CINEMA

Crítica: Novo 'Batman' é uma retomada digna para o super-herói

Após tentativas falhas do universo da DC Comics no cinema, personagem icônico retorna com Robert Pattinson em thriller investigativo e sedutoramente sombrio

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Cadastrado por

Emannuel Bento

Publicado em 28/02/2022 às 19:38 | Atualizado em 28/02/2022 às 23:01
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No universo dos super-heróis, Batman é um dos que possui um conjunto de símbolos, estilo e identidade bastante singulares. Se deparar com uma revisitação desse universo, portanto, é sempre fascinante. O novo "Batman", que chega aos cinemas brasileiros nesta semana, é mais um exercício nesse sentido e marca uma boa e nova experiência com o ícone da cultura pop, criado há 80 anos.

A retomada do personagem, agora vivido por Robert Pattinson, ficou por conta do diretor Matt Reeves, conhecido por filmes de terror como "Deixe-me Entrar" (2010) e blockbusters, com destaque para os recentes longas de "Planeta dos Macacos" (2014 e 2017). Inicialmente, esse longa seria inserido dentro do Universo Estendido da DC Comics, que tem filmes como "Batman VS Superman" (2016), sendo escrito, dirigido e protagonizado por Ben Affleck.

Por sorte, a Warner mudou de planos e deu um reset no universo do herói, visto que o Batman de Affleck era demasiadamente pasteurizado e só participou de fracassos em crítica. Embora não seja ambientada na mesma Gotham City do Coringa (2019), "The Batman" parece uma continuidade do sucesso protagonizado por Joaquin Phoenix. 

WARNER/DIVULGAÇÃO
HERÓI Novo "Batman", vivido por Robert Pattinson, tem direção de Matt Reeves - WARNER/DIVULGAÇÃO
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HERÓI Novo "Batman", vivido por Robert Pattinson, tem direção de Matt Reeves - WARNER/DIVULGAÇÃO
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HERÓI Novo "Batman", vivido por Robert Pattinson, tem direção de Matt Reeves - WARNER/DIVULGAÇÃO

Matt Reeves apostou em um estilo sombrio e sóbrio, o que marcou a trilogia de Christopher Nolan, mas trouxe mais elementos de investigação policial, com nítida influência do cinema noir, o que deu ao longa um ar mais atraente e menos "seco" do que os de Nolan. O longa tem inspiração livre em vários HQs, com destaque para "Batman: O Longo Dia das Bruxas". 

O tom investigativo é uma consequência do próprio vilão, o Charada (Paul Dano), que surge numa versão neofascista virtual que cria um tom político e conversa bastante com os nossos tempos - assim como o "Coringa" de 2019 conversava.

Vemos uma Gotham corrompida por um submundo do crime que está incrustado no sistema político. Charada, então, inicia uma série de assassinatos sádicos, filmados e publicados na internet. Os alvos são sempre figuras importantes da cidade, deixando sempre mensagens e pistas ao homem morcego.

É muito interessante a forma como a elite criminosa de Gotham é apresentada. Colin Farrell está fantástico como Pinguim, trazendo o espírito do personagem sem necessariamente criar um tom teatral, como ocorria nos filmes de Tim Burton. Ao tentar ter acesso ao criminoso, por exemplo, Batman protagoniza uma cena de luta numa festa de música eletrônica. É mergulhando no hedonismo do crime que ele conhece Selina Kyle, a Mulher-Gato, agora vivida por Zoë Kravitz. A relação entre eles dá um tempero essencial ao filme.

Outro aspecto que reforça a singularidade da direção de Reeves é justamente a escolha bem acertada de Robert Pattinson. A escalação do ator foi inicialmente recebida com estranhamento por muita gente. Ainda seja lembrado pela saga adolescente "Crepúsculo", Pattinson trilhou uma carreira por filmes mais descolados do mainstream, como "O Farol", "Cosmópolis” e "Bom Comportamento", com personagens que sempre trazem uma energia melancólica.

Eis que o Batman caiu como uma luva para o ator, pois aqui vemos um Bruce Wayne mais jovem e frágil, que ainda vive um processo de amadurecimento, perspectiva ainda não explorada nos longas anteriores.

Podemos entender, por exemplo, o motivo dele não matar seus inimigos. Aqui, o herói começou o seu trabalho de vigilante anônimo há apenas dois anos e não é totalmente recluso ou tido como inimigo do poder público, chegando a colaborar diretamente com a polícia. Ele conta com a parceria de James Gordon (Jeffrey Wright), dupla que também forma uma boa sintonia.

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HERÓI Novo "Batman", vivido por Robert Pattinson, tem direção de Matt Reeves - WARNER/DIVULGAÇÃO
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HERÓI Novo "Batman", vivido por Robert Pattinson, tem direção de Matt Reeves - WARNER/DIVULGAÇÃO
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HERÓI Novo "Batman", vivido por Robert Pattinson, tem direção de Matt Reeves - WARNER/DIVULGAÇÃO

O jovem bilionário ainda tem sede de vingança pela morte do seus pais, embora Reeves tenha evitado aquela clássica cena em que o protagonista revisita o assassinato em suas lembranças. Em "The Batman" acompanhamos, então, uma certa evolução moral do herói em meio ao jogo de Charada, com quem Brune tem mais em comum do que imagina.

Inicialmente, as jogadas do vilão são realmente bastante complexas, mas o filme consegue solucioná-las ao mesmo tempo em que vai evidenciando o lado político do vilão, fruto de uma sociedade em decadência. "The Batman" também rende várias cenas triunfais, como um escape da polícia, uma perseguição de carros com Pinguim e um final apoteótico, com uma coleção de reviravoltas. O pesa um pouco no excesso neste sentido, chegando à três horas de duração.

Melancólico, político e sedutoramente sombrio, "Batman" abre portas para que o universo do super-herói seja dignamente explorado, como ele merece. Se continuar seguindo esta linha, podemos ter uma boa franquia nos próximos anos.

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