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20 anos depois, Carina Lins, ex-Banda Carícias, celebra retorno ao brega

A eterna 'Menina do Lencinho', de voz doce e muitos sucessos, conversou com o JC sobre o novo projeto

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Robson Gomes

Publicado em 13/09/2021 às 17:55 | Atualizado em 13/09/2021 às 17:58
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No vasto vocabulário do brega pernambucano, poucos títulos de músicas se tornaram também uma expressão do cotidiano. E há vinte anos, sem dúvida, "vou calar sua boca" é uma delas. Embora a frase soe pesada, a voz que eternizou a canção homônima é doce e delicada: assim ficou marcado o timbre de Carina Lins quando entrou na Banda Carícias, quando ainda tinha 17 anos. Hoje, aos 37, a carismática artista recifense está colhendo os frutos de um recente retorno ao brega "em grande estilo", que acabou gerando uma turnê especial de 20 anos de sucesso que está a caminho.

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"No início, a gente não queria. Seria só a live. Mas agora, a pedidos, decidimos sair numa turnê de comemoração para matar as saudades do público. E eles ficaram felizes com isso", contou Carina por telefone ao Jornal do Commercio, dias depois de realizar uma live comemorativa em seu canal no YouTube no início deste mês, que já acumula mais de 35 mil visualizações até o fechamento desta matéria.

A história de Carina Lins com o brega é repleta de acasos. Se dividindo entre Recife e São Paulo (onde mora atualmente), sua primeira lembrança de contato com a música foi aos seis anos, onde acompanhava cantando com o pai, que tocava violão. Aos 15, ganha um mesmo instrumento, onde tocava músicas de Legião Urbana com revistinhas de cifras embaixo do seu prédio. Sendo influenciada pela MPB através de cantoras como Marisa Monte, Elis Regina e Patrícia Marx, o ritmo pernambucano passava longe de seu repertório.

Até que, após passar numa banda pequena de igreja, e algumas bandas de forró, entrou na banda Raios de Neon, onde um dos músicos também tocava na recém-criada Banda Carícias, que gravara seus dois primeiros sucessos — Vou Calar Sua Boca e Eu Digo Não — tendo como voz guia a Claudinha, vocalista da Banda Mancha de Batom, que logo estourou nas rádios, mas precisava de uma cantora titular.

"Como eu estive na Raios de Neon, Toinho lembrou de mim. E me indicou para Jorge [empresário da banda], que passou o meu endereço e foi lá me conhecer. Ele pediu para eu cantar uma música, gostou da minha voz, e me convidou para entrar na Banda Carícias. Eu não conhecia nada de brega! Mas mesmo assim, aceitei. Quando falei para as minhas amigas que ia entrar nesta banda, elas comentaram que as músicas dessa banda já eram sucesso", relembra.

Poucos dias depois, Carina lembra que seu primeiro show foi no Clube do Santa Cruz, no Arruda, em 2002. "Entrei na banda faltando poucos dias para o primeiro show. Tipo, me convidaram na quinta e já ia cantar no sábado! Não conhecia as músicas direito, tive que pegar rápido. Quando cheguei no palco, todo mundo cantava as músicas! Uma loucura! Foi ali que caiu a ficha da dimensão do sucesso da banda", relata.

Além dos dois primeiros hits, Carina Lins marcou época em sucessos como Essa Indiferença, Que Amor é Esse?, Eu Sou Mais Eu, Pegue Tudo Que é Seu e Amigo é Pra Essas Coisas. Além de fazer história na Carícias, ainda engatou uma carreira solo na Banda Carina. "Quando começamos, éramos muito imaturos. Eram crianças brincando de artistas. Nós só queríamos ser felizes, e cantar, dançar, se divertir. Não víamos aquilo como trabalho. Nós levávamos [todas as fases da carreira] de forma muito tranquila, sem pensar no futuro", analisa.

A obra do acaso também fez com que Carina também ditasse moda, o que a levou a ser reconhecida, até hoje, como a "Menina do Lencinho". Moda essa, que surgiu, segundo ela, de um "desastre capilar", após tentar pintar as madeixas três vezes para a cor ruiva, e parte dos cabelos caírem. Isso tudo, dias antes dela estrear na Carícias. A ideia dos lenços veio, então, de sua avó. "Passei de quatro a seis meses usando lenços para o cabelo poder crescer. Quando ele se recuperou, eu pensei em tirar. Mas aí já havia se tornado uma marca. Porque as pessoas começaram a dizer que não era eu, que eu era falsa!", relembra aos risos. 

Diante disso, Carina não processou na época que acabou fazendo história no brega pernambucano, romântico e, principalmente, feminino: "Hoje, mais madura, eu entendi qual foi a importância que tive no movimento. Pois vim de uma época em que Michelle Melo, Palas Pinho, Claudinha, Eliza Mell, Andreia Carla, entre outras, tínhamos dado um start num diferencial do movimento. Pois o brega era formado mais por homens. A exceção, na época, era Marlene Andrade. Antes de todas nós, o brega era mais masculino. A Banda Calypso [com a cantora Joelma] começou a quebrar um pouco isso, mas nós viemos com aquele romantismo, a doçura, a sensualidade. Foi um movimento muito forte. E eu entendo hoje que carimbamos nossos nomes na história do gênero".

PAUSA E RETORNO

Após o auge, o ano de 2008 foi marcado por um longo hiato na carreira artística causado por sua conversão na Igreja Renascer em Cristo, onde congrega até hoje e atua no ministério de louvor. E após resistir por meses aos pedidos dos colegas das antigas bandas no início deste ano num grupo de WhatsApp, Carina Lins, hoje casada, mãe de um filho, presbítera e prestes a ser pastora, traz em seu retorno pontual ao brega — assim que os protocolos de saúde permitirem, numa parceria com a Lua Produções — um sentimento de gratidão.

"Nesse meu retorno eu vivi coisas que jamais pedi, pensei ou imaginei. E eu tenho um coração muito grato a Deus e ao público que acompanha o meu trabalho nesses quase 20 anos de história, que torcem por mim, querem me ver feliz, compravam os discos, usaram o lenço na cabeça... Que eram crianças e hoje são adultos e não esquecem. Que guardam lembranças, memórias afetivas de tudo o que eu cantei. E isso não tem preço! Espero que as possas possam reviver esses especiais, de amor, em breve. Eu tenho um coração transbordando de gratidão por tudo o que eu vivi e o que estou revivendo hoje. Espero, novamente, conseguir levar algo bom ao público", conclui.

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