Festival Gosto da Amazônia convida a conhecer os sabores do pirarucu; confira a lista de restaurantes participantes
Carnudo e de sabor leve, peixe da Amazônia está no centro de festival gastronômico que vai movimentar casas do Recife, do Litoral Sul e do Agreste, além de Noronha
O Festival Gosto da Amazônia faz edição em Pernambuco, a partir de sexta-feira (20), até o dia 5 de junho. Cerca de 40 restaurantes do Recife e Olinda, do Litoral Sul, do Agreste e de Noronha vão servir pratos diversos, incluindo principais, petiscos e hambúrgueres, à base de pirarucu, maior peixe de escamas de água doce do mundo. Antes de chegar aqui, o festival gastronômico passou por São Paulo, Rio de Janeiro, Distrito Federal e Belo Horizonte.
A ideia do Festival Gosto da Amazônia é incentivar o consumo do pirarucu selvagem de manejo - o peixe que irá nos pratos é de origem legal, criado e pescado segundo o protocolo de manejo selvagem, que garante a sustentabilidade da espécie e das comunidades indígenas e ribeirinhas envolvidas no projeto.
Restaurantes participantes
"Já trabalhávamos com o pirarucu selvagem de manejo. A sua carne é extremamente saborosa, com a vantagem de não possuir espinhas e ser muito versátil, com vários tipos de cortes, como lombo ou barriga", diz o chef Renato Valadares, do Cais Rooftop, que participa do Festival Gosto da Amazônia.
Os restaurantes Oficina do Sabor, Pobre Juan e Tulasi também já vêm trabalhando com o pirarucu selvagem de manejo.
Além desses, vão participar do festival gastronômico: Alphaiate; Anjo Solto; Bar do Cabo; Bar do Neno; Barcaxeira; Bargaço; Borsoi; Boteco Porto Ferreiro; Brooklyn Burger; Casa do Vinho Al Mare; Castelus; Chica Pitanga; Chicama; Chiwake; Emê Café; Esther Restaurante; Eva; Forno Pizzaria; Hotel Dolphin Noronha; Licínio; Lup Beach Club; Manu Tenório Culinária Saudável; Mingus; Nez Bistrô; Patuá; Pontal dos Carneiros; Ponte Nova; Restô Cozinha de Charme; Santorini; Seu Boteco; Seu Luna; Taberna de Cinema.
As criações de cada casa explorando os muitos sabores possíveis com o peixe podem ser acessadas no site do evento.
"Queremos comunicar a importância e os atributos do pirarucu sustentável. Esse evento permite que as pessoas conheçam o peixe e possam compreender que estão consumindo um produto de sabor único", destaca Adevaldo Dias, da Associação dos Produtores Rurais de Carauari (Asproc) e presidente do Memorial Chico Mendes.
"Também tem um consumo consciente. Ao consumi-lo, o público está contribuindo tanto para a conservação dos recursos naturais da Amazônia, como também para melhorar a qualidade de vida daquelas pessoas que fazem esse produto acontecer", completa.
De onde vem o pirarucu?
A Gosto da Amazônia — um arranjo comercial que vende a carne e o couro do pirarucu pescado por 12 comunidades ribeirinhas e indígenas da Amazônia — é quem tem distribuído a iguaria no Recife e outras capitais brasileiras.
O pirarucu é um peixe fácil de ser pescado, e isso explica porque esteve ameaçado de extinção. Grande, ele mede e pesa, em média, 1,70 m e 70 kg, o que o torna um alvo de boa visibilidade. Além de que, a cada 20 minutos, ele emerge do rio para respirar — e é aí que é pego por arpão.
Há mais de 20 anos, o manejo selvagem tem salvado o pirarucu do fim da espécie. E só por esse protocolo a pesca dele é legal no Estado do Amazonas. O peixe é criado solto na natureza — portanto, sem alimentação artificial, como o de cativeiro — e só pode ser pescado durante os meses de setembro, outubro e novembro. Desde que adultos, com mais de 1,50 m e numa quantidade máxima de até 30% do cardume total do lugar.
O acompanhamento é feito por manejadores ribeirinhos e indígenas aprovados por um curso de formação de contadores de pirarucu. Eles vão nos lagos (naturais, que se formam no período de baixa da água na região amazônica) cerca de dois meses antes do período autorizado para pesca, para acompanhar o cardume.
O procedimento sustentável reverteu a situação do pirarucu — da extinção para o crescimento de cerca de 400% deles na última década. Fora a preservação da espécie, o manejo e o comércio tem possibilitado a essas populações uma renda.
O pirarucu — assim chamado pela combinação das palavras pirá, que é peixe em tupi, mais urucum, vermelho, devido à cor de sua cauda — é o maior peixe de escamas de água doce do mundo, podendo chegar a medir 2,5 m e pesar 300 kg.
Tratado sem espinha nem pele (que é chamada de couro e utilizada na fabricação de acessórios, como sapatos da grife carioca Osklen, ou exportado para virar botas no Texas), o pirarucu é um peixe de posta alta, carnudo, e que por isso tem o apelido de "bacalhau da Amazônia". Seu sabor, no entanto, é suave.
Só a Gosto da Amazônia acumulou na última safra — da pesca referente ao período setembro-novembro de 2021 — 150 toneladas da carne dele; esse número é o equivalente a 10% do comercializado por todas as empresas que trabalham com o manejo selvagem do pirarucu. Por ora, o peixe tem entrado pelos restaurantes, e só um mercado no Rio de Janeiro já o tem nas prateleiras.
Há um caminho até que chegue a mais mercados: tem a ver tanto com a produção e distribuição quanto com a necessidade de fazer o brasileiro ir além no peixe. Sérgio Abdon, que é responsável pelas áreas de promoção, marketing e eventos da Gosto da Amazônia, diz que uma pesquisa feita pela empresa revelou que o consumidor brasileiro tem um repertório limitado de peixes. Conhece no máximo cinco e é inseguro com relação a como preparar e saber se está bom ou ruim.
A Gosto da Amazônia é fruto da cooperação internacional entre os governos do Brasil e dos EUA, executada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e o Serviço Florestal dos EUA (USFS), com recursos da Agência para Desenvolvimento Internacional dos EUA (Usaid) e participação da Operação Amazônia Nativa (Opan), Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDSM), Memorial Chico Mendes (MCM), Associação dos Produtores Rurais de Carauari (Asproc), Associação dos Comunitários que Trabalham com Desenvolvimento Sustentável no Município de Jutaí (ACJ), Instituto Juruá, Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB) e Sindicato de Bares e Restaurantes do Rio de Janeiro (SindRio).