Quinteto Violado comemora 50 anos; conheça a trajetória da banda pernambucana
O grupo celebra meio século nesta quarta-feira (20), com a terceira edição do livro "Lá Vêm os Violados — Os 50 Anos da Trajetória Artística do Quinteto Violado", de José Teles
Se hoje o Teatro de Nova Jerusalém, no município de Brejo da Madre de Deus, é conhecido internacionalmente por abrigar o espetáculo da Paixão de Cristo, lá também foi consolidada uma das bandas mais antigas em atividade no País. Na época em que o Brasil conhecia o festival de Woodstock, nos Estados Unidos, por causa da exibição de um documentário, o teatro ao ar livre no Agreste pernambucano recebia seu primeiro festival de verão. E ali pisava, pela primeira vez, o Quinteto Violado. Assim ambienta o jornalista e escritor José Teles sobre o início do grupo — que completa 50 anos nesta quarta-feira (20) — no livro "Lá Vêm os Violados — Os 50 Anos da Trajetória Artística do Quinteto Violado".
A produção literária, lançada pela primeira vez em 2012, pelas Edições Bagaço, por causa das comemorações dos 40 anos do Quinteto Violado, ressurge agora numa edição atualizada e mais robusta, pela Companhia Editora de Pernambuco (Cepe), para celebrar o meio século de existência da banda pernambucana. "Esta é a terceira edição de 'Lá Vêm os Violados', refeita, atualizada e acrescida de mais dez anos", explica José Teles, que, na obra, descreve desde a primeira vez de Fernando Filizola (viola), Generino Luna (flauta), Luciano Pimentel (bateria), Marcelo Melo (violão) e Toinho Alves (contrabaixo), em 1971, até as memórias mais recentes.
Para isso, o escritor recorreu a uma grande pesquisa, baseada em matérias publicadas em jornais e revistas, além de entrevistas com músicos, amigos, produtores e parceiros. Ao passo em que levanta histórias, também destaca o quanto a banda representa para a cultura pernambucana e do Brasil. "Na música brasileira, o Quinteto Violado tem importância equivalente a Chico Science & Nação Zumbi (banda formada no Recife no começo da década de 1990), à época em que foram criados. Eles levaram para fora do Estado ritmos como ciranda e cavalo marinho. No rastro do Quinteto surgiram muitos grupos, como a Banda de Pau e Corda e o Concerto Viola, em Pernambuco, e o Bolo de Feira, de Sergipe", enfatiza José Teles.
"No livro 'Lá Vêm os Violados', José Teles repassa a trajetória de uma das mais antigas bandas de música brasileira e faz isso não só com respaldo crítico, mas principalmente trazendo o contexto de como estava a música pernambucana, a música brasileira, a vida dos integrantes do grupo", comenta o jornalista e editor da Cepe, Diogo Guedes.
Já no seu surgimento, o Quinteto Violado arrancou elogios de nomes consagrados na música brasileira, como Gilberto Gil. O baiano conheceu o grupo numa vinda ao Recife. No livro, Teles relata que o cantor viu e ouviu a banda num show, no Teatro do Parque, marcado por uma pane elétrica que atingiu parte da região da cidade. "Gil foi levado para conhecer o som do Quinteto Violado e ficou encantado com o que viu e ouviu. O produtor Roberto Santana, da Philips (tal como Gilberto Gil), também se surpreendeu", detalha, contando como o grupo foi contratado pela gravadora, que à época lhe fez a melhor proposta.
Não demorou muito para outro ícone da música popular cair no gosto dos arranjos do Quinteto Violado. Quando apresentado a uma versão da sua clássica Asa Branca, Luiz Gonzaga considerou o arranjo como o mais lindo já feito para a sua música até então. "O arranjo para 'Asa Branca' é muito badalado", descreve José Teles, trazendo a perspectiva também de outros artistas, como Dominguinhos. "Dominguinhos (sanfoneiro, 1941-2013) andou bastante com o Quinteto, muita gente achava que ele fazia parte da banda", conta o jornalista.
FORMAÇÃO
De 50 anos para cá, o grupo já teve 15 integrantes. Da formação original, continua apenas Marcelo Melo (voz e violão). Apesar disso, a atual banda é experiente: o flautista Ciano Alves faz parte do Quinteto Violado desde 1979 e o mais novo dos músicos, o contrabaixista Sandro Lins, ingressou há mais de dez anos. Dudu Alves (tecladista e arranjador) e Roberto Medeiros (percussionista) são os outros dois integrantes. Dudu é, digamos, um herdeiro da história e do som do grupo; ele é filho de Toinho Alves, contrabaixista que foi um dos fundadores, falecido em 2008, aos 65 anos.
Às vésperas do meio século, a propósito, a banda fez uma homenagem a Toinho Alves, enfatizando o legado do músico para o Quinteto. "Ele partiu, mas deixou uma obra musical e arranjos incríveis, que ficaram em nós, dada a sua voz firme e forte. Ele nos faz muita falta, mas sua presença, além de perpetuada por sua obra, está plantada no grupo há 31 anos — o seu filho, Dudu Alves, tecladista do Quinteto e que mantém a lembrança de Toinho ainda mais viva", disse o comunicado.
Além do livro, os 50 anos da banda serão celebrados com um show hoje, no Teatro de Santa Isabel, para 200 convidados. No hall da casa de espetáculos, terá um ponto de venda do livro Lá Vem os Violados.
Em agosto, já nos preparativos para as comemorações, o Quinteto Violado lançou a música Tempo. Disponível nas plataformas de streaming, a canção dá continuidade a essa história.