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Livro 'Gótico Nordestino' traz terror que passeia entre o cangaço e a ditadura

O escritor baseia suas narrativas nos territórios da Paraíba e Pernambuco, em nove capítulos com passagens que vão do cangaço à ditadura militar

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Bruno Vinicius

Publicado em 04/02/2022 às 17:56 | Atualizado em 04/02/2022 às 17:59
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Qual o limite entre a realidade, a crítica social e o sobrenatural? Em um contexto de pandemia, caos em políticas públicas e transformações digitais, a literatura tem cada vez mais estreitado essas fronteiras. É dessa forma que o escritor, professor de literatura e crítico literário Cristhiano Aguiar constrói os nove contos presentes em seu novo livro, "Gótico Nordestino", publicado pela Companhia das Letras, através do selo Alfaguara. Nascido em Campina Grande, na Paraíba, o escritor baseia suas narrativas nos territórios da Paraíba e Pernambuco, em nove capítulos com passagens que vão do cangaço à ditadura militar. 

Aguiar, que já morou em Pernambuco durante 11 anos, introduz o leitor com o conto "Anda-luz". A história carrega a narrativa de um menino que é enviado para entregar uma carta escrita por sua mãe ao cangaceiro chamado Zé Barbatão, no vilarejo de Riachão da Frente. A introdução, com um diálogo simples entre a matriarca e o menino, vai narrando com diálogos simples, com sotaque do território, demarcando local, época e contexto social presentes na história. Logo, o leitor é surpreendido com a passagem do personagem sob as sombras do caminho e a ameaça do bando, em um ponto que a realidade e o fantástico rompem as barreiras.

Renato Parada/Divulgação
Cristhiano Aguiar lança luz sobre o terror e o realismo fantástico para o Nordeste - Renato Parada/Divulgação

É dessa forma que Cristhiano Aguiar apresenta o que vem nos oito contos seguintes. Em um repertório rico em referências de séries televisivas, filmes e histórias em quadrinhos, o escritor transpõe a sua paixão pela cultura pop em uma escrita ágil, surpreendente e de fácil compreensão para quem imerge na leitura. "Para o 'Gótico Nordestino' eu decidi abraçar esse lado de referências pop que eu tenho. Eu tenho referências de uma literatura mais tradicional, já que sou professor de literatura e também crítico literário, esses elementos pop já apareciam em meus livros, mas eu decidi abraçar mais em 'Gótico Nordestino'", disse o autor.

"Quando eu comecei a escrever os contos tentando descobrir que livro eu estava fazendo. No meio do processo, eu descobri que estava a fim de fazer que tinham essas influências no terror, no gótico e na literatura fantástica no século 19", aponta o autor, que se sentiu escrevendo algo próximo à proposta de "Monstro do Pântano", personagem de histórias em quadrinhos do escritor Alan Moore. Além de referências contemporâneas como a série televisiva "American Horror Story", uma antologia dos criadores Ryan Murphy e Brad Falchuk.

Identidade

Embora seja repleto de influências da cultura pop contemporânea, o livro também traz a carga literária tradicional do escritor, como o modernismo brasileiro e a literatura fantástica do século 19. "José Lins do Rêgo, Rachel de Queiroz e Graciliano Ramos foram autores que eu estava lendo na época em que eu estava escrevendo", afirma o autor, que tem um contato forte também com autores pernambucanos. Uma dessas obras foi "Assombrações do Recife, velho", de Gilberto Freyre, que reúne histórias de fantasmas da Cidade.

Cia das Letras/Divulgação
Capa do livro 'Gótico Nordestino' - Cia das Letras/Divulgação

"Gótico Nordestino" também significa retornos para Cristhiano Aguiar. Morando em São Paulo, o título resgata as origens do autor, que nasceu em Campina Grande, na Paraíba. Mas também o leva de volta a paixão cultural que o trouxe para a literatura, como a ficção científica e a literatura fantástica, na adolescência. "Eu acho que 'Gótico Nordestino' é o primeiro livro que eu consigo abraçar minhas diferenças. Essa fascinação que eu tenho com pela estética do gótico e do trevoso vem da minha infância, com o impacto que eu tive foi com um filme de Tim Burton, o Batman, no saudoso Cine Babilônia em Campina Grande. Isso me marcou", explicou.

Na adolescência, ele também foi construindo outros gostos a partir dos filmes de terror apresentador por Zé do Caixão na televisão, além de escritores como o colombiano Gabriel García Marquez. "As minhas referências que estão em Gótico Nordestino estão comigo desde sempre, que continuo consumindo em diferentes mídias, seja na literatura, nos games, nos quadrinhos e no cinema, que por aí vai", disse o escritor.

O livro pode ser enquadrado como distinto da leitura habitual, já que passei por elementos que se distinguem entre si. E o autor pensa que ele pode atingir diferentes leituras. "Eu não escrevi pensando num grupo de leitores ou numa camada de leitores específica. Eu escrevi pensando o livro que eu queria encontrar na estante. No caso do "Gótico Nordestino", eu acho que é um livro pode ter camadas para diferentes interessantes de leitores ou leitoras. Ele não é um livro difícil de ler, tenho assumido cada vez mais uma postura de ser menos experimental na literatura e mais narrativa, cada vez mais contador de histórias. Eu acho que há leitores que podem encontrar pontos em histórias do gótico ou aqueles podem encontrar uma vontade de ler histórias que trazem esse aspecto da família", afirma Cristhiano.

Lançamento

O livro foi lançamento na última quarta-feira (2) e pode ser encontrado nas principais plataformas digitais de venda, em formato impresso e e-book. Uma live será promovida nesta segunda-feira (7), no canal da Cia das Letras no YouTube, entre Cristhiano Aguiar e Schneider Carpeggiani.

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