PANTANAL: Fotografia estonteante e sintonia entre Irandhir e Renato salvam estreia, mas faltam ganchos para fôlego inicial
Produção entrega a estética prometida, mas ritmo lento pode prejudicar a conquista de novos públicos
O Brasil voltou a mergulhar no singular bioma do Mato Grosso com a estreia de "Pantanal", principal aposta da TV Globo para 2022, na noite desta segunda-feira (28). De cara, a produção já entregou o que a direção artística tanto prometeu na imprensa: uma fotografia estonteante, que captura os cenários da natureza com destreza e as cenas corriqueiras com uma estética mais próxima do cinema. Difícil não lembrar de "Velho Chico" (2016), também de Benedito Ruy Barbosa com Bruno Luperi.
Também surpreendeu a sintonia entre os atores Irandhir Santos (Joventino) e Renato Góes (Zé Leôncio na primeira fase), ambos talentos pernambucanos. O companheirismo de pai e filho foi registrado de forma bastante natural graças à química proporcionada por bons atores. Mesmo evitando comparações, Irandhir rouba a cena com suas tiragens viscerais, com destaque para os takes em que enfrenta bois numa caçada Pantanal adentro.
A cena emocionante ficou por conta do encontro entre Joventino e um velho peão, vivido por Paulo Gorgulho, que interpretou Zé Leôncio jovem na versão de 1990, da TV Manchete. Ele tocou um berrante como quem passasse o bastão para Irandhir.
Já a cena mais "ousada" foi a perda da virgindade de Zé Leôncio, que ainda na transição da adolescência pra vida adulta foi vivido por Drico Alves, ator de 19 anos. A sequência serviu mais do que para "apimentar" a estreia: deu maior naturalidade ao mostrar um momento tão íntimo com um tom consideravelmente realista.
Na estreia, a carga dramática ficou a serviço do núcleo composto por Gil (Enrique Diaz) e Maria Marruá (Juliana Paes), que vivem as injustiças e exploração do trabalho no campo.
Assim como a versão original, o capítulo teve um ritmo um tanto lento e mais contemplativo, fosse pelas paisagens aéreas, pelos diálogos mais reflexivos de Joventino e Zé Leôncio. Como o autor Bruno Luperi e o diretor Rogério Gomes já frisaram, esse remake é uma grande homenagem à obra de Benedito Ruy Barbosa, e esse é o estilo dele.
Contudo, para uma apresentação, talvez tenham faltado ganchos narrativos mais enfáticos para deixar o enredo mais amarrado logo de início. Isso precisa ser levado em conta ao considerar que nem todos os telespectadores possuem uma relação afetiva com o original. Nas redes, sobretudo no Twitter, muitos comentaram sobre um ritmo "arrastado".
Talvez essa "amarração" mais eficiente seja essencial para aproximar o enredo clássico de novos públicos nessa adaptação moderna. Como é natural das novelas, apenas o caminhar do folhetim mostrará se isso ocorrerá.
"Pantanal" ainda conta com direção de Walter Carvalho, Davi Alves, Beta Richard e Noa Bressane. A produção é de Luciana Monteiro e Andrea Kelly, e a direção de gênero é de José Luiz Villamarim.