Após longa reforma, Teatro do Parque tem pedido de tombamento aprovado pela Fundarpe
Inaugurado em 24 de agosto de 1915, o equipamento é um dos únicos teatros-jardim existentes no País
Um dos símbolos mais importantes da cultura da Cidade, o centenário Teatro do Parque teve o pedido de tombamento pelo Conselho Estadual de Preservação do Patrimônio Cultura de Pernambuco (CEPPC/PE) nesta quinta-feira (17). Inaugurado em 24 de agosto de 1915, o equipamento é um dos únicos teatros-jardim existentes no País. Apesar da sua importância cultural, social e arquitetônica para o Recife, o cineteatro localizado no número 81 da Rua do Hospício, no bairro da Boa Vista, ficou uma década fechado para reforma - sendo reaberto ao público no fim de 2020.
Hoje, prédio pertence à Prefeitura do Recife e o pedido de parecer conclusivo ao tombamento do Teatro do Parque chegou ao CEPPC/PE em outubro do ano passado. O processo, que teve relatoria das conselheiras Mônica Siqueira e Cláudia Pereira, chegou à conclusão do tombamento pelo conjunto histórico e patrimonial do equipamento cultural. Depois disso, o processo vai retornar à Secretaria Estadual de Cultura (Secult-PE) e à Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe), responsáveis pelo encaminhamento ao governador Paulo Câmara, que assinará o decreto de tombamento.
"O Teatro do Parque é palco da efervescência cultural, cinematográfica, teatral e do entretenimento como um todo em Pernambuco. Um dos únicos teatros-jardim ainda existentes no Brasil. O Parque reúne qualidades históricas, sociológicas e antropológicas que o tornam um espaço potente para o reconhecimento do seu valor patrimonial. Como todo patrimônio histórico, o Teatro do Parque compõe parte da herança cultural do Recife", disse Cássio Raniere, que preside o Conselho Estadual de Preservação do Patrimônio Cultural de Pernambuco.
- Símbolo do Recife, Teatro do Parque é reinaugurado nesta sexta-feira (11)
- Trabalhadores da restauração do Teatro do Parque, no Recife, são público exclusivo na reinauguração
- Após reinauguração, Geraldo Júlio vai adquirir meio milhão em equipamentos cênicos para Teatro do Parque
- Animage será no Teatro do Parque
- Com Animage, Teatro do Parque recebe primeiro festival de cinema em 11 anos
Ele afirma que o teatro agora está assegurado juridicamente do seu estado físico. "Garantir a preservação de sua memória e cultura, por meio da ratificação do seu tombamento, assegura juridicamente que seu estado físico, bem como sua memória seja transferida para as próximas gerações, que poderão usufruir desse espaço consagrado da arte. E é mesmo esse o dever do Estado, de lhes proporcionar o direito à Cultura e Lazer", apontou Cássio.
Apelo cultural
O pedido para tornar o Teatro do Parque partiu do ativismo do Grupo de Teatro João Teimoso, em parceria com o Movimento Guerrilha Cultural, que abriu um processo em 21 de agosto de 2017. "A gente está na luta desde o fechamento do Teatro, quando eu ainda eu era conselheiro municipal de cultura. Nos participamos de todas as ocupações. Junto a outras pessoas do Grupo Guerrilha Cultural, em 2017, colocamos aquelas faixas pelo Centro da Cidade pedindo a reabertura do teatro. Também entramos com uma ação no Ministério Público, pedindo a reabertura dele", explica Oséas Borba Neto, fundador do Grupo João Teimoso.
Segundo Oséas, o cineatro é um dos espaços culturais mais democráticos da Cidade, agregando todas as classes sociais. "A luta para o Teatro do Parque é porque é o teatro mais democrático que a cidade, que abriga todas as classes sociais e todos os segmentos artísticos, como o teatro, musica, a dança e o cinema. Além do tombamento, a gente ainda quer a revitalização do seu entorno, como a Praça Maciel Pinheiro, a Casa de Joaquim Nabuco e Clarice Lispector. Não adianta ter mais de 100 anos reformado e o povo ter medo de vir. Entramos também com o pedido de tombamento do Hotel Parque, ao lado do Teatro Parque. O pedido já está em análise, ele pertence à iniciativa privada, mas queríamos que a Prefeitura do Recife ou Governo do Estado assumissem para que a gente voltasse com um complexo cultural", aponta Oséas.
Inclusive, a história do teatro começa com hotel, que foi inaugurado um pouco antes do palco ao lado. Idealizado pelo o Comendador Bento Aguiar, o Teatro do Parque foi inaugurado em 1915, com um jardim interno, respeitando o clima tropical da Capital Pernambucana. Ele foi construído aos moldes do movimento Art Nouveau, iniciado na França no fim do século XIX. O equipamento foi lançado ao público no dia 24 de agosto, com a apresentação de uma companhia portuguesa, sob o espetáculo "031", com música Thomaz del Negro e Alves Coelho.
Reforma
O Teatro do Parque, a partir daquele momento, se tornou um dos principais encontros da população recifense. Gerações foram construídas culturalmente pelas atividades artísticas no espaço. Um período que foi interrompido em 2010 por problemas estruturais. A partir disso, durou uma década para que ele fosse reaberto ao público. Artistas e movimentos sociais lutaram para a sua reabertura, inclusive com ações no Ministério Público, nesse tempo. Ele foi reaberto timidamente, em 2020, por causa da pandemia, nos moldes de 1929 - padrão que o prédio seguia antes da revitalização.
"É um espaço que resgata a arquitetura do século passado, de 1929, mas com toda a modernidade em relação a equipamentos que um teatro pode ter, sendo de grande importância para Recife e Pernambuco, pois faz parte do imaginário e do afeto de boa parte da população", explicou Marcelo Canuto, atual presidente da Fundarpe.
"O Teatro do Parque traz consigo a energia e a beleza de um patrimônio especial, porque, além de construído como espaço cultural que é parte da história recifense, também se fez símbolo afetivo, erguido nas trajetórias vividas por um povo. A cada vez que alguém descobre ou reencontra a experiência de estar no Parque, memórias e sonhos se concretizam, em um lugar há muito tombado no coração de quem o conhece. Uma porta aberta a múltiplas artes e a infinitas possibilidades, reafirmação da força identitária e transformadora da cultura", disse secretário de Cultura do Recife, Ricardo Mello, responsável pela gestão do mais novo patrimônio cultural.