Recife

Com promessas de transformação em centro cultural, casa de Clarice Lispector segue abandonada no Centro do Recife

Residência da escritora está abandonada há décadas no Centro do Recife; Imóvel recebeu projetos para restauro e transformação de centro cultural em homenagem à escritora, mas obras não foram iniciadas

Carol Guerra
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Carol Guerra
Publicado em 26/05/2023 às 12:14 | Atualizado em 26/05/2023 às 12:48
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ANTIGA CASA DE CLARICE LISPECTOR. PRAÇA MACIEL PINHEIRO, 387, BAIRRO DA BOA VISTA. ESCRITORA CLARICE LISPECTOR. - FOTO: Gabriel Ferreira/ Jc Imagem

A casa em que Clarice Lispector viveu durante a infância e parte da adolescência no Recife tornou-se mais um dos inúmeros símbolos de abandono da capital pernambucana. Localizada em frente à Praça Maciel Pinheiro, no bairro da Boa Vista, a antiga residência da escritora  e jornalista ucraniana sucumbe ao esvaziamento e ao esquecimento, sinais perceptíveis por quem transita pelo Centro do Recife. 

Com promessas de reforma e possível transformação em centro cultural, como forma de homenagem à escritora, a estrutura - que está sob a administração da Santa Casa de Misericórdia - caiu em desuso. A porta principal está bloqueada por tijolos, a fachada foi tomada por lixos e pichações, além dos danos à estrutura, como furos no telhado e buracos nas paredes.

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ANTIGA CASA DE CLARICE LISPECTOR. PRAÇA MACIEL PINHEIRO, 387, BAIRRO DA BOA VISTA. ESCRITORA CLARICE LISPECTOR. - Gabriel Ferreira/ Jc Imagem

Em 2020, a Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) encaminhou um pedido de restauro do local, além do pedido para gerir o espaço e transforma-lo em centro cultural. À época, a instituição divulgou que o custo da obra estava orçado em R$ 1,8 milhão, valor que seria adquirido caso o projeto fosse selecionado no edital sobre Fundo de Direitos Difusos, que são recursos voltados para vários segmentos, entre eles o de preservação de patrimônio. A Fundaj venceu a primeira etapa do edital. 

Em visita à sede da Fundação, em 2022, Paulo Gurgel Valente, filho de Clarice, fez um apelo para que a cidade do Recife retribuísse o carinho demonstrado pela escritora ao longo de sua vida e obra. 

"O amor quer correspondência. E o de Clarice pelo Recife já foi declarado em sua escrita. Agora, é a hora da correspondência: Recife acolher Clarice", afirmou Gurgel Valente em reunião com o presidente da Fundação Joaquim Nabuco, em 2022.  


"A casa é de propriedade da Santa Casa de Misericórdia e está protegida legalmente por meio do tombamento provisório em nível estadual pela Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe) e em análise preliminar no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) para tombamento federal. Apesar de sua importância, o imóvel encontra-se abandonado, em avançado processo de degradação e já se constatando perda de elementos arquitetônicos originais", afirmou a Fundaj à época. 

Guga Matos/JC Imagem

Restauro da Casa de Clarice Lispector - Guga Matos/JC Imagem

De acordo o Superintendente da Santa Casa de Misericórdia, Júlio Gil, a Instituição retomou as conversas sobre projetos para a residência. 

"Houve uma movimentação no ano passado por parte da Fundaj, mas os projetos deram uma parada porque a Prefeitura do Recife informou que estava estudando melhorias para o entorno do local, devido ao número de pessoas em situação de rua e até revitalização ali do Centro. Voltaremos a nos reunir na próxima semana para discutir o futuro da casa e saber se a Fundaj ainda tem interesse em continuar com o projeto inicial", afirma Júlio. 

Em nota, a Prefeitura do Recife informou que "a Autarquia de Manutenção e Limpeza Urbana do Recife (Emlurb) mantém equipes fixas e volantes realizando ações de limpeza na Praça Maciel Pinheiro e programam a manutenção e os reparos nestes espaços. Entretanto, muitas vezes, o vandalismo e a poluição dessas áreas são bastante frequentes por parte da população, depredando e sujando o patrimônio público e causando prejuízos para a população".

 

Desde o começo da semana, a reportagem questionou a Fundação Joaquim Nabuco sobre o andamento doodo projetos e a permanência da parceria com a Santa Casa de Misericórida. Até o momento em que esta matéria foi publicada, a Fundação não emitiu um posicionamento. O espaço segue aberto. 

 

CHEGADA AO RECIFE: 

Clarice Lispector chegou ao Brasil em 1922, junto com os seus pais e duas irmãs, onde fez a sua primeira morada em Maceió. A escritora chegou ao Recife aos dois anos e permaneceu até os 14 anos. Na capital pernambucana, se despediu da mãe, que faleceu. Aos 14 anos, desembarcou no Rio de Janeiro, onde se estabeleceu com a sua família.   

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