'Percebi o racismo com porta batendo na minha cara', contou Elza Soares
Relembre entrevista da cantora em 2015
Em 2015, a cantora Elza Soares, aos 78 anos, concedeu uma entrevista a veículos da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) onde falou sobre música, o que lhe motivava a subir aos palcos, e também o racismo de que foi alvo. Relembre abaixo alguns trechos da entrevista:
EBC - Como você vê a situação da mulher negra hoje no País?
Elza - Temos avanços muito lentos ainda. O dia-a-dia ainda é nosso maior desafio. É de uma ignorância tão grande, uma estupidez ter que desafiar a cor. Dizem que tem política pública de combate ao racismo e a gente tenta acreditar nisso. Mas na sociedade vejo tudo muito encubado, por trás da cortina, por debaixo da mesa.
EBC - O caso da jornalista Maria Júlia Coutinho – a Maju, da TV Globo, que sofreu racismo nas redes sociais – é revelador desse preconceito?
Elza - Sim. É uma coisa que conheço demais. Não precisava ter redes sociais, internet. Percebi o racismo com porta batendo na minha cara. Não tinha rede social. Aí você se pergunta, mas por que bateram a porta na minha cara? Não fiz nada. Fez, sim. Você nasceu negra. E é assim.
EBC - Como você busca enfrentar esse preconceito no cenário da música, das gravadoras?
Elza - Hoje eu me articulo bem porque eu me imponho, e quando você se impõe você é bem recebida. Tem que saber onde pisa, a hora que pisa, como fala, com quem fala, é por aí. A vida foi feita nesse sentido. Se impondo, se posicionando, aí você chega bem.
EBC - O que te motiva a subir nos palcos e qual a música do seu 'agora'?
Elza - A vida dá motivação pra tudo. O que me motiva é ela, meus filhos, meus amigos e as pessoas que acreditam em mim. São muitas as músicas da minha vida. Mas a música do meu 'agora' é A Carne. A carne mais barata do mercado é a carne negra. Que vai de graça pro presídio. E para debaixo do plástico. Que vai de graça pro subemprego. E pros hospitais psiquiátricos. A carne mais barata do mercado é a carne negra. Que fez e faz história. Segurando esse país no braço.