CINEMA

Documentário crítico ao BOPE é relançado após polêmicas; sessão no Recife terá debate com diretor

"Por Trás da Linha de Escudos", do documentarista pernambucano Marcelo Pedroso, terá nova montagem lançada em 29 de junho, levantando a bandeira da desmilitarização da polícia

Emannuel Bento
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Emannuel Bento
Publicado em 28/06/2023 às 12:12 | Atualizado em 28/06/2023 às 13:53
SÍMIO E VILAREJO FILMES/REPRODUÇÃO
"Por Trás da Linha de Escudos", do documentarista Marcelo Pedroso, acompanha operações de rotina do BOPE - FOTO: SÍMIO E VILAREJO FILMES/REPRODUÇÃO

Ao assumir uma visão crítica sobre o caráter militar do Batalhão de Polícia de Choque, o filme "Por Trás da Linha de Escudos", do documentarista pernambucano Marcelo Pedroso, chegou a ser retirado de circulação. A decisão ocorreu após estreias nos festivais de cinema de Cachoeira (BA) e Brasília (DF), em 2017.

"Diante do momento histórico que estávamos vivendo, nos pareceu impossível continuar veiculando aquele filme", afirma o diretor e roteirista em narração no início da versão inédita, trabalhada nos últimos anos.

A nova montagem será relançada nesta quinta-feira (29) no Cinema Dragão do Mar, em Fortaleza, e no Cinema da Fundação Joaquim Nabuco, no Recife. Na sexta-feira (30), a sessão do Cinema do Museu, da Fundaj, será seguida de debate com o realizador. Em Maceió, as exibições começam em 6 de julho, no Centro Cultural Arte Pajuçara.

No documentário, o diretor e a equipe acompanham algumas operações de rotina, registram o interior da corporação e os treinamentos no BPChoque (Batalhão de Polícia de Choque), criado em 1980 com o objetivo de controlar distúrbios civis, rebeliões em estabelecimentos prisionais e garantir a segurança em estádios desportivos e em eventos com multidões.

Documentário levanta bandeira da desmilitarização da polícia

SÍMIO E VILAREJO FILMES/REPRODUÇÃO

"Por Trás da Linha de Escudos", do documentarista Marcelo Pedroso, acompanha operações de rotina do BOPE - SÍMIO E VILAREJO FILMES/REPRODUÇÃO

O quarto longa-metragem de Marcelo Pedroso, conhecido por de "Brasil S/A" (2014) e "Pacific" (2009), teve como ponto de partida os embates entre a PM de Pernambuco e os ativistas do Movimento Ocupe Estelita (MOE).

O movimento teve início em 2012, com reintegração de posse do terreno sendo concedida em junho de 2014 no cais da capital pernambucana. O cineasta era um dos militantes da causa. O uso de força naquele episódio, utilizando as armas tradicionais (spray de pimenta, gás lacrimogêneo e balas de borracha), ficou marcado na história recente da militância no Recife.

A pesquisa para realização do filme começou em maio de 2016, e as filmagens aconteceram entre os meses de agosto e setembro daquele ano, bastante simbólico para o Brasil, com o impeachment de Dilma Roussef (PT).

Ao abordar a questão da segurança pública no Brasil, "Por trás da linha de escudos" postula que, ao atribuir à polícia a lógica de um exército, o Estado Brasileiro implementa um aparato de violência voltado para controlar parcelas da população brasileira que são tratadas como "inimigas".

Estes setores da população corresponderiam justamente às camadas periféricas, não-brancas, historicamente desprovidas de direito. O documentário, então, levanta a bandeira da desmilitarização da polícia.

Reconhecidos enquanto sujeitos, os agentes da política são acessados pelo documentário dentro das próprias limitações impostas pelo militarismo. "Ao longo das entrevistas, vai-se constatando a eficácia da doutrina militar em cercear a possibilidade de surgimento de um senso crítico e até mesmo de empatia entre integrantes da corporação", conclui o texto de divulgação do filme.

Nova edição

A decisão por reutilizar o material bruto do longa original em uma nova edição chama atenção para uma característica da obra do diretor e roteirista, que sempre evidencia a potência do documentário e tensiona a relação do olhar do realizador com as imagens do real, provocando questionamentos.

O trabalho de reedição do material foi conduzido por Pedroso e pelo montador do filme, o também realizador Ernesto de Carvalho.

Marcelo Pedroso é cofundador da Símio Filmes, produtora de cinema recifense, e trabalha com audiovisual há 20 anos. Entre as obras que realizou, também estão os longas "KFZ-1348" (2008, Prêmio do Júri da Mostra de São Paulo) e os curtas "Câmara Escura" (2012, melhor filme no Curta Cinema – RJ) e "Corpo Presente" (2011, melhor montagem na Mostra de Londrina).

O diretor é doutor em Cinema pela Universidade Federal de Pernambuco, com pesquisa sobre documentário contemporâneo. Ele atua também como educador, lecionando atualmente na Universidade Católica de Pernambuco e na UniAeso, além de ter dado cursos e oficinas em diversas regiões do país.

A produção de "Por trás da linha de escudos" é assinada por Kika Latache e Lívia de Melo, com fotografia de Luis Henrique Leal, som direto de Rafael Travassos e direção de arte de Carlota Pereira. O longa teve financiamento do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA), Ancine, BRDE e do Governo do Estado de Pernambuco, através do Funcultura - 8° Edital do Programa de Fomento à Produção Audiovisual de Pernambuco.

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