A migração das atividades portuárias do histórico Porto do Recife, no coração da capital, para Suape, no Litoral do Sul, é envolta de impactos econômicos, urbanísticos e ambientais. A memória do Complexo Industrial Portuário agora se torna mais acessível com a digitalização do acervo do cinegrafista Carlos Cordeiro, que registrou a vida e a paisagem de Suape à época em que começou a ser erguido, nas décadas de 1970 e 1980.
Pertencente ao MISPE - Museu de Imagem e Som de Pernambuco, o acervo é composto por 75 bitolas em Super 8, tipo de filme reversível que foi bastante usado por cineastas pernambucanos no século passado para driblar desafios comerciais.
O projeto resgata parte da história recente do Estado, sobretudo da comunidade local litorânea que passou por fortes transformações desde então; além da própria fase de um momento determinante do cinema local, que foi a produção em Super 8.
A digitalização foi feita pelo Laboratório de Antropologia Visual (LAV), da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), com a Cinelimite, organização sediada em Nova Iorque, percorrendo as etapas do processo, da higienização à pós-produção.
Como assistir
As cerca de quatro horas de filmes digitalizados ficarão à disposição no Mispe, Acervo Público Estadual João Emerenciano e no site do Museu Suape (www.suapemuseu.com.br).
"O conteúdo dos filmes é parte importante da história de Pernambuco, pelo tema, que desperta reflexões a partir da construção do porto e tudo o que isso gerou e, em particular, para a comunidade", diz Alex Vailati, documentarista e professor do Departamento de Antropologia e Museologia da UFPE.
"Outra contribuição é que também fizemos as fichas catalográficas das obras. Elas foram construídas de forma colaborativa, com informações de Carlos Cordeiro, que foi parceiro de Jommard Muniz de Brito em vários trabalhos, e de moradores."
O projeto "Crônicas de Uma Transformação: Preservação do Acervo Fílmico Sobre a Construção do Porto do Suape" ficou em segundo lugar no 7º Prêmio Ayrton de Almeida Carvalho de Preservação do Patrimônio Cultural de Pernambuco, na categoria Acervos Documentais e Memória Cultural. Tem apoio do Governo do Estado, por meio da Secretaria de Cultura e da Fundarpe, via Funcultura (edital do Audiovisual - 2020).
Museu Suape
Os filmes também integram o Museu Suape, iniciativa que envolve uma coleção maior, com fotografias, informações e os vídeos digitalizados. A pesquisa foi iniciada no fim de 2019, ano marcado pela emergência do óleo no litoral pernambucano.
São 15 pesquisadores no time e, só no projeto de digitalização, são mais cinco profissionais, além de Vailati: Júlia Morim (produção executiva e pesquisa), Polly Cavalcanti (museologia) e os pesquisadores Rayana Mendonça, Walter Andrade e Akuenda Translésbicha Buarque de Souza.
"Há muito o que se discutir ainda porque o Porto de Suape está em constante expansão, então as dinâmicas que ocorreram nos anos 70, 80, continuam. Temos uma doutoranda trabalhando no acervo de sete mil fotografias, tiradas nos anos 70 e esquecidas. Estas comunidades perderam muito, dentro de processos políticos e sociais que se sucederam, e as imagens são suporte para estudar isso. Há dezenas de outras histórias que podem ser reveladas a partir do museu", salienta o professor.
Evento de lançamento
A iniciativa chega ao público nesta quinta-feira (1º), no Cinema da UFPE, com exibição de documentário, trechos de obras, e debate reunindo convidados, o realizador e moradores de Suape.
haverá debate com a participação do crítico de cinema, Luiz Joaquim; o coordenador de Audiovisual da Fundarpe, Martin Palácios; o líder comunitário Vila de Suape Rildo Plínio, o cinegrafista Carlos Cordeiro, a museóloga e responsável pela catalogação do acervo, Polly Cavalcanti; o doutorando em arqueologia (UFPE) Lucas Alves da Rocha, o professor Departamento de Cinema da UFPE Paulo Cunha, além do coordenador do LAV e do projeto, o antropólogo Alex Vailati.
"Exibiremos um pequeno recorte do material, um filme que encontramos editado, de 12 minutos, e mais três gravações de três minutos cada uma. Uma delas é uma gravação aérea, outra retrata a visita do presidente João Figueiredo a Suape, e a terceira é uma sequência de uma draga que afundou, entrando no porto", diz Alex Vailati.
SERVIÇO
Exibição de filmes digitalizados do projeto "Crônicas de Uma Transformação: Preservação do Acervo Fílmico Sobre a Construção do Porto do Suape"
Quando: Quinta, 1º de junho, 14h
Onde: Cinema da UFPE (campus universitário)