"Tô Ryca 2", com Samantha Schmutz, faz rir e refletir sobre classe social
Continuação da comédia de Pedro Antonio traz protagonista de volta à pobreza e integra a programação de retomada do cinema brasileiro
A discrepância entre classes sociais, objeto tão comum nas comédias brasileiras, retorna às telonas com "Tô Ryca 2", que estreia nos cinemas nesta quinta-feira (3). A continuação, que também tem direção de Pedro Antônio, segue acompanhando a trajetória cheia de altos e baixos de Selminha, vivida por Samantha Schmutz - atriz que deu o que falar ao abrir voz contra a apatia de parte da classe artística em relação à pandemia. O longa é uma coprodução da Globo Filmes e Paramout Pictures Brasil.
No primeiro filme, lançado em 2016, Selminha Oléria Silva, conhecida como SOS, era uma frentista que herda uma fortuna de um parente desconhecido. Para conseguir colocar a mão na grana, ela precisou gastar R$ 30 milhões em 30 dias, sem contar nada para ninguém - um enredo idêntico à comédia estadunidense "Chuva de Milhões" (1985), de Walter Hill.
Agora, Selminha vive numa mansão e esbanja ostentação, mas segue ajudando a sua comunidade. Com roteiro de Fil Braz, a continuação tem uma narrativa inversa: a protagonista volta para a pobreza. Uma mulher com o mesmo nome aparece disposta a reivindicar a herança. A protagonista precisa, então, se adaptar ao antigo estilo de vida e lutar para reconquistar seu dinheiro.
Com elenco composto por nomes como Katiuscia Canoro, Rafael Portugal, Anderson Di Rizzi, Marcello Melo Jr, Charles Paraventi e participação especial da dupla Maiara e Maraisa, o longa é uma típica comédia da Globo Filmes. Um filme leve, com humor para a família. Grande parte desse cômico é concentrado em Samantha. Assim como no primeiro, ele também consegue ser menos canastrão do que um "Até que a Sorte nos Separe" (2012), de Roberto Santucci, e traz algumas sacadas legais em relação às diferenças das classes sociais.
No momento de crise que o país atravessa, muitas dessas tiradas cômicas convidam o público a refletir sobre a condição das classes desfavorecidas. "Quem ganha salário mínimo não consegue comprar carne” ou "Se você é classe média, não ri que você também é pobre, tá?" são algumas frases de efeito presentes. Esse tom político-satírico fica evidente quando a protagonista passa, após uma enchente, a fazer com que os pobres doem para uma arrecadação de fundo. Sempre fazendo rir.
"O filme foi feito há dois anos atrás e parece muito atual, ligado à realidade do dia a dia. A Selminha tem esse papel de expor claramente as mazelas, ela é uma brasileira desbocada, criativa, politizada", diz o diretor Pedro Antônio, em coletiva virtual realizada para a divulgação do longa.
"Tô Ryca 2" também integra uma certa programação de retomada do cinema brasileiro com a reabertura das falas, o que começou com "Marighella" (2020), de Wagner Moura. "O brasileiro gosta de se ver na tela. Falo com sentimento: é muito mais legal ver um filme brasileiro do um americano. O americano sempre vai estar aí fazendo seus bilhões de espectadores, mas é bom que os brasileiros possam olhar para si mesmos e consigam ver sua própria realidade", continua o diretor.
Katiuscia Canoro, conhecida por viver personagens memoráveis do humor, como Lady Kate (Zorra Total, TV Globo), reforça a importância do cinema e do riso. "Sem a arte não há pensamento. É importante para que as pessoas passem a olhar para o produto brasileiro. Nós, os autores, os artistas plásticos, é muito importante voltar a valorizar isso de novo. Estamos passando por esse momento de extrema infelicidade que é a pandemia, então a nossa contribuição é um alimento para a alma: o riso", finaliza.