Um dos espaços culturais mais movimentados do Recife na segunda metade do século passado, o Teatro Valdemar de Oliveira, localizado na Praça Oswaldo Cruz, no bairro da Boa Vista, vem sendo palco de uma série de invasões, depredações e furtos nos últimos anos.
O arrombamento mais recente ocorreu neste final de semana, quando foram levadas telhas de amianto. O teto cedeu com as chuvas, o que cria um contexto preocupante para o período do inverno.
A atual fase de degradação começou durante a pandemia, em 2020, quando o espaço do Teatro de Amadores de Pernambuco (TAP) precisou fechar suas portas pela crise sanitária. Logo começaram as invasões e os furtos que impossibilitaram a sua reabertura.
"Mantivemos a segurança eletrônica, as contas em dia e as colaborações dos associados. Nos endividamos, mas o teatro sofreu inúmeros furtos. Ele vem sendo depredado por vândalos", diz Pedro Oliveira, atual presidente do Teatro de Amadores de Pernambuco, ao JC.
"Roubaram, inclusive, todos os troféus dos 80 anos de história do TAP, o grupo teatral mais antigo do Brasil e que fez história de Norte a Sul. Acreditamos que derreteram para vender o cobre. Recentemente, foram dois furtos num intervalo de 20 dias, quando levaram também parte da fiação."
O diretor teatral ressalta que o ponto onde fica localizado o teatro é "maravilhoso", mas que a violência tornou a situação alarmante. "Vários estudantes universitários circulam por ali. O bairro da Boa Vista é importante para a nossa cultura e turismo. Porém, existe uma gangue enorme que vem invadindo prédios públicos, inclusive o próprio Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros (CISAM), que fica na frente. O ideal seria uma guarita da Polícia Militar."
TAP cogita doar o Teatro
Em 2022, a Secretaria de Cultura de Pernambuco (Secult-PE) deu início às tratativas do processo de comodato do Teatro Valdemar de Oliveira ao Governo do Estado.
A proposta inicial era de que o teatro passasse a ser gerido pelo Estado, num sistema de comodato, por um prazo de 19 anos - até 2041, ano em que o Teatro de Amadores de Pernambuco comemora 100 anos. Após esse período, seria feita uma avaliação entre as partes envolvidas para verificar se haveria a continuidade ou não do acordo firmado.
Porém, com o início da gestão de Raquel Lyra (PSBD), o TAP precisaria reiniciar as conversas sobre esse processo. Cristiana de Oliveira, membro do grupo e neta de Valdemar de Oliveira, admite que a associação cogita a doação - que seria mais rápida do que um processo de comodato.
"A situação é desesperadora. Se não conseguimos fazer o teatro funcionar, não conseguimos mantê-lo. Precisamos dele funcionando, mas os problemas de manutenção e as invasões foram o caminho para a destruição. Agora que o teto cedeu, eu só consigo pensar no período das chuvas", diz Cristiana.
"A gente pensa em doar para que alguma instituição do Estado assuma. Sabemos que existe recurso para isso. Que transformem o teatro numa escola teatral, num lugar vivo para formação de emprego, formação de técnicos e tudo o que o teatro engloba. Esse teatro tem fosso de orquestra, piano de cauda e tudo o que é preciso para ser uma escola."
Passado de glória
O atual estado pouco se assemelha ao passado de glória do local, inaugurado em 1971 para ser sede do Teatro de Amadores de Pernambuco, de Valdemar de Oliveira - grupo que tem atividades desde 1941. O Valdemar de Oliveira foi um teatros mais movimentados da capital.
Ele passou por algumas reformas em sua história, sobretudo nos anos 1980, quando sofreu um incêndio. Em 2015, precisou ser fechado para atender a recomendações de segurança do Corpo de Bombeiros e medidas de acessibilidade do Ministério Público.
O Valdemar de Oliveira voltou a funcionar em 2018, quando Yeda Bezerra de Mello, Cristiana de Oliveira, Pedro Oliveira e Patrícia Lobo, descendentes do fundador, assumiram a direção do TAP e foram atrás de doações e parcerias para manter o espaço funcionando. Essa foi a mesma estratégia foi usada por Reinaldo de Oliveira, falecido em 2022, para reconstruir o teatro nos anos 1980.
Foi realizada a campanha "Dê a Mão ao TAP", além de espetáculos como "Bibi em Casa de Ferreira" para angariar fundos.
"É um prédio com mais de 50 anos de existência e que demorou 10 anos para ficar pronto. A diretoria do TAP segurou esse tempo todo e agora estamos gritando socorro. É papel do poder público e das empresas privadas ajudarem para que a sociedade continue usufruindo de um bem tão precioso: o corpo físico e emocional desse teatro", finaliza Pedro Oliveira.