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'Júlia tem um otimismo trágico', analisa Denise Fraga sobre personagem de 'Um Lugar ao Sol'

A atriz de 57 anos detalha o processo de voltar às novelas em 'Um Lugar ao Sol' e como se sentiu quando a pandemia chegou a ameaçar a realização das gravações

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Estadão Conteúdo

Publicado em 12/01/2022 às 11:15
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Denise Fraga vê beleza nas fragilidades de Júlia, a cantora fracassada e com vício em álcool que interpreta na novela 'Um Lugar ao Sol' Na trama das 21h da Globo, a mãe de Felipe (Gabriel Leone) luta contra a doença, enquanto tenta lançar um trabalho musical. Mas jura ao filho que permanecerá sóbria. No entanto, a psicanalista Ana Virgínia (Regina Braga) pouco acredita na recuperação da filha, porque já escutou promessas semelhantes.

Na entrevista a seguir, a atriz de 57 anos detalha o processo de voltar às novelas em 'Um Lugar ao Sol' e como se sentiu quando a pandemia chegou a ameaçar a realização das gravações. Além disso, explica de que forma construiu uma personagem que é alcoólatra, mas também possui outras camadas. Denise ainda conta sobre sua relação pessoal com bebidas alcoólicas e o que acha da abordagem do tema no folhetim.

Como foi voltar às novelas em 'Um Lugar ao Sol'?

DENISE FRAGA – Realmente, fazia muito tempo que não atuava em uma novela. Eu e a Lícia (Manzo, autora) tínhamos tentado trabalhar juntas, mas não deu certo. Não tinha feito antes porque os convites que tive calharam de acontecer quando estava, ao mesmo tempo, em cartaz no teatro. É um privilégio estar com esse elenco, com o Maurício (Farias, diretor), a Lícia e esse texto. No início, a gente achava que não conseguiria gravar e isso começou a apertar meu coração.

Por quê?

DENISE - Porque é uma novela preciosa e cheguei a pensar que, talvez, não desse certo. Foi realmente uma grande vitória, uma guerrilha com todos os protocolos. E essa equipe é brilhante! A coisa foi sendo assimilada e tem uma particularidade com o texto da Lícia: os personagens falam sobre si de forma coerente, com clareza, e isso dá voz para muita gente. Principalmente para a Júlia, que tem esse dilema da adição. Fiquei emocionada com as cenas. Tenho pena que a gente não tenha conseguido fazer as festas necessárias no camarim, mas foi inesquecível.

Como você se preparou para viver uma alcoólatra?

DENISE – A característica do alcoolismo é tão forte que você resume a "viver uma alcoólatra", mas ela tem muitas outras camadas. Fui a algumas reuniões do A.A. (Alcoólicos Anônimos) e uma coisa incrível da novela é as pessoas conhecerem o trabalho de lá. Porém, a Júlia tem outro problema, além da adição. A relação com o Felipe, personagem do Gabriel Leone, é linda. Todo mundo tem um amigo que você deu a mão, que tem de entender isso como uma doença, algo que precisa ser cuidado. Acho que todos nós deveríamos ir a essas reuniões do A.A., porque estamos cheios de vícios que não conseguimos deixar.

O que você acha de abordarem esse tema?

DENISE – A adição permeia a nossa vida. A gente não tem mais como falar de vício só de droga e bebida. Estamos mergulhados em vidas que gostaríamos que fossem diferentes. Júlia tem um otimismo trágico. Ela tenta, de toda maneira, falar que está tudo bem. E se enfia em enrascadas. É uma tragédia melancólica, cheia de humor e bem escrita O que eu acho bonito dessa personagem, mais do que tudo, é a relação que ela tem com a arte, a música. Acreditar que, aos 50 anos, vai gravar o álbum.

E qual é a sua relação com bebidas alcoólicas?

DENISE – A minha relação com o álcool sempre foi serena. Bebo socialmente. Quanto ao consumo na pandemia, bebi mais vinho, mas é uma coisa que devo tomar cuidado.

Como a psicologia está envolvendo a relação familiar da Júlia com o Felipe e a Ana Virgínia?

DENISE – Existe uma relação da mãe com esse filho, que tem a avó no meio. A gente ficou muito nesse trio. Eu sentia vontade de encontrar o elenco inteiro. Mas, ali, fazíamos uma trama à parte. A minha personagem é filha de uma psicanalista que acabou se especializando em pacientes com adição, mas ela não consegue resolver o problema da filha com álcool. É bonito ver, nessa história, como a vida é móvel, como não tem solução e não há uma receita.

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