Inspirado no metaverso, recifense NexoAnexo cria trap para as pistas em álbum visual
Apostando no gênero há cinco anos, artista trouxe ao trap batidas ligadas ao EDM e vídeos que podem ser assistidos com óculos de realidade virtual
A música trap, vertente do rap que ganhou grande popularidade nos últimos anos, sempre esteve ligada a uma certa ideia de futuro, fosse pelas batidas aceleradas e vozes distorcidas por auto-tune. Esse mesmo imaginário de futuro é constantemente usado pelo capitalismo, como se sempre existisse algo inovador prestes a ser descoberto. O trapper recifense NexoAnexo explora esses aspectos no "Metaverso Nexus", um álbum visual lançado em 12 de janeiro.
Atuando no trap há cinco anos, sendo um dos primeiros em Pernambuco, NexoAnexo temperou o gênero com batidas ligadas ao EDM - música eletrônica feita para dançar em casas noturnas, festivais e raves - e ritmos mais alternativos como o dembow, surgido na América Central e que pode ser descrito como um dancehall mais acelerado. Cada uma das oito faixas faz flertes com diferentes vertentes do eletrônico.
Para além da sonoridade, o álbum se apropria do conceito de metaverso, palavra que virou "trend" com o anúncio da mudança do nome da empresa Facebook (que agora se chama Meta). A gigante da tecnologia está investindo alto numa realidade virtual que tenta replicar o mundo real através de objetos tecnológicos.
Projeto em 'constante construção'
"Com essas misturas, cheguei em um tipo de música que ainda estou procurando entender. Eu ainda não sei exatamente o que é. A mesma coisa ocorre com o metaverso: é algo em constante construção, como uma expansão da nossa noção de comunidade digital”, diz Gabriel Marques, jovem de 24 anos que também atua como produtor musical. Ele mesmo trabalhou na mixagem e masterização do projeto ao lado do produtor recifense WR no Beat - também conhecido por trabalhar com MCs do brega-funk.
"Comecei a produzir o 'Metaverso' no comecinho da pandemia, depois que viajei para o Rio de Janeiro para um reality show de música que acabou não sendo realizado. Voltei para o Recife um pouco triste e fiquei pensando que poderia criar algo novo", continua. "Hoje em dia só se destaca quem é original. Antes do trap, eu frequentava festas de música eletrônica e tinha essa vivência. Tive a ideia de misturar esses elementos sonoros, que casam bastante porque ambos são totalmente eletrônicos e possuem uma forte relação com a moda. Vi que dava certo, apesar de ser mais complicado rimar em cima dessa mistura."
Realidade virtual e moda
O projeto audiovisual também trabalha com a ideia de "metaverso" ao disponibilizar clipes que podem ser assistidos com óculos de realidade virtual - é o caso de "Psicotrópicos", "Givenchy" e "Moschino”. O vídeo que inaugurou o projeto foi "Kawasaki”, que explora toda essa estética futurística com direção de Futuremangueboy - que também vem trabalhando muito com nomes do brega-funk.
Não é por acaso, inclusive, que o projeto tem faixas com títulos como "Givenchy" e "Moschino". Existe uma vontade de dialogar com o universo da moda, o que sempre foi comum na cultura hip hop. Isso chega ao ápice na faixa "Vogue", que faz menção à revista e que na cultura pop deu nome ao clássico de Madonna - o clipe de Nexo, assim como de Madonna, também é preto e branco.
"O eletrônico e a moda andam de mãos dadas, seja no trap ou no EDM. O pessoal gosta de se vestir bem e existe uma valorização do 'high fashion'. Ainda baseado nisso, existe a faixa High Low, que é uma cultura de misturar roupas de grife com peças básicas".
Necessidade de inovação e crescimento do trap
A democratização da produção e distribuição musical vem revolucionando a cultura em todo o mundo. Em contrapartida, nunca se produziu tanto e em uma velocidade tão rápida. Ritmos que cresceram nesse contexto, como o trap (e num contexto local, o brega-funk) lidam diretamente com essa realidade, quando tudo parece ser meio igual. “Chega um momento em que a coisa fica um pouco saturada, tanto em relação às músicas quanto aos temas que o pessoal aborda. Acaba sendo até involuntário, porque se eu só ouço trap, tentarei fazer coisas parecidas com o que outros fazem", opina Nexo.
"Eu sempre tento estar escutando músicas diferentes, de outros estilos. Nós músicos precisamos ser ecléticos para criar referências, pois existe o perigo de ficar engessado e fazendo coisas parecidas. Isso vale para todos os gêneros. Até leva um tempo, mas vale a pena. No começo, pode até causar certo estranhamento do público, mas com o tempo a galera vai entendendo."
Há cinco anos na cena, NexoAnexo opina que o trap vem crescendo no Recife, mas ainda falta uma ampliação de eventos. "Vamos sentir mais sobre isso quando houver uma reabertura dos eventos sem os decretos. Essa questão da pandemia atrasou na questão dos shows. O trap ganhou uma força muito grande nacionalmente, está chegando em pessoas que há uns dois ou três anos não consumia esse tipo de música. Está virando algo comum, do dia a dia das pessoas. Acho que, se tudo der certo, vamos começar a ter mais eventos."