Anitta deu início a um novo capítulo de sua carreira na última semana com o lançamento de "Funk Rave", uma nova investida internacional que mescla as batidas eletrônicas do funk brasileiro com os da EDM.
Ainda não se sabe qual será o resultado comercial da música, mas a intitulação de "novo capítulo" ocorre por ser o seu primeiro lançamento pela Republic Records em parceria com a Universal Music Latin Entertainment, após uma saída conturbada da Warner Music.
A cantora teceu várias críticas à sua antiga "casa", que não estaria priorizando a sua carreira na gringa. Os fãs também apontavam para uma suposta falta de "liberdade artística", já que o álbum "Versios of Me" teria sido descaracterizado por pressões da gravadora.
Agora, Anitta estaria com mais "liberdade" para apostar no que realmente deseja. Isso soa evidente pela estética do projeto - seja musical ou visual.
"Funk Rave" tem produção de DJ Gabriel do Borel, Diplo e Marcio Arantes, uma mistura que aponta exatamente para um diálogo entre o Brasil globalizado e a música internacional.
Anitta já havia revelado com seria a música em sua apresentação na Cerimônia de Abertura da Final da Liga dos Campeões da UEFA, em Istambul. Também lançou um "desafio" para o TikTok, procurando impulsionar a música através de uma rede decisiva para o sucesso de uma música - foi o TikTok quem ajudou no sucesso de "Envolver", que alcançou #1 no Spotify Global.
Música
Ambas as prévias divulgadas já vinham demonstrando qual seria a sensação de ouvir a música completa: "Funk Rave" deixa a desejar para uma artista que tem planos tão ambiciosos.
A música carece de um refrão realmente pegajoso, ou que ao menos trouxesse toda a malemolência do nosso funk. É curioso como sempre surgem ótimas faixas de funk no Brasil. Elas quase sempre crescem com uma trajetória "orgânica" e conquistam pelos seus improvisos e "invencionismos".
É o caso do sample de música árabe em "Bum Bum Tam Tam", de MC Fioti, ou até o recente "Tá Ok", de Dennis com o MC Kevino Chris, que usa um criativo sample do tema do game "Silent Hill". É nessa "organicidade" que mora a magia do ritmo - assim como ocorre com o brega-funk no Recife.
"Funk Rave" soa muito como outra faixa na qual a artista canta: "Rave de Favela" (feat BEAM e part. Major Lazer & MC Lan), produzida numa parceria Diplo, Tropkillaz e Ape Drums. A proposta de juntar funk e rave, na verdade, não é nova no geral. O problema vai além disso.
Mesmo com o seu poder para escolher produtores, Anitta não consegue traduzir o real potencial do funk para as suas músicas na carreira internacional. Essa, em específico, soa um tanto "fria", como algo calculado para dar certo no mercado. Talvez isso seja explicado pela falta de algo chamado "sensibilidade artística".
Clipe
Gravado numa favela do Rio de Janeiro com direção de João Wainer e Ricardo Souza (e direção criativa da própria Anitta), o clipe também demonstra como Anitta flerta com imaginários internacionais do Brasil.
A sua fotografia é próxima do cinema. Em uma cena, meninos perseguem uma galinha enquanto jogam futebol, fazendo uma referência do clássico brasileiro "Cidade de Deus" (2002), de Fernando Meirelles.
A cantora presta uma merecida homenagem a nomes da terra ao dançar com o Bonde das Maravilhas. O vídeo tem lá sua potência. Contudo, ainda falta, mais uma vez, algum ineditismo. O clipe de "Funk Rave" não difere muito do que a carioca já mostrou em "Vai Malandra", sucesso em parceria com Tropkillaz, ZAAC e DJ Yuri Martins.
Durante as gravações, quando o projeto ainda era "secreto", Anitta foi "flagrada" simulando sexo oral em um ator da figuração do clipe. A cena repercutiu bastante nas redes.
Questionada sobre o clipe por este mesmo JC, durante coletiva realizada no Ensaios da Anitta na Arena Pernambuco, a artista desconversou: "Quem disse que é um clipe? As pessoas falam muita coisa sem saber. Eu estou trabalhando num novo projeto e estou muito empolgada com ele. Mas a internet é assim, né? Infelizmente, eu estou acostumada com isso desde o meu início de carreira". No fim das contas, era um clipe.
Já na época da gravação, estava claro que o sexo oral seria uma tentativa de fazer o clipe ser visto pelo maior número de pessoas possível - até a publicação deste texto, o vídeo contava com 5,3 milhões de visualizações no YouTube.
Sem julgamento moral: é estranho que Anitta precise de uma cena de sexo oral para chamar atenção para um trabalho seu a essa altura do campeonato. O marketing de "polêmica" é bom para o lançamento, mas a música precisa ganhar vida própria para continuar construindo uma história. E é aí que entra a tal da "sensibilidade artística".
No Spotify, por exemplo, "Funk Rave" estreou em #85, caiu para #196 no dia seguinte e já está fora do Top 200. Se a situação não mudar, talvez reste o TikTok para salvar a estreia de Anitta em sua nova gravadora.