o duo disse nunca ter almejado estar sempre no topo das paradas, mas permanecer "quente" por muito tempo, como pontuou Terry Lewis."
Nós simplesmente amamos música. Tentamos nos manter atualizados com a tecnologia, abraçar o que apareça em relação à música que as pessoas gostem. Quincy Jones uma vez disse que você só é tão velho quanto sua habilidade de aceitar e processar novas coisas. Então, sempre tentamos nos atualizar aplicar [as novidades] ao que fazemos. Assim você nunca fica obsoleto", reforçou Lewis.
Outra característica da produção de Jimmy Jam e Terry Lewis é o fato de entenderem os artistas com quem trabalham. Para eles, é importante que a identidade de quem coloca os vocais em suas faixas esteja presente.
"O processo [do nosso disco] foi colaborativo. Escrevemos músicas especificamente para os artistas. Se sabemos que vamos trabalhar com Babyface, Mariah, nós sabemos o que queremos criar. Tudo é baseado em colaboração, seja criando junto em um estúdio ou trocando ideias através do Zoom, como aconteceu com Mariah", explicou Jimmy Jam.
Sobre o segredo da parceria longeva, ambos são enfáticos em afirmar que o respeito mútuo é a base do sucesso. No duo, tudo é dividido igualmente e eles não têm problema em abrir mão de uma ideia caso o outro apresente uma visão mais interessante.
"Dizem que nos relacionamentos cada um tem que colocar 50%. Eu entendo, mas discordo. Nosso relacionamento é baseado em cada um dar 100%. Cada um tem seus gostos e amores e nós tentamos dar liberdade para o outro fazer as coisas que ama. Logo no início da nossa parceria, apertamos as mãos e combinamos que dividiríamos tudo, somos donos de tudo que criamos. Não tem mistério, podemos focar na nossa música. E a música é uma namorada ciumenta, se você não dá atenção a ela, você não cria sucessos", enfatizou Terry.