MÚSICA

'Versions of Me': Anitta continua eclética, mas poderia soar menos genérica

Com produção mais afiada, novo álbum faz investida internacional apostando no pop radiofônico americano sem deixar de lado o funk e o reggaeton

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Cadastrado por

Emannuel Bento

Publicado em 13/04/2022 às 18:08 | Atualizado em 14/04/2022 às 15:09
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Após muita espera e expectativa, Anitta finalmente lançou o álbum "Versions of Me", sua cartada decisiva para ganhar o mercado internacional, principalmente o norte-americano. Como já antecipado pelo título e pela capa, que mostra suas transformações por cirurgias plásticas ao longo da carreira, o disco trabalha essa pluralidade da intérprete, que passeia por reggaeton, pop eletrônico, R&B e não deixa de flertar com raízes brasileiras - como funk e pagodão baiano.

A ideia de expor os "vários lados" de Anitta já estava presente em "KISSES", que também era um álbum trilíngue, mas não funcionou por canções que soavam demasiadamente datadas para 2019, ano do lançamento.

Agora, a carioca chega com uma produção mais alinhada com o pop latino que realmente é fenômeno no streaming (ela já mostrou ao emplacar "Envolver" no primeiro lugar no Top 50 do Spotify Global) e com o pop radiofônico americano, um mercado que tem lá suas barreiras. Esse segundo ponto se torna mais possível pelo lançamento através de uma major global e pela produção de Ryan Tedder, que trabalhou com uma vasta lista de divas da música pop.

Repertório eclético

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MÚSICA Anitta em ensaio do álbum "Versions of Me" - MARCOS OVANDO/DIVULGAÇÃO
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MÚSICA Anitta em ensaio do álbum "Versions of Me" - MARCOS OVANDO/DIVULGAÇÃO
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MÚSICA Anitta em ensaio do álbum "Versions of Me" - MARCOS OVANDO/DIVULGAÇÃO

De cara, o diferencial de "Versions of Me" é essa produção afiada, muito pensada para o mercado norte-americano. É o caso de músicas inéditas como "I’d Rather Have Sex" ("Prefiro Transar", explorando o já conhecido apetite sexual de Anitta), "Love You", "Turn It Up" (que ainda flerta, timidamente, com o funk) e "Versions of Me", que certamente é melhor pop do álbum. "Ur Baby", até pela presença do Khalid, poderia ser mais cativante.

Por outro lado, a Anitta cosmopolita, que perpassa por diversas sonoridades globais, se faz presente com faixas como "Gata" (com Chencho Corleone), que tem samples do reggaeton "Guatauba”, do Plan B (2002), e do dancehall “Murder She Wrote" (1993), do Chaka Demus & Pliers. Divertida e descontraída, a faixa poderia ser o próximo sucesso do disco.

Ainda temos "Gimme Your Number", com o Ty Dolla $ing, com sample de "La Bamba", do Ritchie Valens, de 1958. Anitta está sempre transitando por esses samples, resgatando imaginários latinos para esse misto de pop, trap e reggaeton dos tempos do streaming.

Ela ainda reservou espaço para um funk mais "raiz", com trechos de Mr. Catra (1968-2018), MC Kevin o Chris e Papatinho. "Que Rabão", no entanto, soa bastante estranha no conjunto - e mesmo como um funk à parte, poderia conquistar bem mais.

Coesão e conceito ficam em segundo plano

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MÚSICA Anitta em ensaio do álbum "Versions of Me" - MARCOS OVANDO/DIVULGAÇÃO
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MÚSICA Anitta em ensaio do álbum "Versions of Me" - MARCOS OVANDO/DIVULGAÇÃO
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MÚSICA Anitta em ensaio do álbum "Versions of Me" - MARCOS OVANDO/DIVULGAÇÃO

Diante de tantas investidas em ritmos e estilos, "Versions of Me" não consegue ser coeso. Esse tipo de característica num álbum já chegou a ser apelidada de "playlist" nos fóruns de música pop.

Anitta também não conseguiu apresentar um conceito novo, já que essas "várias faces de Anitta" já estavam no "KISSES". Talvez sua própria trajetória, que começa na periferia do Rio de Janeiro e segue para Miami, resulte nessa personalidade multifacetada que ela entrega nos seus trabalhos.

No final das contas, a verdade é que Anitta nunca teve um álbum tão "amarrado". O "Bang" (2015), por exemplo, é lembrado pela estética de cartoon elaborada por Giovanni Bianco, mas o álbum em si passeia por vários ritmos e tem músicas bastante esquecíveis.

Em relação ao "Versions of Me", a desistência do título "Girl From Rio" (como anunciado inicialmente) aponta para diversos caminhos. A decisão final certamente pode aumentar o alcance do álbum em termos de interesse dos estrangeiros.

Por outro lado, esse projeto tirou bastante traços identitários e todo um imaginário possível. A escolha por uma capa com faces alteradas por plásticas mostra como Anitta está confortável nesse lugar de cantora eclética, mas sempre transitando pela superfície.

Aqui, ser "genérico" não é necessariamente um problema. O importante é dar certo. E já vem dando: emplacar "Envolver" antes do lançamento do álbum e do show no Coachella foi o primeiro acerto de sua nova era.

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