FIG 2022

FIG 2022: Coletivo teatral de drag queens acusa festival de censura; organização nega. Entenda o caso

Peça que faria cortejo de drag queens pela cidade de Garanhuns teria sido retirada da programação e reinserida após denúncia do Coletivo Acuenda

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Emannuel Bento

Publicado em 11/07/2022 às 8:38 | Atualizado em 11/07/2022 às 10:55
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Faltando poucos dias para a realização do 30º Festival de Inverno de Garanhuns, o Coletivo Acuenda, composto por drag queens da cidade de São Paulo, publicou uma nota informando que uma peça do grupo havia sido retirada da programação oficial de forma repentina, mesmo após a divulgação completa da grade.

A peça "Cabaré D’água: Nosso Corpo é Político" foi aprovada no edital do FIG e divulgada na programação oficial em coletiva de imprensa, que ocorreu no dia 30 de junho, dentro da sessão "Teatro Alternativo - CPC/SEC" do dia 21 de julho. O espetáculo faria um cortejo de drag queens na cidade de Garanhuns, culminando no espaço de Teatro Alternativo do Sesc.

De acordo com o texto do Acuenda, a Secretaria de Cultura/Fundarpe entrou em contato com o coletivo na última sexta-feira (8) e apresentou a justificativa que "o grupo artístico não deveria ter entrado na programação". Os artistas questionaram o fato da obra ter sido classificada em segundo lugar na Categoria de Teatro ao Ar Livre e, mesmo após documentação em vias de contratação e a logística montada, ser cancelada.

"Perucas compradas, ensaios acontecendo, figurino, prejuízo grande. A funcionária da Secult-PE, Irene Veiga, nos ligou retirando da programação. Não é novidade que em anos de eleições estaduais, para não se desgastar com o público mais extremista, o FIG age cancelando irresponsavelmente os grupos artísticos. O que não é coincidência é censurar corpos LGBTQIA+, como foi o caso da atriz trans Renata Carvalho em 2018", afirma David Costa, ator-drag queen do Coletivo Acuenda.

O caso da atriz trans Renata Carvalho, citado por David Costa, diz respeito ao monólogo "Evangelho segundo Jesus, Rainha do Céu", que foi cancelado após protestos de políticos e setores conservadores - como igrejas. O monólogo propôs uma reflexão sobre a tolerância a partir da seguinte questão: "E se Jesus voltasse à terra como uma travesti?".

José Neto Barbosa, que até pouco tempo foi coordenador de Teatro e Ópera da SecultPE e da Fundarpe, lamentou a situação envolvendo a peça "Cabaré D'Água".

"Sempre defendi pautas julgadas ignorantemente como polêmicas para o público conservador, que infelizmente é maioria na cidade. Ao sair do Governo, deixamos uma programação negociada e um conceito curatorial montado, lamento desmontarem com justificativas que não se sustentam", disse José Neto, que presidiu a Comissão de Análise de Mérito Artístico-cultural de Teatro no Edital e foi do Conselho dos Direitos LGBT do Estado.

O que diz a Secretaria de Cultura/Fundarpe

Em nota divulgada no portal cultura.pe.gov.br e nas redes sociais do FIG, a Secult-PE e a Fundarpe negam que o Coletivo Acuenda tenha sido excluído da grade artística da 30º edição. Eles afirmam que as tratativas se resumiram a solicitações de fins burocráticos.

"O Coletivo Acuenda nunca foi excluído da grade artística da 30ª edição, que segue disponível para consulta pública no portal www.cultura.pe.gov.br. As tratativas se resumiram a solicitação de documentos para confirmação do processo de contratação do referido grupo. A Coordenação Geral do FIG 2022 permanece contando com o Coletivo Acuenda em sua programação", diz a nota.

O coletivo teatral, no entanto, reforça que foi procurado pela pasta para ser informado da retirada da peça da programação. "A funcionária da SecultPE nos ligou retirando da programação. Categoricamente nos informaram que não deveríamos ter entrado na programação", reforçou o coletivo, numa segunda nota.

"Fomos informades ao telefone que a Comissão de Seleção havia se reunido e definido que não participaríamos mais. Apuramos com os integrantes da Comissão e essa reunião não ocorreu. A SecultPE-Fundarpe lançou um nota mentirosa, tentando deslegitimar nossa denúncia, ao dizer que as tratativas haviam se resumido à solicitação de documentações".

O coletivo ainda afirma que o nome da peça foi retirada de um link com a programação oficial, sendo reinserido depois que a nota do grupo ganhou repercussão.

"Lamentamos essa postura e esse desgaste. Falta de transparência e desrespeito no trato com artistas. Não nos falta a verdade e temos como provar. Uma pena que corpos e corpas LGBTQIA+ sempre tenha que seguir o caminho mais árduo e desgastante para estar no Festival e nessas ações do Governo", conclui.

Grupo Agridoce questiona ausência de pessoas trans na programação do FIG

Outros artistas reclamam de terem sido classificados na atual edição do FIG, mas sem contratação. Eles dizem que faltam explicações sobre as contratações do edital. A atriz trans Sophia William do Grupo Teatro Agridoce, por exemplo, opina que falta diversidade.

"Nosso espetáculo TransPassar foi habilitado, mas nem na programação entrou. Não é falta de dinheiro. Se traz vários artistas grandes, inclusive com palco de música gospel, então, não é falta de espaço. A falta de transparência é uma censura institucional, que é mais difícil de ser comprovada", diz.

Já o artista Elias Mouret, residente de Garanhuns, compartilhou nas redes sociais uma carta aberta para reclamar que apenas 40 apresentações são da cidade em uma programação com mais de 800 atrações nacionais. A petição já soma mais de 557 assinaturas.

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